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Uma pílula de inteligência democrática

Tirar o PT do governo não tem a ver com uma cruzada moralizadora da política. É puro exercício da democracia, ou seja, de desconstituição de autocracia (que é algo infinitamente mais perigoso para a humanidade do que a mera corrupção dos agentes políticos). O projeto do PT não é a corrupção. A corrupção é para financiar seu projeto. E esse projeto é autocratizante. Se o problema central do PT fosse a corrupção, seria o mesmo problema dos outros partidos, inclusive do seu ex-aliado principal, o PMDB. E, em maior ou menor medida, de todos os outros partidos. Se fosse para eliminar todos os corruptos, acabaria a possibilidade de qualquer mediação institucional, por deficit de agentes políticos suficientemente puros. Entendam que isso é um absurdo. Um Péricles (o principal protagonista da democracia ateniense) corrupto é mil vezes – atenção, mil vezes – menos prejudicial à humanidade do que um Leônidas (rei-guerreiro de Esparta) virtuoso (o qual, individualmente, deveria ser mais parecido com o que se chamou de “varão de Plutarco”: mais reto, austero e honesto do que Péricles). No entanto, sob o seu jugo as pessoas não podiam se auto-dirigir a partir de suas próprias opiniões… Por isso nós, os democratas, não somos cruzados, não atuamos como ghostbusters, não assumimos tarefas de fazer limpezas éticas, não queremos consertar o ser humano ou sanear a sociedade segundo um padrão pré-estabelecido de virtude. Existimos e somos apenas para desconstituir autocracia. O problema do PT não é que ele seja corrupto (como também são os demais partidos) ou que tenha exagerado na corrupção e sim que usou a corrupção para enfrear a democracia brasileira, visando conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido.

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