Os petistas inventaram um truque para enganar os trouxas. Eles adoram, por exemplo, fazer política com os moralistas. Então agora, quando Lula é preso, eles dizem:
“Mas por que Aécio está solto?”
“E Alckmin, por que está tendo tratamento diferenciado?”
A “lógica” cola em mentalidades rudes – aquelas que querem limpar o mundo de uma vez, com grandes vassouradas – porque é simples.
É como se o mundo estivesse eternamente dividido em dois lados em guerra permanente: se bateu em um lado, tem que equilibrar batendo no outro, do contrário é seletividade e perseguição.
Há até um ditado cretino:
“Pau que dá em Chico, dá em Francisco”.
Ocorre que a realidade social não é assim. Não existem apenas dois lados: a sociedade é atravessada por múltiplas clivagens.
Ademais, a situação de quem estava no governo e podia oferecer contrapartidas aos corruptores é muito diferente da situação de quem não estava e não podia “pagar” os bandidos com cargos na Petrobrás ou contratos superfaturados com empreiteiras.
A Lava Jato – e a série ‘O Mecanismo’ do Padilha, como analista um excelente cineasta – contribuíram para passar a ideia de que tudo é a mesma coisa (ou seja, de que há um único mecanismo). É claro que não há.
Quem roubou para financiar um projeto de poder que visa alterar o DNA da nossa democracia ou mesmo para se locupletar não cometeu o mesmo delito de quem aceitou financiamento ilegal de campanha (e quase todos os políticos, direta ou indiretamente, aceitaram “recursos não-contabilizados”).
Tudo é crime! Gritam os moralistas, quer dizer, os impuros que se acham puros. Mas corrupção não é a mesma coisa que caixa 2 (como queriam que acreditássemos Arnaldo Malheiros e Márcio Thomas Bastos, que inventaram a farsa de que “o PT só fez o que todo mundo faz” para livrar a cara de Lula e do PT no mensalão).
Tudo é crime, mas o batedor de carteira da esquina não faz a mesma coisa que os dirigentes da ditadura venezuelana que chefiam o narcotráfico na região para financiar um golpe por dentro no regime.
Tudo é crime, mas a gorjeta que o pequeno empresário paga ao fiscal não é a mesma coisa que a mesada que a Odebrecht pagava às FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
Tudo é crime, mas o suborno do guarda de trânsito não é a mesma coisa que usar empresas estatais para financiar a campanha de Hugo Chávez ou desviar dinheiro público do BNDES para ajudar as ditaduras de Angola e de Cuba.
Se não houver uma gradação dos delitos e das penas de acordo com a sua gravidade (e, inclusive, de acordo com seu efeito deletério sobre a democracia e as liberdades políticas e civis), não poderá haver justiça nem Estado de direito.
Se você não quer ser manipulado, não caia nessa conversa.
Sei que a coisa que um trouxa mais odeia é quando você mostra que ele é trouxa. Mas pense um pouco antes de retrucar que você não tem “corrupto de estimação” (outro meme inventado pelo PT para uso dos trouxas).
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