in ,

Um sinal de desconsolidação democrática no Brasil

Segundo o Agregador de Pesquisas do Estadão (que é bem confiável), há 6 meses (em 10/03/2022) Lula tinha 44% e Bolsonaro 26%. Ontem (06/09/2022) Lula tinha os mesmos 44% e Bolsonaro 33%. Sim, todos os democratas sabemos que Bolsonaro deve sair do governo por qualquer meio (constitucional). Isso é um imperativo democrático. Mas é preciso analisar as pequisas sem paixões e preferências. Usá-las para fazer campanha eleitoral – mesmo que em prol do candidato menos ruim – não ajuda a democracia.

Por exemplo, é preciso pensar sobre os dados da pesquisa Genial-Quaest de hoje (07/09/2022) – um instituto também bastante confiável, que faz pesquisas presenciais e adota rigorosamente todos os critérios científicos conhecidos. Por que Bolsonaro – sendo um péssimo presidente, talvez o pior de nossa história – ultrapassa numericamente Lula no Sudeste e no Sul e empata tecnicamente com ele no Centro-Oeste?

E por que a diferença entre os dois cai, em 10 meses, de 27 para 10?

Muitos estão lendo as pesquisas como torcedores. Mas não se trata de ver quem vai ganhar: é óbvio que, mantidas as “CNTP” (condições normais de temperatura e pressão), Lula vence no segundo turno. O que as pesquisas revelam de mais preocupante para a democracia é que a maior parte da PPA (população politicamente ativa) opta por Bolsonaro.

Se Lula for eleito, o será – em grande parte – por quem tem renda familiar até 2 salários mínimos (a metade ou pouco mais do eleitorado total). Isso dá 2.400,00 de renda mensal familiar. Entre quem ganha mais de 2 salários mínimos Bolsonaro arrisca vencer com alguma folga.

Isso deveria ser motivo de profunda reflexão. Todos (ou quase todos) que conseguirmos ler e entender este texto estamos na faixa dos que elegem Bolsonaro. Lula e todos os candidatos do PT estão na faixa dos que elegem Bolsonaro. Todos os jornalistas e analistas que falam e escrevem sobre as pesquisas estão na faixa dos que elegem Bolsonaro. A maioria da PPA (população politicamente ativa) está na faixa que elege Bolsonaro.

A PPA é composta por aqueles que proferem opiniões na esfera pública, comparecem a manifestações, interagem com outras pessoas tentando convencê-las, fazem campanha. Os que apenas votam compulsoriamente compõem uma PPP (população politicamente passiva).

A maior parte da PPA ganha acima de dois salários mínimos e tem escolaridade média ou superior. A maior parte da PPP ganha até dois salários mínimos e tem apenas educação fundamental ou nem isso.

No entanto, como o contingente da PPP representa a metade ou pouco mais do eleitorado total, se Lula perder a imensa vantagem que tem na PPP, empatará ou perderá a eleição para Bolsonaro.

Não adianta tergiversar. É um sinal de desconsolidação da democracia que a maioria das pessoas que atuam politicamente prefira um candidato antidemocrático.

É improvável que a maioria dessa PPA que hoje apoia Bolsonaro venha a desistir de tudo e virar uma PPP se Bolsonaro perder a eleição. É impossível voltar a pasta de dente para dentro do tubo. Ela, ao que tudo indica, vai continuar atuando, fazendo uma oposição antidemocrática ao novo governo. Isso pode instalar no país uma guerra civil fria de longa duração.

A maior responsabilidade pelo que virá a partir de 2023 é de quem, estando na frente nas pesquisas, não propõe uma frente ampla democrática e um governo de coalizão para pacificar o país. Seria mais proveitoso fazer isso do que ficar tentando destruir candidatos da chamada terceira via para manter sua hegemonia.

Como me defino politicamente

Vamos falar a verdade sobre pesquisas eleitorais