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Tempestade perfeita: 10 fatores que, constelados, levaram à eleição de Bolsonaro

A eleição de Bolsonaro foi o que alguns analistas chamam de “tempestade perfeita”. Ou seja, não teve uma causa única, como o antipetismo – sempre apontado como “o” responsável pela tragédia. Houve uma constelação fortuita de vários fatores que dificilmente se reunirão novamente.

Vejamos pelo menos dez variáveis (listadas abaixo sem qualquer ordem de importância) que se combinaram para permitir a eleição de Jair Messias Bolsonaro:

1 – A repulsa dos setores médios da população com o hegemonismo, o aparelhamento e a corrupção petistas e a insatisfação generalizada com o desastre econômico promovido pelo governo Dilma.

2 – A indignação da população com a corrupção e o fisiologismo dos políticos, instrumentalizada politicamente pelo lavajatismo militante (explorando o moralismo popular, o ressentimento social, a vontade de revanche e o desejo de vingança) que criou condições para o marketing de Bolsonaro que o apresentava como o único candidato honesto.

3 – A ascensão internacional do populismo-autoritário de extrema-direita que levou ao Brexit, à eleição de Trump e ao protagonismo de forças políticas reacionárias na Turquia (Erdogan), na Hungria (Orbán), na Polônia (Kaczynski), na Itália (Salvini), em Israel (Bibi) etc. permitindo que Bolsonaro surfasse nessa onda (na qual também vêm surfando gente como Anders Vistisen, Andrej Babis, Geert Wilders, Gyöngyösi Márton, Heinz-Christian Strache, Jörg Meuthen, Marine Le Pen, Olli Kotro, Santiago Abascal, Tomio Okamura, Vlaams Belang,  para não citar os euro-asiáticos como Vladimir Putin e os asiáticos, como Rodrigo Duterte e, talvez, Narendra Modi).

4 – A conversão de mais de 90% de movimentos de rua pelo impeachment ou de grupos de combate à corrupção que endeusavam Sergio Moro, em comitês eleitorais de Bolsonaro (como o Nas Ruas e as Repúblicas de Curitiba – seguidores das orientações de Olavo de Carvalho) ou em forças auxiliares do lavajatismo (como o Vem Pra Rua e o site O Antagonista – verdadeiras sucursais ou braços operativos de Deltan Dallagnol, Carlos Fernando e seus comandados ou associados).

5 – O medo da população diante da escalada da insegurança pública, medo que foi estimulado pela campanha de Bolsonaro com propostas simples e erradas (para um problema complexo) como a do armamentismo popular e a da aprovação de leis exterministas, como a licença para matar (que tenta emplacar a legítima defesa preventiva e a justiça policial preemptiva).

6 – O analfabetismo democrático profundo e generalizado da população brasileira: uma parte ponderável das pessoas (embora não majoritária) resolveu apostar num líder forte para botar ordem na casa no grito, não se importando com o fato desse líder ser autoritário, despreparado e mentiroso.

7 – O arrebanhamento e encabrestamento eleitoral da população evangélica por bispos e pastores neopentecostais, fundamentalistas ou vigaristas.

8 – A facada em Bolsonaro, que foi transformado em vítima, herói sacrificado pelo bem da nação e o poupou de participar de debate eleitorais que revelariam seu despreparo completo para ser presidente.

9 – A manipulação bolsonarista (seguindo orientações de Steve Bannon, já aplicadas na campanha do Brexit e de Trump) das mídias sociais (sobretudo aproveitando as falhas de segurança e os erros de desenho do WhatsApp, que permitem o fluxo descendente em árvore e o broadcasting privado) e o uso deliberado, indiscriminado e em escala industrial de difusão de fake news, de bots, de farm-bots e de pessoas-bot (borgs) pagas por empresários inescrupulosos como o Veio da Havan (como a “mamadeira de piroca” e a “fraude das urnas eletrônicas”).

10 – As fragilidades dos candidatos concorrentes, da esquerda à direita: o impedimento de Lula de concorrer, a crocodilagem de Lula com Ciro, o descrédito de Alckmin pelo fato dos tucanos não terem feito oposição para valer ao PT durante uma década, etc.

Não se pode hierarquizar os fatores acima por ordem de importância. Eles formaram uma constelação aziaga. Este é o significado da expressão “tempestade perfeita”.

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