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Why Socrates Hated Democracy

Pois é… Mas o autor do vídeo, de certo modo, endossa as opiniões autocráticas – a rigor, meritocráticas – de Sócrates (pelo menos dos Sócrates que conhecemos, como o platônico e o xenofôntico). No entanto, é aí que está o problema. Se os que sabem mais é que devem governar, estabelece-se a separação entre dirigentes e dirigidos, o que inviabiliza a ideia de democracia como um modo de regulação de conflitos baseada na opinião (doxa) e não no conhecimento científico ou filosófico (episteme) ou técnico (techné).

Essa crença continua se reproduzindo até hoje, sobretudo nesses ambientes platônicos que chamamos de universidades (academia). Que são corporações medievais meritocráticas que jamais foram violadas pela ideia de democracia, não no que tange aos ensinamentos ou debates que ocorrem no seu interior e sim no que diz respeito aos seus padrões de organização e às suas dinâmicas de funcionamento.

A crença platônica (e socrática) na república dos sábios enterra de vez as ideias protagorianas e dos sofistas democráticos em geral. Mas a questão que está na raiz dessa confusão é a seguinte: uma rede social (como a conformada na Ágora, na Atenas do século 5 AEC) é capaz de se auto-organizar? Pessoas em interação podem se autoconduzir ou devem sempre ser conduzidas por alguém que tem algum conhecimento superior?

A não ser que se trate de fina ironia, difícil de ser captada, o vídeo chega a ser ridículo quando faz a comparação entre a eleição de vendedores de doces com a eleição médicos. Por que motivo um médico seria capaz de governar melhor do que qualquer um, se quem governava (na democracia dos atenienses) era a Ecclesia e não um ou outro dirigente delegado por ela?

Lamentável!

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