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O PT e a Irmandade Muçulmana: isomorfismos

Do ponto de vista do reconhecimento de padrões autocráticos, há isomorfismos entre todas as estruturas hierárquicas regidas por modos autocráticos de regulação, sejam religiosas ou laicas, estatais, empresariais ou sociais. Para entender em que sentido o termo ‘isomorfismo’ é empregado aqui – no contexto da análise de inteligência democrática, baseada no reconhecimento de padrões autocráticos – talvez seja necessário ler este texto.

Em alguns casos, todavia, esses isomorfismos são mais evidentes. É o caso dos paralelos entre o PT e a Irmandade Muçulmana.

Nesse sentido, estudar a história da Irmandade Muçulmana no Egito pode ser uma chave para entender o PT. Não que haja relevante proximidade, em termos do conteúdo, entre o que creem e professam os militantes do partido de Lula e Dirceu e os irmãos jihadistas muçulmanos seguidores de Hassan al Banna e, sobretudo, de Sayyid al-Qutb Ibrahim. Mas observando as atitudes dos petistas – em todo lugar – pode-se concluir que o PT corre o risco de virar uma espécie de Irmandade Muçulmana.

Quando o jihadista eleito Morsi foi deposto pela maior manifestação da história universal (em 30/06/2013), a Irmandade deixou de ser um player válido da política, entregando-se a um comportamento de não-reconhecimento, deslegitimação, boicote e sabotagem, tal como está fazendo o PT após o afastamento de Dilma Rousseff.

É claro que existem profundas diferenças entre as duas situações. No Egito não vige um Estado democrático de direito. Morsi foi apeado do poder em razão do movimento rebelde (Tamarod) que colocou nas ruas de todas as cidades do país mais de 20 milhões de pessoas em um único dia. Mas como não havia instituições democráticas para proceder a sua substituição dentro da normalidade constitucional (por assim dizer), a única instituição que detinha de facto o poder nacional (o exército) se encarregou de dar seguimento à voz das ruas. A maioria da população egípcia (incluídos os parentes dos membros do exército, pois de todas as casas saiu, em média, mais de uma pessoa para a mega-manifestação do 30 de junho de 2013, de vez que o Egito só tem 80 milhões de habitantes) não queria viver num estado teocrático (como o Irã) sob domínio da sharia. A queda de Morsi ocorreu porque ele – embora tenha sido eleito – quis se colocar acima da Constituição. Quer dizer, esta foi a gota d’água. Morsi caiu porque a Irmandade Muçulmana violou as regras aceitas pelas pessoas que derrubaram o ditador Hosni Mubarak em 11 de fevereiro de 2011, que não desejavam um novo Faraó.

O excelente filme The Square, de Jehane Noujaim (2013), esclarece bem a situação, afastando as interpretações dos militantes autocratas neopopulistas (que confundem democracia com eleição para usar as eleições contra a democracia) de que teria havido um golpe de Estado dos militares no Egito contra a democracia (quando nunca houve democracia no Egito, desde a época dos Faraós). Bem, depois da deposição de Morsi a Irmandade resolveu tocar o terror e seus membros adotaram comportamentos disruptivos que os colocaram fora do campo da legalidade (da legalidade vigente no Egito, entenda-se bem, mas mesmo assim da legalidade consentida ou assentida pelas pessoas). A partir daí foram perseguidos, presos, condenados à prisão e, inclusive, à morte.

Morsi 3

Não importa que tenha sido eleito: Morsi era um jihadista, um militante da Irmandade Muçulmana. Como tal, tinha um projeto político. E esse projeto político era autocratizante. Podemos encontrar vários isomorfismos entre os comportamentos dos jihadistas da Irmandade Muçulmana e os comportamentos dos petistas. A entrevista concedida pela escritora Alison Pargeter ao jornalista Silio Boccanera para o programa Milênio, da Globo News – que foi ao ar em agosto de 2013 – é reveladora. Segundo ela, uma das principais críticas das pessoas que enxamearam nas ruas pela deposição de Morsi, é que eles (os jihadistas da Irmandade Muçulmana no Egito) aparelharam o Estado com seus militantes, “botando representantes em todo lugar” (assim como fez a Irmandade Muçulmana na Tunísia e a Irmandade Muçulmana na Palestina, chamada Hamas). “Morsi – diz ela – foi acusado de ser o presidente da Irmandade, em vez de presidente do Egito”. Pargeter assinala que eles “foram muito criticados por tentarem mudar a constituição rapidamente, e muitos críticos disseram que isso foi muito tendencioso. Eles não foram consensuais ao lidarem com isso. Outra coisa que incomodou muito foi que, no dia 22 de novembro de 2012, o presidente Morsi passou um decreto se colocando acima da lei, pois o Judiciário não poderia anular nenhuma lei que ele publicasse. Isso enfureceu os egípcios, e muita gente sentiu que o objetivo final da manobra era criar um Estado islâmico”.

Deixando de lado os conteúdos religiosos que diferenciam o fundamentalismo islâmico da Irmandade Muçulmana do fundamentalismo estatista (de raiz marxista) do PT (embora a “teoria” subjacente aos discursos e às práticas petistas seja o resultado de uma fusão entre neomaquiavelismo e gramscismo), passemos agora aos demais isomorfismos. Eles podem ser sintetizados em um parágrafo:

A Irmandade Muçulmana é uma uma força autocrática estatista, politicamente organizada segundo padrões hierárquicos (centralizados), socialmente enraizada, com narrativa ideológica estruturada, com projeto de poder estrategicamente formulado, com militância mobilizada e preparada para perverter a política como guerra, que adotou a via populista de usar taticamente as eleições para chegar ao governo e retê-lo em suas mãos por tempo suficiente para conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do controle do Estado.

Ora, isto é praticamente – sem tirar nem por – uma descrição do PT. Vejamos.

A Irmandade Muçulmana é uma força autocrática estatista

A Irmandade Muçulmana – diz a Wikipedia num verbete mal-redigido ou mal-traduzido – ou “Fraternidade Muçulmana”, (em árabe جمعية الأخوان المسلمون, Jamiat al-Ikhwan al-Muslimun, literalmente “Sociedade de Irmãos Muçulmanos”, conhecida popularmente apenas como الإخوان, Al-Ikhwān, “A Irmandade”) é uma organização islâmica radical, que atua em cerca de 70 países e que pretende “retomar” os ensinamentos do Corão, rejeitando qualquer tipo de influência ocidental.

A Irmandade Muçulmana luta para estabelecer a sharia como base para governos. É considerada a precursora do fundamentalismo islâmico contemporâneo. Ela deu origem a grupos mais violentos – como o Hamas (que é a própria Irmandade Muçulmana na Palestina) e a Al-Qaeda – e tem como objetivo unificar os países de população muçulmana opondo-se às tendências seculares de algumas nações islâmicas (e. g., Turquia, Líbano, Egito, Marrocos) assim como rejeitando as influências Sufi e o chamado “islamismo moderado”. Ela tem origem na mesma seita islâmica radical uaabita, sunita, base da sociedade da Arábia Saudita e que inspirou a milícia dos talibãs (e a rede terrorista Al-Qaeda).

A Irmandade foi fundada em 1928 no Egito, com o objetivo de libertar a pátria islâmica do controle dos estrangeiros e infiéis (kafir) e estabelecer um estado islâmico unificado.

A Irmandade Muçulmana é politicamente organizada segundo padrões hierárquicos (centralizados)

No topo da hierarquia está o “guia supremo”, no Egito atual não se sabe bem qual seja, possivelmente Mohammed Khairat Saad el-Shater (condenado à morte em 16 de maio de 2015), sucedendo a Mohammad Badie (também condenado à morte em 11 de abril de 2015). A liderança executiva é exercida pelo “Conselho de Orientação”, composto de 16 a 19 membros. O guia supremo e os membros do conselho de orientação são escolhidos pelo “Conselho Shoura”, composto por 75 a 90 membros eleitos pelos conselhos regionais de todo o país. Ou seja, há uma espécie de “Partido Interno” (como no 1984 de George Orwell) diferente do partido externo: na base da pirâmide estão os demais membros da Irmandade, que fizeram um juramento para “ouvir e obedecer” à liderança do grupo, configurando estrutura hierárquica rígida. Esses elementos se agrupam em “usra” ou “famílias”, que constituem pequenos grupos de estudo que se reúnem regularmente, possibilitando a construção de laços pessoais, que também levam à integração dos filhos na organização e à promoção de casamentos entre pessoas que pertencem a famílias ligadas à organização.

A Irmandade Muçulmana é socialmente enraizada na sociedade egípcia

Além de recrutar militantes (jihadistas), a Irmandade Muçulmana manteve uma ampla rede de caridade, que incluía a prestação de cuidados médicos gratuitos ou muito baratos, alimentação e outros serviços para os pobres. Durante anos a Irmandade se colocou como defensora dos mais pobres, praticando o assistencialismo. Ela atuou como uma espécie de Estado dentro do Estado, dispensando serviços à população e – quando as condições permitiam, como na sua seção palestina (o Hamas), distribuindo justiça – tendo uma inserção semelhante ao do narcotráfico em algumas favelas do Rio de Janeiro. É significativo que, desde os anos 80, a Irmandade tenha passado a intervir no movimento sindical e a controlar muitos sindicatos. Também se fez presente nas universidades, escolas (madrassas), mesquitas e estabeleceu relações com os setores artísticos e culturais, sempre divulgando taticamente a versão de que não era uma organização dedicada à violência e ao terrorismo, mas sim um movimento pacífico que apenas queria resgatar o que de bom havia na tradição islâmica, respeitando todas as demais religiões e culturas (na mesma linha multiculturalista do discurso petista). Em parte graças a esse enraizamento a Irmandade Muçulmana venceu praticamente todas as eleições que disputou. O problema da Irmandade Muçulmana no Egito não é que ela não tinha base social e votos (elegeu maiorias para o parlamento e até um presidente) e sim que era autocrática!

A Irmandade Muçulmana tem uma narrativa ideológica estruturada e um projeto de poder estrategicamente formulado

A Irmandade – tal como o PT – também é especialista em construir narrativas. As narrativas são uma espécie de antídoto para as análises, sobretudo as narrativas baseadas na emancipação dos pobres contra as elites: tanto faz se essas elites sejam os infiéis, os estrangeiros, os judeus ou os coxinhas e os neoliberais. Funciona da mesma forma quando há sempre uma contraposição com os imperialistas (ou os inimigos, cuidadosamente construídos: a Eurásia x a Lestásia x a Oceânia de Orwell), desde que o mundo possa ser dividido em blocos (pois o fundamental é a manutenção de um estado de guerra).

Mas por trás das narrativas convenientes há um projeto estratégico precisamente formulado. Provavelmente o melhor documento sobre isso, chamado “O Projeto” (em tradução para o inglês de Scott Burguess, que pode ser acessada aqui, juntamente com o original em árabe) foi encontrado, supostamente, em um aparelho da Irmandade na Suíça (há também disponível uma versão em português, de Dionei Cleber Vieira, intitulada O “Projeto” da Irmandade Muçulmana). Ainda que não se possa ter certeza absoluta da autenticidade do texto (e que ele possa ser acusado por alguns de ser uma fabricação dos serviços de inteligência, semelhante aos Protocolos dos Sábios de Sião), nada indica que seja falso. “O Projeto” faz muito sentido quando comparado aos documentos reconhecidos pelos hierarcas da Irmandade. E na verdade não é um material necessário para concluir que há um projeto estratégico: basta ler os textos originais do principal ideólogo da Irmandade Muçulmana, Sayyd Qutb (1906-1966), que teve sua obra traduzida para o farsi pelo próprio Aiatolá Khomeini.

Qtub

A Irmandade Muçulmana tem uma militância permanentemente mobilizada e preparada para perverter a política como guerra

A Irmandade Muçulmana – a despeito de suas declarações táticas para se proteger e ganhar adeptos – é uma organização da jihad (mesmo quando não pratica a jihad ofensiva). Ou seja, é uma organização de militantes: combatentes, guerreiros, estejam onde estiverem, seja ocupando uma praça, seja praticando atentados, seja disputando eleições. Conversar com qualquer militante da Irmandade é como conversar com um membro do partido de Orwell: é um duplipensador, vacinado contra qualquer crítica à organização, não demovível de suas posições pela discussão, imune à análise racional. Suas alegações são extremamente parecidas com as dos militantes petistas nas mídias sociais. Não são capazes de conversar realmente com ninguém: só fazem proselitismo e deslegitimam seus adversários. E repetem, repetem, repetem – ad nauseam – sempre os mesmos argumentos. Os diálogos do militante da Irmandade Muçulmana Magdy Ashour (membro do partido externo) com Ahmed Hassan (participante da Tamarod), no documentário The Square, revelam características da mentalidade (e do comportamento) dos militantes: ” – Por que você veio na manifestação?” – pergunta Hassan; ” – Porque me telefonaram mandando que eu viesse” – responde Magdy. Hassan ia à Praça Tahir com suas próprias pernas e decidia se queria ir ou não. Magdy era arregimentado. Nada diferente de um manifestante que foi à Paulista no dia 13 de março de 2016 cobrando a saída de Dilma e a prisão de Lula comparado a um militante que foi acarreado, para comparecer a uma manifestação chapa-branca de apoio ao governo ou de protesto contra o impeachment, por alguma correia de transmissão do PT (como o MST, o MTST, a CUT ou a UNE). A Irmandade Muçulmana não distribui sanduíches de mortadela e “50 real”, mas a retribuição pela obediência vem por outras formas de apoio social e auxílio em serviços básicos, além da “pegajosidade antropológica” e o medo de “ficar mal na rodinha” que também caracterizam os militantes petistas (que por isso continuam petistas, mesmo depois da descoberta dos grandes crimes cometidos por seus líderes).

Hassan

A Irmandade Muçulmana – após décadas de perseguição e vida clandestina – adotou a via populista de usar taticamente as eleições para chegar ao governo e retê-lo em suas mãos por tempo suficiente para conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do controle do Estado

Grande parte da vida da Irmandade Muçulmana passou-se na clandestinidade e sob ditaduras. Um projeto autocrático (ditatorial) precisa ser gestado sob os sofrimentos de uma ditadura: por enantiodromia, ditaduras geram ditaduras. Esse período de clandestinidade foi mais importante do que se pensa para forjar o tipo de “organismo social” que hoje conhecemos como A Irmandade. A mesma função foi cumprida pela luta pregressa dos militantes de esquerda que fundaram e dirigiram (e dirigem até hoje) o PT (sim, muito do comportamento petista atual replica padrões que foram tecidos sob a repressão, na escuridão dos porões onde se escondiam ou das prisões em que eram torturados os militantes da ALN, da Colina, da VAR Palmares, da VPR, do MR8, do PCdoB, do POC, da POLOP et coetera). O “DNA” de um grupo autocrático precisa ser forjado na sombra e sob forte pressão pela sobrevivência, para ser capaz de gerar a quantidade necessária de amargor. É preciso uma, duas, várias derrotas para subir à cabeça de um número suficiente de militantes de modo permanente. É preciso que um ressentimento infinito tome conta da alma de jovens militantes de uma maneira totalizante… até que tudo, absolutamente tudo, vire luta: (de classes ou de religião, tanto faz, desde que se expresse como) guerra. Na verdade é necessário um contingente de militantes que nunca tenha vivido muito tempo em paz. E que nunca tenha completamente abandonado os hábitos de ser clandestino (a partir da avaliação de que se os inimigos identificarem a tentativa de constituir um núcleo revolucionário, matarão a iniciativa no embrião). Depois, o martírio cria os monstros.

Uma estratégia de conquista de hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido, nunca poderia ter nascido à luz do sol. A ideia de um Partido Interno como núcleo duro de um partido externo também não. O mesmo pode-se dizer da ideia da organização revolucionária como uma cebola: camadas envolvendo camadas, envolvendo camadas…

Mas, o padrão – sim, o que importa é o padrão que, como dizia Norbert Wiener (1950), é uma mensagem e pode ser transmitido como tal – vai se replicando. No caso da Irmandade Muçulmana os espectros dos mortos Hassan al Banna, Sayyd Qutb e centenas de outros, assim como, no caso do PT, os de Che Guevara, David Capistrano, Mario Alves, Joaquim Câmara Ferreira, Carlos Marighella e Carlos Lamarca (embora todos esses tenham desaparecido da Terra – mas não da mente de seus dirigentes – antes da fundação do partido), continuam então, como um pesadelo, assombrando o cérebro dos vivos que querem viver na democracia.

RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 31-07-1964: Carlos Marighella, deputado federal, líder comunista e fundador da Ação Libertadora Nacional, que morreu assassinado em emboscada preparada pelo DEOPS (Departamento de Ordem Política e Social) no dia 04 de novembro de 1967. (Foto: Braz Bezerre/Agência Jornal do Brasil) *** NÃO UTILIZAR SEM ANTES CHECAR CRÉDITO E LEGENDA***

A Irmandade já era – sempre foi – uma organização política. Mas logo após a queda de Mubarak (em 11 de fevereiro de 2011), ela organizou o seu primeiro partido político legal, o PLJ – Partido Liberdade e Justiça, liderado por Mohamed Morsi.

Nas primeiras eleições parlamentares, após a queda de Mubarak, o PLJ ganhou quase metade dos assentos na Assembleia do Povo (e lançando mão de alianças com outros grupos islâmicos, conquistou maioria na constituinte). Em 2012, Mohammed Morsi, presidente do PLJ, venceu as primeiras eleições presidenciais no Egito. Com 51% dos votos no segundo turno, derrotou Ahmed Shafiq, ex-comandante da Força Aérea. Morsi procurou tranquilizar os adversários, declarando que, como presidente, queria construir um “Estado democrático, civil e moderno” que garantisse a liberdade de religião e o direito de protesto pacífico.

A plataforma oficial do PLJ declarava que o Egito deveria ser um “estado civil democrático, com uma base islâmica”, que aceitava os preceitos da democracia liberal, como a existência de eleições livres, a alternância de poder e a soberania dos órgãos eleitos no estabelecimento de leis. Era uma espécie de “Carta aos Egípcios” (meio isomórfica à famosa “Carta aos Brasileiros” que Lula forjou para conseguir vencer as eleições de 2002 no Brasil).

Mas, durante a elaboração da Constituição pós-Mubarak, juntamente com outros muçulmanos, Morsi incluiu cláusulas prevendo que as leis aprovadas pelo parlamento não poderiam contradizer a sharia (lei islâmica). Com efeito, em novembro de 2012, ainda durante a elaboração da nova constituição do Egito, Morsi emitiu uma declaração constitucional provisória que concedeu amplos poderes a si mesmo, o que gerou grandes protestos. Após dias de protestos, Morsi cedeu à pressão e reduziu o alcance da declaração controversa. Ao final do mês de novembro, a assembleia constituinte encerrou os trabalhos, aprovando um texto questionado por liberais, secularistas e pelos cristãos coptas, que alegavam que a carta não protegia a liberdade de expressão e de religião.

Diante de grandes protestos contra o texto aprovado, Morsi exarou um decreto autorizando as Forças Armadas a proteger as instituições nacionais e os locais de votação para a realização de um referendo sobre a nova constituição, que foi realizado em dezembro de 2012 e aprovou o novo texto.

No final de abril de 2013, teve início o movimento rebelde de oposição popular que culminou com a maior manifestação da história humana em 30 de junho. No dia 1º de julho, a cúpula dos militares deu um ultimato para que Morsi atendesse às demandas da população dentro de 48 horas e acabasse com a crise política. Mas a Irmandade, pelo contrário, organizou uma resistência autocrática, montando com seus militantes um acampamento na Praça Nahda, junto à Mesquita Rabaa al-Adawiya. No dia 14 de agosto, depois de semanas de impasse, as forças de segurança invadiram o acampamento de protesto e impuseram um estado de emergência nacional. A Irmandade passou então à ação direta, atuando fora da legalidade e cometendo atentados, como o de dezembro de 2013, contra um quartel da polícia na cidade de Mansoura, no Delta do Nilo, que causou 16 vítimas fatais e mais de 100 feridos (assumido – não se sabe se realmente ou para disfarçar, já que a Irmandade negou a sua autoria – por um grupo ligado à Al-Qaeda). O regime culpou a Irmandade e classificou-a como uma organização terrorista.

Conclusão

É claro que a comparação feita neste texto é alegórica. Bate na canga para o boi ouvir. Mas quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

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