Os principais dirigentes petistas não escondem a satisfação. Estão convencidos de que vão se adonar novamente do Brasil. Eis um aviso sobre o que poderá acontecer após a vitória de Lula.
1 – A nossa política externa será orientada pela estranha ideia de Sul Global.
1.1 – O Brasil não se alinhará à coalizão das democracias liberais contra o neoeurasianismo de Putin (com a invasão da Ucrânia e de outros países do leste europeu) e as pretensões imperiais de Xi Jinping (sobre o Mar da China e Taiwan). O PT não apoiará a resistência ucraniana e nem a independência da democracia liberal taiwanesa.
1.2 – Preferirá fortalecer laços com ditaduras amigas (Cuba, Venezuela, Nicarágua, Angola) e com o eixo das autocracias articuladas nos BRICs (como Rússia, China, Índia) em nome de um realismo político de esquerda.
1.3 – E a propósito de combater o imperialismo norte-americano e o expansionismo da Otan, o Brasil pode se juntar ao bloco antidemocrático da segunda grande guerra fria que se anuncia.
2 – Voltando ao governo federal, o PT espera retomar sua estratégia interrompida pelo impeachment de Dilma (que continuará chamando de golpe): conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido para se delongar no governo.
3 – Sim, eleger Lula, nas circunstâncias atuais, não é tão difícil (considerando que qualquer um é menos pior do que Bolsonaro). Dificílimo será, depois, retirar o PT do poder apenas pelo voto.
3.1 – Só há um caso de um partido neopopulista de esquerda do século 21 que tenha saído do poder apenas pelo voto: a FMLN de El Salvador (que, com a derrota de Salvador Cerén, entregou o governo).
3.2 – Todos os demais não saíram: seja porque viraram ditadores (como Maduro e Ortega), seja porque continuam governando ou voltaram ao governo após breve interregno (como Cristina via Fernandez ou Evo via Arce).
3.3 – Chávez morreu, mas fez seu sucessor Maduro. Correa fez seu sucessor Moreno. Evo sofreu uma espécie de golpe parlamentar (mas voltou por meio do correligionário Arce). Zelaya foi preso (mas voltou por meio da mulher, Xiomara).
3.4 – Lula fez sua sucessora Dilma, que sofreu impeachment. Lugo sofreu impeachment. Funes, que fez seu sucessor Cerén, é a exceção que confirma a regra.
4 – O PT aparelhará novamente o Estado com seus militantes. Instituirá a participação assembleísta e conselhista, arrebanhada e controlada por “movimentos sociais” que atuam como correias-de-transmissão do partido, para subordinar a dinâmica social à lógica do Estado aparelhado.
5 – O PT tentará emplacar sua velha proposta de controle partidário-governamental (disfarçado de social ou civil) dos meios de comunicação profissionais.
6 – Mais cedo ou mais tarde – sim, é apenas uma questão de tempo – a política econômica e de desenvolvimento do país voltará a ser mais estatizante.
7 – Nós, os democratas não-populistas, resistiremos democraticamente a tudo isso.
8 – Haverá também oposição antidemocrática dos populistas-autoritários bolsonaristas – o que pode instalar uma guerra civil fria de longa duração no país.
Claro que, se for o caso, você talvez tenha que votar em Lula no segundo turno para evitar a reeleição de Bolsonaro. Mas fique avisado.
Foto da capa (tirada por ocasião das exéquias de Fidel: Havana, 2016). Na primeira fila, da esquerda para a direita: Wagner Freitas (Presidente da CUT), Lula, Daniel Ortega (presidente da Nicarágua), Dilma Rousseff, Raúl Castro, Nicolás Maduro (presidente da Venezuela) e Evo Morales (presidente da Bolívia). Segunda fila: Guillaume Long (chanceler do Equador), Guilherme Boulos (MTST), Fernando Morais (Nocaute), Monica Valente (secretária de Relações internacionais do PT) e Raúl Guillermo Castro (neto de Raúl Castro). Terceira fila: David Choquehuanca (chanceler da Bolívia), Olímpio Cruz Neto, João Pedro Stédile (MST) e Breno Altman (fundador de Opera Mundi). No alto, Miguel Diáz-Canel (vice-presidente de Cuba, na época: atual ditador), Delcy Rodríguez (chanceler da Venezuela) e Bruno Rodríguez (chanceler de Cuba).