Hoje é dia de votar em Lula para impedir a reeleição de Bolsonaro. Só.
Como disse o Diego Corrêa, no Twitter, a eleição de hoje “não é para abrir a porta do paraíso, é para fechar o portal do inferno”.
Bem-vindos a quatro anos de purgatório. Na melhor das hipóteses.
São 08h35 no momento em que escrevo. A eleição apenas começou. Bolsonaro está com medo de perder (e depois ser preso). Lula está com medo do voto escondido no Bolsonaro. Ninguém está seguro. Sendo assim, parte-se para o vale-tudo, numa tentativa desesperada de falsificar o jogo. Pede-se uma vítima para causar uma comoção que mude o placar. Que não haja vítimas.
Sim, desde ontem os militantes “do bem” se agitavam. Uma vítima, pelo amor de deus! Eis o clamor dos que transformaram a eleição em guerra faltando poucas horas para o início do pleito. Meu clamor aos céus é que nunca mais fiquemos aprisionados numa polarização entre dois populismos.
A operação de reconquistar hegemonia implica sulcar sentidos na opinião pública. Anteontem Lula repetiu que o impeachment foi golpe. Também está dizendo que sua condenação e prisão foram golpes (lembram do “eleição sem Lula é golpe” de 2018?). Qual será o próximo passo?
O próximo passo será dizer que criticar o governo Lula será golpe (equivaleria não aceitar o resultado democrático das urnas). Isso significa salgar o terreno para que dele não possa brotar qualquer oposição democrática.
Significa, além disso, criminalizar e demonizar quem não concorda com o governo. Quem fizer oposição será cancelado como uma espécie de fascista.
O problema é que não existe democracia sem oposição democrática.
Hoje, repito, será o dia de votar em Lula para impedir a reeleição de Bolsonaro. Eu, como futuro fascista (ou golpista), farei isso.
O PT tem uma doentia fixação em golpe. Inventou 7 golpes nos últimos 5 anos. E está a um passo de inventar mais um:
Golpe 1 – O golpe que foi o impeachment da Dilma
Golpe 2 – Todas as condenações de Lula foram parte de um golpe das elites contra o povo
Golpe 3 – A prisão (ilegal) de Lula foi um golpe
Golpe 4 – Eleição (de 2018) sem Lula é golpe
Golpe 5 – O golpe que Bolsonaro daria se não fosse eliminado no 1º turno
Golpe 6 – O golpe que Bolsonaro dará se perder no 2º turno
Golpe 7 – O golpe que Bolsonaro dará se for reeleito
Golpe 8 – O golpe que significará qualquer oposição (mesmo democrática) ao governo Lula.
Não aceito a versão de que Lula foi inocentado pelo STF (que não julgou nenhum mérito), nem por um “tribunal da ONU” (que não existe, para o caso).
Não avalio que o impeachment de Dilma foi um golpe. Foi um processo constitucional que observou todo o rito legal. Foi jogo duro institucional (hardball). Mas jogo duro não é golpe. Todo impeachment é jogo duro. Veja-se o de Collor, que acabou absolvido pelo STF. Ele poderia dizer, com mais razão do que Dilma, que seu impedimento foi golpe. Também não foi.
Não acho que as condenações de Lula (por várias instâncias do judiciário) e que sua prisão tenham sido golpes.
Não penso que a eleição de 2018 foi um golpe (porque Lula estava impedido de concorrer).
Não achava que Bolsonaro daria um golpe de Estado se não fosse eliminado no primeiro turno. Nem acho que ele dará um golpe de Estado se perder no segundo turno.
Não acho que uma oposição democrática ao (provável) futuro governo Lula será golpe.
Mesmo assim, voto em Lula em 2022. Para impedir a reeleição de Bolsonaro. Não porque Bolsonaro dará um golpe de Estado. Mas porque Bolsonaro no governo continuará erodindo nossa democracia numa velocidade muito maior do que Lula seria capaz de fazer.
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