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Um talibã bolsonarista em nossas pequenas cidades do interior

Um alerta aos que prezam a democracia. OLHEM AS CIDADES PEQUENAS. Muitas foram tomadas pelo reacionarismo. Há muitas redes articuladas, formadas – em sua maioria – por WhatsApp de vizinhança e de família. É uma espécie de talibã bolsonarista que quase ninguém está vendo.

Já sabemos que o populismo-autoritário infecta, especialmente, as pequenas cidades do interior. Vejam de onde vieram os votos no Brexit, em Trump e em Bolsonaro. E ainda hoje nossas pequenas cidades continuam tomadas pelo bolsonarismo.

Quem são os agentes da infecção bolsonarista nas nossas pequenas cidades do interior? Médicos, policiais, fazendeiros, empresários loucos para subir na vida, políticos tradicionais e trânsfugas carreiristas, pastores neopentecostais e famílias “de bem” que se acham melhores do que as outras.

Sim, médicos que receitam cloroquina e ivermectina, e que fazem pouco caso das medidas sanitárias para conter a pandemia foram – e ainda são – vetores importantes da infecção bolsonarista em nossas pequenas e médias cidades do interior.

Sim, policiais. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 48% dos policiais militares, da ativa ou da reserva, interagiram com páginas de conteúdo bolsonarista em 2021, sendo que 21% estavam em redes consideradas moderadas e 27% publicaram mensagens abertamente golpistas.

Sim, pastores. A última convocação para o 7 de Setembro bolsonarista circulou no WhatsApp na semana passada. São pastores televangelistas e influenciadores digitais. Aparecem no vídeo Cláudio Duarte (Projeto Recomeçar), Renê Terra Nova (M12), Samuel Câmara (Assembleia de Deus em Belém), César Augusto (Fonte da Vida), Silas Malafaia (Vitória em Cristo) e Estevam Hernandes (Renascer em Cristo).

Fazendeiros, sim (não se trata, é claro, do agronegócio de ponta e nem dos agricultores familiares ou cooperativados e sim das oligarquias ruralistas locais sempre presentes no poder político das pequenas cidades do interior). Em 508 a.C. foram os fazendeiros (os membros da aristocracia fundiária) que mais se opuseram às reformas de Clístenes que deram início à primeira democracia em Atenas. É espantoso constatar que não mudou muito em 2021 d.C.

Além do WhatsApp, do Telegram e das mídias sociais (Facebook, Instagram, Twitter etc.), tudo isso é divulgado por rádios. Quem fizer um levantamento das rádios com audiência em cidades do interior que fazem propaganda bolsonarista vai se surpreender. Aliás, virou-mexeu Bolsonaro dá entrevista para algumas dessas rádios desconhecidas (de nós, mas não dos habitantes das pequenas cidades).

Há, por certo, tentativas de reagir. Grupos de esquerda estão querendo protestar contra o governo no dia 7 de setembro. E um grande evento “Fora Bolsonaro” está convocado para 12 de setembro. Porém manifestações contra Bolsonaro nas capitais e grandes cidades não terão rebatimento direto em milhares de pequenas cidades que abrigam núcleos reacionários. O bolsonarismo está capilarizado. Só uma movimentação social molecular pode neutralizar a influência dessas redes necrófilas.

Precisaríamos não de um ou outro movimento episódico, de um ou outro evento, mas de uma grande movimentação continuada, como foi, em 1993-1994, a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Hoje isso seria uma Ação da Cidadania pela Paz e pela Democracia.

Talvez seja o caso de propor um pacto pela democracia local. Bastam uns três agentes democráticos para começar isso em uma cidade. Cada cidade deve fazer suas reuniões e soltar seu manifesto contra o ódio e a guerra que Bolsonaro está querendo instalar.

Poderia começar assim.

Bolsonaro disse ontem: “Enfia a porrada, guerreiro, é isso aí. Com flores não se ganha a guerra não, pessoal. Quando se fala em armamento, quem quer a paz se prepare para a guerra”. Nós aqui da cidade X não concordamos com isso. Queremos paz para trabalhar, viver a vida, criar nossos filhos… O presidente também declarou: “Todo mundo tem que comprar fuzil” e não feijão. Mas queremos feijão e não fuzil. Feijão no prato, vacina no braço e fuzil nas mãos das forças públicas de segurança para nos proteger. Não estamos em guerra com ninguém, a não ser contra a fome, a carestia etc. Viva a Vida, não a Morte.

Algum município poderia começar, colher assinaturas, enviar para a imprensa local, regional e nacional, fazer um outdoor, publicar nas mídias sociais. Se houver adequada difusão, outros municípios aderirão.

Poderia também ser plantado um grande canteiro de flores na praça principal, com uma placa dizendo “Com flores se ganha a paz”. Sei lá… há tantas ideias criativas que podem surgir.

Mas é preciso fazer alguma coisa para conter as forças da morte, lá, no lugar mesmo onde elas estão se nucleando.

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