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Opções eleitorais para os democratas não-populistas

Entende-se que, havendo risco real de reeleição de Bolsonaro, se vote em qualquer um (inclusive em Lula, se for o caso) para impedir o desastre. Isso, é claro, se a disputa apertada estiver entre os dois (Lula x Bolsonaro) num segundo turno (a menos que Bolsonaro tenha chances de levar no primeiro turno – o que é improvável).

É um ato de legítima defesa da democracia votar em Lula no segundo turno se o concorrente for Bolsonaro com chances de vencer a disputa. Vota-se num populista que quer manter nossa democracia eleitoral, ainda que dificultando que ela vire uma democracia liberal (Lula), contra um populista que pode matar nossa democracia eleitoral (Bolsonaro) transformando-a numa autocracia eleitoral.

De qualquer modo, o voto democrático (democrático-liberal ou apenas democrático-eleitoral) é o não-voto em Bolsonaro.

Democratas apenas eleitorais são democratas de baixa intensidade. Se forem populistas, serão não-liberais. Ainda assim é preferível eleger um democrata populista (como Lula – que não é liberal) do que eleger um autocrata populista (como Bolsonaro – que é claramente iliberal).

Para entender, na prática, o que isso significa. Nem Bolsonaro, nem Lula, poderiam figurar nessa galeria de chefes de governo de democracias liberais:

Lula estaria mais à vontade em outra galeria. A de chefes de governo de regimes parasitados pelo neopopulismo (o populismo de esquerda):

Bolsonaro, por sua vez, tem seu lugar na galeria dos populistas-autoritários. Abaixo vão apenas seis exemplos:

Voltando, porém, ao tema das opções eleitorais para os democratas não-populistas.

Quem não vota em Bolsonaro no primeiro turno está contribuindo para que ele não passe ao segundo turno.

Se Bolsonaro não tiver chances de vencer no primeiro turno, não é necessário votar em Lula no primeiro turno (sendo Lula o primeiro ou o segundo colocado numa disputa apertada). Num segundo turno entre os dois, a história (como mencionamos acima) é diferente.

As chances de Bolsonaro não aceitar de bom grado o resultado eleitoral e tentar fazer alguma arruaça são altas. Mas as chances de ele dar um golpe de Estado são baixíssimas. De qualquer modo, se ele estiver disposto a tentar um golpe, pode fazê-lo se perder no primeiro turno ou no segundo turno.

Bolsonaro usa o golpe de Estado como tática eleitoral. Lula magnifica a possibilidade de Bolsonaro dar um golpe de Estado também como tática eleitoral: para todo mundo esquecer suas preferências e votar nele (Lula) liquidando logo a fatura.

Se o golpe de Bolsonaro fosse provável, o imperativo seria articular uma grande frente ampla democrática e um governo de coalizão a partir de 2023. Como isso não é provável, a hipótese do golpe virou um truque. Ou seja, Lula quer que todo mundo que é contra Bolsonaro abandone de graça seus projetos para votar nele no primeiro turno, sem qualquer retribuição num futuro governo.

Na verdade Lula não quer barrar golpe de Estado nenhum – que sabe que não haverá. Quer apenas tirar vantagem da situação para voltar ao governo e continuar exercendo o hegemonismo petista, no Estado e em todos os campos da atividade social onde for possível.

Isso, como já vimos, não será bom para a nossa democracia, ainda que seja melhor do que continuar com Bolsonaro.

Mas vamos tentar resumir para esclarecer.

Do ponto de vista da democracia eleitoral, Bolsonaro é uma ameaça. Do ponto de vista da democracia liberal, Lula não é uma boa alternativa. Então vamos lá:

1 – O fundamental é o não-voto em Bolsonaro.

2 – No 1º turno os democratas devem votar no seu candidato (menos no Bolsonaro).

3 – No 2º turno (se Bolsonaro chegar lá), os democratas devem votar no outro candidato (seja quem for, inclusive Lula).

4 – No 2º turno (se Bolsonaro não chegar lá e Lula chegar) os democratas devem votar no outro candidato (ou candidata).

Todavia, dito isso, é óbvio que democratas não-populistas devem preferir candidaturas não-populistas. O voto em uma candidatura não-populista no primeiro turno não é porque essa candidatura teria altas chances de vencer ou para acumular forças para 2026. É porque é a coisa certa a ser feita. Os democratas não-populistas devem se conectar e permanecer articulados para criar uma alternativa não-populista para o Brasil.

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