Bolsonaro não quer perder a eleição para dar um golpe de Estado. Ele quer ganhar a eleição para continuar mantendo o país em ‘estado de golpe’, erodindo a democracia.
A ameaça de golpe é para mobilizar suas forças e para escalar a polarização a tal ponto que aumente suas chances, hoje ainda improváveis, de uma vitória eleitoral em 2022.
O bolsonarismo ainda não dispõe de um contingente político-militar suficiente para dar um golpe à moda antiga, com tanques nas ruas. Se dispusesse, não denunciaria as urnas eletrônicas e sim criaria um pretexto para cancelar ou adiar o pleito.
É por isso que Bolsonaro ameaça não reconhecer o resultado das eleições. Porque seu caminho passa pelas eleições. Porque o bolsonarismo, embora seja uma força política autocrática muito perigosa para a democracia, só consegue por enquanto erodí-la processualmente, não abolí-la.
Nenhum líder populista-autoritário deu um golpe à moda antiga, com tanques nas ruas. O objetivo do populismo-autoritário é corroer a democracia por dentro, não derruí-la a partir de um ataque de fora. O populismo-autoritário quer manter o regime eleitoral, não suprimí-lo. Ele quer transformar democracias liberais em democracias (apenas) eleitorais e, em seguida, transformar democracias eleitorais em autocracias eleitorais.
Erdogan deu um golpe à moda antiga? Orbán deu um golpe à moda antiga? Trump deu um golpe à moda antiga? Le Pen está tentando dar um golpe à moda antiga ou, como os demais mencionados, está concorrendo à eleições? E Salvini? E Farage?
Pode-se retrucar que Bolsonaro é mais rude que seus equivalentes na Turquia, na Hungria, nos Estados Unidos, na França e no Reino Unido. Mas a questão não é que ele não gostaria de tentar dar um golpe e sim que ele, mesmo que quisesse, não teria como consumá-lo e mantê-lo. Aliás, foi por isso que o populismo-autoritário adotou a via eleitoral.
Não entendendo isso ou entendendo, mas agindo desonestamente, o PT quer aplicar um truque no eleitorado. Faz terrorismo retórico com o golpe fascista – que seria iminente – para impedir que surja qualquer alternativa que dificulte o exercício do seu hegemonismo.
Todo mundo unido contra o fascismo. Mas só vale se for sob a chefia de Lula. Quem discordar é porque é fascista. Dá vontade de dizer: tomate cru, filho de Putin!
Basta, entretanto, perguntar. A probabilidade de Bolsonaro vencer no primeiro turno é maior do que a de perder? Não? Então parem de tentar nos enganar.
Sim, basta perguntar. Se Lula for eleito no primeiro turno, Bolsonaro não poderá tentar dar um golpe? Só fará isso se perder no segundo? Não? Então parem de tentar nos enganar.
Todo mundo falando do golpe de Bolsonaro de não aceitar o resultado das urnas. Alguns espertos, porém, estão dizendo que Bolsonaro só tentará fazer isso se perder no segundo turno. Se perder no primeiro, tudo bem. Por isso devemos abrir mão de qualquer candidatura não populista.
A alegação de que Bolsonaro não tentará dar um golpe se for eliminado no primeiro turno porque não aceitar o resultado eleitoral de 2 de outubro significaria anular o mandato de todos que foram eleitos é falsa como uma nota de R$ 13,00. Bolsonaro pode sempre dizer que só ele foi roubado.
Além disso, se ele pretende dar um golpe porque não aceita sair do governo, por que não tentaria dar se perdesse no primeiro turno, tendo de qualquer jeito de sair do governo?
E se fosse assim Bolsonaro também não tentaria dar um golpe se perdesse no segundo turno, porque não aceitar o resultado eleitoral de 30 de outubro significaria anular o mandato de todos os governadores que venceram no segundo turno.
O argumento, ou melhor, a alegação, não se sustenta. É um truque barato cujo objetivo é impedir que uma força democrática não-populista cresça e apareça.
A ameaça de golpe é uma estratégia eleitoral, tanto do bolsonarismo, quanto do lulopetismo.


