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A chantagem nuclear e a destruição da Ucrânia

A Ucrânia está sendo destruída. Conversa vai, conversa vem, e o ditador Vladimir Putin não para. Ele continua destruindo a Ucrânia.

Ontem (30/03/2022) Zelensky declarou:

“O bombardeio de nossas cidades continua. Mariupol está sob assédio. Mísseis e ataques aéreos não param. Essa é a realidade. Sim, podemos chamar de positivos os sinais que ouvimos da mesa de negociações. Mas esses sinais não silenciam a explosão das bombas russas”.

É óbvio que os países democráticos não devem atacar a Rússia militarmente. Mas também não devem recuar das sanções não militares que aplicaram. Entretanto, por razões estratégicas, não devem deixar a nação ucraniana ser destruída. E, por razões humanitárias, não podem deixar seu povo ser exterminado.

Se os países democráticos recuarem diante da chantagem nuclear do ditador Vladimir Putin estará aberto o caminho para a brutalidade, para o fim de qualquer regulação, para a legitimação da lei do mais forte. É a renúncia a qualquer expectativa de um direito entre as nações.

Seguir a máxima de que “um urso com armas nucleares não pode ser encurralado” significa dar a esse urso o “direito” de encurralar os que não são ursos. No limite obriga a todos a adquirirem garras de urso para lutar com esse urso. Isso vai incrementar a militarização do mundo.

Se as potências ocidentais cederem à chantagem nuclear de Putin, passará a ser um imperativo de defesa de todos os países adquirirem também suas próprias armas nucleares. Vai que o urso russo resolva invadir um país e os demais não possam protegê-lo diante da sua ameaça nuclear.

A intensidade do ‘estado de guerra’ no mundo vai aumentar na razão direta das concessões que as potências democráticas fizerem à ditadura imperialista de Vladimir Putin ao aceitarem sua chantagem nuclear.

Entramos agora no modo recuo contínuo.

Se tropas da OTAN entrarem na Ucrânia eu vou usar armas nucleares. Tudo bem, diz a OTAN, não vamos entrar.

Se os países ocidentais emprestarem aviões de guerra à Ucrânia eu vou usar armas nucleares. OK, dizem as democracias ocidentais. Não vamos emprestar.

Se as nações democráticas dotarem a Ucrânia de um sistema antimíssseis eu vou usar armas nucleares. Fique tranquilo, dizem as nações americanas e europeias. Não vamos fazer isso.

Daí pra frente será o quê? Se municiarem soldados ucranianos com fuzis e cartuchos eu vou usar armas nucleares. Se fornecerem estilingues aos ucranianos eu vou usar armas nucleares…

Entenderam que isso só terá fim com a rendição total e incondicional da Ucrânia?

Tem mais. Se a Finlândia, a Suécia e a Moldávia entrarem na OTAN eu vou usar armas nucleares. Haverá então mais um recuo. A fórmula será tão bem sucedida que depois poderá ser usada com a Finlândia, a Suécia, a Moldávia…

E se Putin ordenasse às tropas russas que matassem todas as crianças ucranianas de 0 a 10 anos? E dissesse: se vocês fizerem qualquer movimento para impedir isso eu vou usar armas nucleares. Essa caricatura é para mostrar que tudo tem limite, até a chantagem nuclear.

Outro exercício de pensamento. E se, no final dos anos 30, Hitler tivesse armas nucleares, os EUA também, mas a Inglaterra não? Os EUA diriam que não poderiam entrar na guerra em defesa da Inglaterra argumentando que se fizessem isso poderia haver uma catástrofe nuclear? É uma mera especulação. No Terceiro Reich, é claro, este artigo não poderia ser publicado.

Meu amigo Eric Vieira diz que Putin tem que ser tratado como um sequestrador (acrescento, um terrorista que fez um sequestro). A ele devem ser aplicadas todas as técnicas pertinentes. Não parar de conversar, tomar todo cuidado para ele não matar as vítimas, mas não aceitar chantagem.

Mas Putin é um sequestrador que está matando as vítimas. Só em Mariupol tem-se notícias de que cerca de 5.000 pessoas, incluindo 210 crianças, foram mortas na cidade depois que as tropas russas atacaram. 90% dos edifícios de Mariupol foram danificados e 40% foram destruídos, incluindo hospitais, escolas, jardins de infância e fábricas.

Entretanto, nunca se viu em toda a história uma máquina de propaganda, contra-informação, difusão de fake news e manipulação da opinião pública como a do ditador Vladimir Putin. Goebbels pareceria uma carmelita descalça perto desses caras. Quem se deixa influenciar por essa propaganda – ou quem a reproduz, como os bolsonaristas e lulopetistas – fica achando que os culpados são Biden e os Estados Unidos.

Sim, é o Biden que está causando todo esse sofrimento ao povo ucraniano ao mandar a OTAN atacar a Rússia, vocês não sabiam? Não restou alternativa ao coitado do Putin a não ser se defender.

Esse Biden poderia parar de bombardear a Ucrânia. Está destruindo a infraestrutura e a economia do país. Está causando milhares de vítimas civis. Que cara cruel!

A esta altura todo mundo que tem dois neurônios (funcionando) já sabe que a guerra de Putin não é contra a Ucrânia e sim contra as democracias liberais. Se as democracias liberais, para se defender, não podem entrar em guerra com a Rússia, só há uma saída: encontrar um jeito de a Ucrânia vencer a guerra. E vencer a guerra, no caso, é fazer Putin se retirar do território ucraniano.

As democracias liberais estão diante do maior desafio da sua história. Precisam encontrar uma maneira de neutralizar a chantagem nuclear. E de garantir que Putin jamais se recupere dessa aventura imperialista na Ucrânia.

Não há nenhuma superioridade moral em ser de esquerda

A tara realista é uma tara estatista