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Por que é necessário parar Bolsonaro

Um resumo em 10 pontos

Com pesar declaramos, 200 dias depois, que acertamos em tudo o que dizíamos sobre Bolsonaro

1 – Bolsonaro não foi nem será desasnado por força das responsabilidades inerentes ao cargo de presidente.

2 – Os militares não colocaram, nem vão colocar, juízo em Bolsonaro (e, na verdade, ao contrário do que se propagou, não têm ascendência sobre ele).

3 – O mercado e seus economistas não domesticaram, nem vão domesticar, Bolsonaro. Ele não está nem aí para as exigências da racionalidade econômica (e, na verdade, ao contrário do que se propagou, Paulo Guedes e sua equipe não têm ascendência sobre ele).

4 – Não existe ala radical ou ideológica do governo. Essa ala é o próprio vértice do governo. Bolsonaro, seus filhos, seu guru e seus sequazes são bolsonaristas, radicais e ideologizados (e têm um projeto antissistema, quer dizer, contra a democracia).

5 – Bolsonaro não é um ente capaz de aprender. Não aprendeu nem vai aprender nada e não esqueceu nem vai esquecer nada. Continua sendo o que sempre foi: um representante, de baixo nível, dos tenebrosos porões da ditadura militar.

6 – Bolsonaro não representa a esmagadora maioria da população brasileira. Sim, talvez 10%, no máximo 20%, dos eleitores de Bolsonaro assinaram uma procuração para ele fazer o que está fazendo. Mas isso representa menos de 6% do eleitorado total do país. Os outros 94% não deram a ele procuração alguma. A imensa maioria dos brasileiros discorda de suas propostas.

7 – Não é aceitável ter um presidente como Bolsonaro. O fato de ele ter sido eleito, por razões circunstanciais, por 39% do eleitorado, não lhe dá o direito de destruir as bases sociais e culturais que permitem a continuidade do processo de democratização. Para ser legítimo não basta a um presidente ter sido eleito democraticamente. É necessário também que ele governe democraticamente.

8 – Bolsonaro não governa democraticamente na medida em que trata o Brasil como se fosse um gabinete parlamentar, seu ou de seus filhos. É mais ou menos o que Edward Banfield e Diego Gambetta – estudando a Máfia – chamaram de “familismo amoral”. Ele acha que, pelo fato de ter sido eleito, pode conduzir o país como uma propriedade privada de sua gangue familiar, a qual ainda quer transformar em dinastia.

9 – Se os brasileiros quiserem continuar vivendo em um regime democrático com características liberais, devem encontrar um meio de parar Bolsonaro e de barrar a escalada do bolsonarismo que está promovendo o avanço de ideias e práticas autoritárias na sociedade. Isso é um imperativo democrático: a menos que mude de comportamento (o que não fará sem forte constrangimento político e social), Bolsonaro não pode continuar no governo – e não porque dará um golpe de Estado (em termos clássicos) e sim porque sua permanência na chefia do governo está corroendo as bases sociais e culturais da vida democrática.

10 – Bolsonaro e o bolsonarismo não podem ser parados apenas pela oposição formal, partidário-parlamentar. É necessário que haja resistência democrática dos cidadãos, em todos os lugares e ocasiões, para colocar – por meios pacíficos e legais – um fim na caminhada insana desse populista-autoritário, que acabará destruindo o que resta de substância liberal na nossa democracia eleitoral. Isso não significa, necessariamente, a sua deposição, mas pode significar criar um constrangimento forte para que ele, Bolsonaro, pare de fazer o que está fazendo e passe a se comportar como um presidente de todos os brasileiros e não como chefe de uma facção.

A cada dia que passa essa destruição aumenta. Os democratas devem avaliar seriamente até que ponto o estrago poderá ser revertido se esperarmos sentados as próximas eleições para trocar o governo.

É possível barrar a manipulação populista das mídias sociais

A extrema-direita está descontente com Bolsonaro? Como, se ele é a extrema-direita?