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Vamos falar a verdade sobre pesquisas eleitorais

O Pablo Ortellado publicou um artigo no último dia 10 de setembro, em O Globo, dizendo que atacar pesquisas é tática bolsonarista para contestar resultado da eleição. Claro que é. Mas isso não significa que os institutos Datafolha e Ipec não possam ser questionados.

O Agregador de Pesquisas do Estadão mostra claramente, por exemplo, que os resultados do Datafolha sempre (não uma vez ou outra, mas sempre) estão fora da curva – a favor de Lula – da média ponderada de resultados de 14 institutos diferentes. Confiram:

Existem pesquisas sérias – como a da Quaest, que é presencial e leva em conta rigorosamente os métodos científicos – que não apresentam tais tendenciosidades. Claro que o Datafolha e Ipec não falsificam pesquisas: jogam dentro das margens de erro e vão ajustando seus números em comparação com os resultados de outros institutos ou escolhem bases de dados que favorecem um candidato em detrimento de outros.

O problema é que, jogar com as margens de erro sempre para cima em relação a um determinado candidato, parece suspeito (ainda que estatisticamente justificável). O mesmo se pode dizer da escolha de bases de dados que magnificam categorias onde esse candidato é mais forte. Entretanto, as consequências políticas dessas escolhas arbitrárias podem ser sérias: dois ou três pontos acima (dentro da margem de erro) podem servir para animar campanhas.

O comentarismo político televisivo e o jornalismo virtual e impresso pegam os resultados dos dois institutos (Datafolha e Ipec) e fazem a festa, repetindo sempre as mesmas versões – durante uma semana – de sorte a criar uma realidade, como se as pesquisas retratassem inconstestavelmente o que se passa no mundo real.

Ora, não há a menor dúvida de que o PT usa as pesquisas eleitorais para fazer campanha. Isso não quer dizer que Datafolha e Ipec falsifiquem suas pesquisas. Nem que haja uma conspiração envolvendo esses institutos para favorecer Lula. Significa, apenas, que o PT conta com o jornalismo simpático. O mesmo jornalismo, é claro, que contrata institutos simpáticos.

Não adiante brigar com as pesquisas. O ponto é outro. É o uso jornalístico-eleitoral de resultados de institutos que jogam com as margens de erro sempre para cima em relação a um candidato ou adotam bases de dados que tendem a dar resultados mais favoráveis para esse candidato.

Como Bolsonaro é muito ruim e não pode ser reeleito – o que é verdade e derrotá-lo nas urnas passou a ser um imperativo democrático – alguns meios de comunicação acham que estão desculpados pela tendenciosidade das coberturas eleitorais. Mas isso está errado como jornalismo.

O fato é que – espancada qualquer teoria da conspiração – as pesquisas eleitorais são hoje parte das campanhas, não apenas análises de tendências eleitorais. Sobretudo quando há monopólio (ou duopólio) de empresas contratados pelos grandes meios de comunicação.

O papel hoje de certo comentarismo político é interpretar as pesquisas do duopólio Datafolha-Ipec repetindo que Ciro e Simone não chegarão a dois dígitos e apostando no aumento da diferença entre Lula e Bolsonaro para animar a campanha pela vitória de Lula no primeiro turno.

Segundo Thomas Traumann, “cada empresa de pesquisa usa um critério para estimar os mais pobres e, como sabe-se que Lula tem uma vantagem neste grupo, a decisão termina influenciando o resultado final. Compare os dados”.

Pois é… Os institutos mais simpáticos a um candidato são aqueles que escolhem bases de dados que, entre outras escolhas arbitrárias, superestimam a faixa de renda onde esse candidato é majoritário a ponto de alterar o resultado final.

Existem mais de 14 empresas conhecidas fazendo pesquisas eleitorais quantitativas (Datafolha, Ipec – o antigo Ibope, Quaest, Paraná Pesquisas, Vox Populi, Sensus, MDA, PoderData, Ipespe, Ideia, Futura, FSB, Gerp e Real Time Big Data). As seis primeiras fazem pesquisas presenciais, ou seja, seus entrevistadores abordam as pessoas face a face, na rua ou em suas casas. As sete últimas promovem sondagens por telefone. O MDA usa os dois métodos.

Mas, na prática – do ponto de vista do comentarismo político dos maiores meios de comunicação – há um duopólio: Datafolha-Ipec. Hoje o uso jornalístico-eleitoral dos resultados fornecidos por esse duopólio é o maior ativo da campanha Lula.

Claro que há muitos outros problemas – alguns até mais sérios – com as pesquisas eleitorais. Vale a pena, sobre isso, assistir a conversa de ontem (12/09/2022) entre Daniel Marcelino, Neale El-Dash e Raphael Nishimura, sobre erros em pesquisas eleitorais.

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