De onde surgiu essa invenção perversa chamada “Civilização Ocidental Judaico-Cristã” repetida agora por anticomunistas, antiglobalistas, conspiracionistas, populistas-autoritários de extrema-direita (incluindo Jair Bolsonaro, seus filhos, seu guru e seus sequazes)?
Até os seguidores de Dugin – neoeurasianistas que também são meio malucos, mas neste caso não sem certa razão – afirmam que não existe judaico-cristianismo, nem civilização judaico-cristã. Eles argumentam que “o embusteiro-mor e líder de seita brasileiro, Olavo de Carvalho, mais conhecido pela alcunha Sidi Muhammad nos círculos esquisotéricos do Brasil e do mundo, é fissurado pela noção de “valores judaico-cristãos”, “civilização judaico-cristã”, “judaico-cristianismo”. Ele não é o único. Este conceito é extremamente popular entre um grupo específico de pessoas, os neoconservadores, os quais em sua maioria são judeus sionistas ou cristãos neopentecostais sionistas, e estão ligados ao “Deep State” americano, que controla a sua política externa e seu setor de inteligência”.
Deixando de lado mais essa conspiração, desta feita aventada pelos seguidores duginistas, é óbvio que houve nos Estados Unidos uma urdidura teológico-política para inventar a tal “civilização ocidental judaico-cristã”. E também é fato que os neocons, os conspiracionistas antiglobalistas que frequentam as estrebarias mentais de Steve Bannon e outros autocratas que estão promovendo no mundo a expansão do populismo-autoritário de extrema-direita, adotam essa falsificação como narrativa ideológica capaz de embasar seus projetos políticos. Até mesmo no Brasil, Bolsonaro e seus filhos – acatando orientação de Olavo de Carvalho – repetem a ladainha. E as bases religiosas, evangélicas, do bolsonarismo, aderiram a essa narrativa movidas, provavelmente, pela teologia dispensacionalista, que – em uma de suas vertentes mais influentes na atualidade – tenta antecipar a volta de Cristo por meios políticos.
Os olavistas no governo Bolsonaro creem que há um deus que intervem na história e na política. Seria aquele mesmo deus exaltado por Donald Trump no seu discurso inaugural (talvez escrito por Steve Bannon ou algum de seus sequazes) pronunciado em Varsóvia em 6 de julho de 2017. E que esse deus tem um plano para a salvação das almas que passa, necessariamente, pelo fortalecimento da nação. Daí o nacionalismo que encara todo globalismo (inclusive o que levou à fundação de instituições internacionais como a ONU e outros organismos multilaterais) como maligno. O mal a se combater seria, portanto, o globalismo (supostamente defendido pelo comunismo internacional e pelos capitalistas sem-pátria, como George Soros, alinhados ou não à articulações como o Clube de Bildeberg, a Trilateral e, em algumas versões mais piradas, os Illuminati).
Na verdade, a própria ideia de “civilização ocidental” é um construto sem justificativas históricas. O que se chama de civilização é a civilização patriarcal, na qual ainda vivemos no que se convencionou chamar de história (para separar o que surgiu com o Estado-Templo-Palácio e a escrita, na Mesopotâmia antiga, das sociedades anteriores: fossem as aldeias agrícolas neolíticas, as tribos paleolíticas, os povos nômades pastores, os grupos de coletores e caçadores). O que caracteriza uma civilização é uma cultura que reproduz um modo-de-vida. A civilização patriarcal reproduziu um modo-de-vida ou de convivência social que erigiu e replicou padrões de organização hierárquicos regidos por dinâmicas autocráticas de regulação de conflitos. Fundamentalmente, uma cultura guerreira.
Esta é a civilização (que até poderia ser chamada de militarização): a única existente há 5 ou 6 mil anos, tanto no Oriente, quanto no Ocidente. A tal civilização ocidental é, portanto, uma invenção. A civilização ocidental-cristã também é uma invenção: uma narrativa ideológica que foi funcional para a expansão da cristandade. Mas a civilização ocidental judaico-cristã é uma perversão muito mais perigosa.
O MITO DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL JUDAICO-CRISTÃ
Um estudioso do judaísmo, Adam Zagoria-Moffet, publicou há alguns anos um interessante artigo sobre o tema, que reproduzimos abaixo.
O Mito da Tradição Judaico-Cristã
Adam Zagoria-Moffet, State of Formation (07/04/2014)
Adam Zagoria-Moffet is a rabbinical student at JTS where he is also pursuing an MA in Jewish Mysticism. Adam’s interests lie in the convergence of mysticism and ethics. Find him at kabbalunch.com or on twitter at @azagoriamoffet.
Nos Estados Unidos, é comum escutar referências frequentes e apaixonadas ao conceito de uma cultura, ética ou valores “judaico-cristãos”. Qualquer resenha simplista da mídia americana demonstrará que o conceito é usado em ambos os lados do corredor proverbial – este ideal nebuloso judaico-cristão é evocado na defesa tanto da agenda liberal quanto da agenda conservadora de forma rotineira. Raramente esta fusão entre Judaísmo e Cristianismo parece ser questionada. Com muita frequência, ela é vendida como sendo representante do sistema de crenças dos fundadores da América (os quais eram, de fato, totalmente idiossincráticos em suas doutrinas religiosas). Apesar de sua onipresença no discurso político, acredito que o conceito da tradição judaico-cristã é bizarro, impreciso e, o mais importante, perigoso.
Vamos começar com o bizarro: apesar de o termo ter aparecido pela primeira vez em meados do século XIX, ele somente ganhou sua implicação atual – qual seja, de um sistema de valores e moral compartilhado – nos anos 1940. O presidente Eisenhower tornou o conceito um termo comum quando ele conectou-o com os “Pais Fundadores” em um discurso de 1952:
“Todos os homens são dotados pelo seu Criador.” Em outras palavras, nossa forma de governo não tem sentido a menos que ele seja fundamentado em uma fé religiosa profunda, e não me importo qual seja ela. Entre nós, é claro, é o conceito judaico-cristão, mas pode ser uma religião onde todos os homens sejam criados iguais”.
Para o astuto estudioso de História, a declaração do presidente Eisenhower parece incrivelmente bizarra sob a ótica do equilíbrio das relações judaico-cristãs. Não há praticamente nenhum precedente qualquer para o Judaísmo e o Cristianismo compartilharem um núcleo comum de crenças, práticas ou moral. Além disso, há um bom argumento a ser feito que a fundação completa da Civilização Ocidental (que é mais ou menos contérmino com a Cristandade) é baseada em oposição ao Judaísmo e aos seus valores (por exemplo, o trabalho de David Nirenberg, “Antijudaísmo: a Tradição Ocidental”). A história excessiva da violência religiosa cristã contra os judeus, da Antiguidade até os tempos atuais, incluindo libelos de sangue, as Cruzadas, pogroms, expulsões e queima de livros, todos testemunham a rejeição altamente enraizada e ódio aos judeus pelos cristãos. Mesmo proeminentes pais da Igreja João Crisóstomo e Tertuliano[1] definiram o Cristianismo como a antítese do Judaísmo. O texto infame de Crisóstomo Adversus Judaeos contém a seguinte pérola:
“O povo judeu foi movido pelo seu alcoolismo e sua obesidade à maldade suprema; eles se esquivaram, eles falharam em aceitar o comando de Cristo nem eles aceitaram seguir Seus ensinamentos. Um profeta deu a entender isto quando ele disse: “Israel é tão obstinado e teimoso quanto uma novilha.” Apesar de tais bestas serem despreparadas para o trabalho, elas são preparadas para matar. E isto é o que acontece com os judeus: enquanto eles mesmos tornam-se despreparados para o trabalho, eles se preparam gradativamente para o massacre. Por este motivo Cristo disse: “Mas quanto a meus inimigos, que não querem ver-me reinando sobre eles, traga-os aqui e matem-nos diante de mim.” (Lucas 19:27) [2].
Lendo as declamações de Adversus Judaeos, é difícil de imaginar como qualquer um pode imaginar que possa haver uma concepção preexistente de uma visão judaico-cristã compartilhada do mundo. Além da natureza bizarra de tal afirmação, ela é também chocantemente imprecisa. O sistema de valores judaico-cristãos que os comentaristas políticos americanos adoram fazer referências não tem nenhum precedente na história (de fato, o extremo oposto), mas ele também não tem fundamento nos sistemas teológicos e éticos das duas Fés. Os defensores do uso do termo “judaico-cristão” como um adjetivo aceitável falham no núcleo de seu argumento – que o Judaísmo e o Cristianismo compartilham valores comuns – é essencialmente mentiroso.
É impossível comparar adequadamente dois sistemas teológicos extremamente desenvolvidos – nem mesmo em um trabalho de muitos volumes, imaginem em uma postagem de blog. Em nome da brevidade, simplesmente considere alguns princípios básicos de cada Fé. Lei, salvação, pós-vida, pecado, hierarquia, ritual, monoteísmo – mesmo crença, fé e prática – quase todo componente de uma autêntica prática cristã e uma autêntica prática judia diferirá em um modo elementar. Se desejarmos sermos precisos (o que deveria ser), simplesmente não tem nenhum sentido considerar Judaísmo e Cristianismo como compartilhando a mesma visão sobre Deus e o mundo.
Mais importante, o conceito de um sistema de valores judaico-cristãos é perigoso. Antes que se pense que os dias da teologia supersessionista passaram[3], a fascinação contemporânea com a fusão do Judaísmo e o Cristianismo pode ser entendida como uma continuação das primeiras tentativas supersessionistas. Stephen Feldman coloca bem a questão da seguinte forma:
“Para os cristãos, o conceito de uma tradição judaico-cristã sugere confortavelmente que o Judaísmo progride em direção do Cristianismo – que o Judaísmo está de alguma forma completado no Cristianismo. O conceito de uma tradição judaico-cristã flui da teologia cristã da supersessão, onde a Aliança Cristã (ou Testamento) com Deus substitui a Aliança com o povo judeu. A Cristandade, de acordo com este mito, reforma e substitui o Judaísmo. O mito portanto implica, primeiro, que o Judaísmo precisa de reforma e substituição, e segundo, que o judaísmo moderno permanece simplesmente como uma ‘relíquia’. Mais importante ainda, o mito da tradição judaico-cristã obscurece insidiosamente as diferenças reais e significativas entre Judaísmo e Cristianismo.”
Fundir Judaísmo com Cristianismo no modo que vemos hoje na América é simplesmente o meio polêmico de eliminar o Judaísmo e definir o mundo ocidental como aquele que conquistou o Judaísmo.
Mesmo que fossemos da opinião que é produtivo e sábio falar a respeito de uma cultura interreligiosa compartilhada, ela não seria definitivamente Cristã ou Judia. Onde tal coisa fosse um conceito útil, a única encarnação potencialmente precisa, seria uma cultura judaico-mulçumana. O Islã e o Judaísmo na verdade compartilham conceitos básicos sobre lei, comportamento, fé, natureza de Deus, obrigações das pessoas, governança da sociedade, etc. Há algumas exceções notáveis para suas tradições surpreendentemente semelhantes, mas no geral sua moral, ética e valores são consideravelmente mais semelhantes do que diferentes. E elas são certamente mais semelhantes entre si do que em relação ao Cristianismo. Mesmo Slavoj Zizek em “Uma Olhada nos Arquivos do Islã” escreve:
Falamos geralmente de uma Civilização Judaico-Cristã – talvez, já chegou a hora, especialmente em virtude do conflito no Oriente Médio, de falar de uma civilização Judaico-Mulçumana como um eixo de oposição à Cristandade.
No final, nenhuma tentativa de tratar duas culturas diferentes como uma única é produtiva ou prática – mas se o fizermos há poucos motivos (exceto do supersessionismo e antijudaísmo) de tentar fundir Cristianismo e Judaísmo. Quando falamos de uma civilização judaico-cristã, diminuímos e colocamos em risco tanto o Judaísmo quanto o Cristianismo, e não fazemos nenhum favor a elas ao continuar acreditando em tal ideia.
Notas
[1] João Crisóstomo (c. 347 – c. 407), Patriarca de Constantinopla, é conhecido como um pregador, teólogo e liturgista. João é conhecido por ser contra o abuso da riqueza, pela defesa do auxílio aos pobres, pela veneração e sua relação com o Papa Inocêncio I é um exemplo do primado papal. Quinto Setímio Florente Tertuliano (em latim: Quintus Septimius Florens Tertullianus; c. 160 – c. 225), se converteu ao cristianismo antes de 197, foi um escritor prolífico de apologética, obras teológicas e ascéticas. Ele era filho de um centurião romano. Tertuliano era um advogado em Roma.
[2] O verso é parte de uma parábola que Jesus ensinou. A parábola parecia querer ensinar sobre o Julgamento de Deus nesta questão. Ela não sugere que o governo dos homens deveria sequer seguir este caminho. Jesus apenas usa o que poderia e frequentemente acontecia para ilustrar um aspecto do governo supremo de Deus. Ver Lucas, Capítulo 19, versículos 11 a 27.
[3] A teologia da substituição (também conhecida como supersessionismo) essencialmente ensina que a Igreja substituiu Israel no plano de Deus. Os aderentes à teologia de substituição acreditam que os judeus não sejam mais o povo escolhido de Deus e que Deus não tenha planos futuros específicos para a nação de Israel. Todas as opiniões diferentes do relacionamento entre a Igreja e Israel podem ser divididas em duas áreas: ou a Igreja é a continuação de Israel (Teologia da Substituição / Teologia do Pacto), ou a Igreja é completamente diferente e distinta de Israel (Dispensacionalismo / Pré-milenismo).
O DISPENSACIONALISMO COMO FUNDAMENTO TEOLÓGICO-POLÍTICO
Talvez a base teológica para o reflorescimento dessa ideologia judaico-cristã tenha sido fornecida pelo chamado dispensacionalismo.
Marcos Amado, em artigo no Martureo, Movimento Missionário Global, tentou mostrar as consequências desastrosas do dispensacionalismo para a paz.
A Política Internacional, as Ramificações do Pensamento Dispensacionalista Radical e a Ausência de Paz no Oriente Médio
Marcos Amado, Martureo (08/12/2017)
O dispensacionalismo é um sistema teológico bastante criticado. Não obstante muitos evangélicos, especialmente nos Estados Unidos, mas também no Brasil e em outras partes do mundo, são dispensacionalistas ou são influenciados por suas vertentes, mesmo que não conheçam a palavra ou o seu conceito.
Este artigo não é escrito com a intenção de analisar se o dispensacionalismo é ou não resultado de uma hermenêutica correta, nem defender a perspectiva no outro extremo do espectro teológico, a saber, a Teologia da Aliança. Nem espero que os dispensacionalistas mudem suas convicções. Afinal, trata-se de uma escola de pensamento, uma entre muitas. O que pretendo apresentar são os efeitos da teologia dispensacional e seus subprodutos (a) na política do mundo e do Oriente Médio, (b) na vida da Igreja no Oriente Médio e (c) no pensamento e prática missiológica da Igreja Ocidental, de modo que os que têm um ponto de vista influenciado pelo dispensacionalismo possam minimamente considerar se não há uma maneira bíblica de evitar a dor que, direta ou indiretamente, está sendo causada a milhões de pessoas no Oriente Médio e nos seus arredores.
Minha esperança também é a de que este artigo influencie, mesmo que de forma modesta, a Igreja Brasileira e seu esforço missionário no mundo muçulmano em geral, e no Oriente Médio em particular.
Todavia, é necessário apresentar uma ressalva importante antes de desenvolver o tema. Na sequência veremos alguns acontecimentos lamentáveis que aconteceram nas últimas décadas por conta da iniciativa de evangélicos com influências dispensacionalistas, especialmente nos Estados Unidos. É de suma importância levar em conta que a popularização e ampla disseminação do dispensacionalismo se apoiam em um forte sistema, que envolve um grande número de pessoas e da mídia. Seu avanço tomou proporções gigantescas. Tornou-se quase impossível falar a respeito de uma única versão de dispensacionalismo. Como consequência, nem todos os dispensacionalistas clássicos estão necessariamente de acordo com tudo que se desenvolveu ao redor desse sistema teológico, nem com tudo que tem sido dito e feito como resultado de convicções escatológicas encontradas em ambientes teológicos influenciados por essa abordagem.
Outrossim, é importante ressaltar que a distinção entre os diferentes conceitos (dispensacionalismo pré-milenista e pré-tribulacionista, restauracionismo, sionismo cristão, dispensacionalismo radical e até mesmo o cristianismo evangélico) nem sempre é clara, e nas próximas linhas os termos podem ser usados de modo intercambiável.
Também vale dizer, já de início, que eu estou totalmente de acordo com o direito de o povo judeu ter o seu lar na Palestina, apesar de não concordar com a forma que o moderno Estado de Israel tem atuado em relação ao povo árabe palestino, que habita há mais de mil anos na ‘Terra Prometida’. Finalmente, é importante esclarecer que as opiniões expressadas neste artigo são de minha responsabilidade, e não representam, necessariamente, a opinião das organizações cristãs com as quais estou envolvido.
DEFININDO O DISPENSACIONALISMO
As principais características do que veio a ser definido como dispensacionalismo clássico, ou normativo[1] (que inclui as posições pré-milenista e pré-tribulacionista[2]) desenvolveram-se no decorrer de anos, e ainda que haja discordâncias, o conceito pode ser sumarizado da seguinte maneira:
√ Deus em sua soberania decidiu que a revelação e a execução de seu plano para a humanidade aconteceriam através de diferentes dispensações, introduzidas por Deus mesmo, em diferentes épocas. Uma dispensação pode ser concisamente definida como “uma economia[3] discernível na execução do plano de Deus”[4] que pode “prevalecer em uma época especial” mas “não necessariamente em outra”[5]. Os dispensacionalistas nem sempre estão de acordo sobre quantas são as dispensações, mas a maioria parece crer em sete.[6] [7] Eles entendem que o alvo da história é “o estabelecimento do reino milenar na terra […]”.[8]
√ Os judeus continuam sendo entendidos como o povo escolhido de Deus que irá desfrutar na terra as promessas ainda não cumpridas do Antigo Testamento.[9] Por conseguinte, a primeira das três condições sine qua non (ou a primeira das “pedras angulares”) do dispensacionalismo é a descontinuidade clara entre Israel e a Igreja. A Igreja está limitada apenas à presente era. Os judeus, enquanto nação, não pertencem ao mesmo grupo em que está a igreja, ou os gentios. Os que pertencem à igreja são diferentes dos santos que morreram antes de Cristo ou dos de uma dispensação futura. A Igreja do Novo Testamento não é o “Israel nacional”. Logo, não é o cumprimento das promessas dadas a esta nação. Deus tem seu povo redimido no decorrer das eras. Entretanto, o dispensacionalismo nega fortemente que isto constitui um mesmo povo. Eles creem nos “povos” de Deus.[10] Para os dispensacionalistas, “a doutrina dos dois povos… deve ser sustentada eternamente […]”.[11] Conforme Chafer, um grande defensor do dispensacionalismo,
É tão ilógico e enganoso argumentar que o judaismo e o cristianismo irão se fundir como discutir que o céu e a terra deixarão de existir como esferas separadas. O dispensascionalismo tem sua base e é entendido na distinção entre judaísmo e cristianismo.[12]
O dispensacionalista crê que através das eras Deus está executando dois propósitos distintos: um relacionado à terra com pessoas terrenas e pautados por objetivos terrenos, que é o judaísmo, enquanto o outro está relacionado ao céu com pessoas celestiais e está envolvido com objetivos celestiais, que é o cristianismo […].[13]
√ Quando a atual dispensação (conhecida como Dispensação da Graça ou Era da Igreja) acabar, o “arrebatamento”[14] irá acontecer. Jesus chamará os crentes, o que incluirá os santos ressuscitados de dispensações passadas e os vivos da dispensação presente, para o encontro com ele nos ares[15]. Eles adquirirão um corpo celestial e viverão no céu com Jesus.
√ O arrebatamento marcará o início da Grande Tribulação, um período de sete anos no qual o anticristo se manifestará e “conseguirá estabelecer-se firmemente na Palestina como um líder religioso e politico”.[16] Durante esse tempo o terceiro templo será reconstruído em Jerusalém e o povo judeu mais uma vez viverá de acordo com a Lei Mosaica.[17]
√ Ao final dos sete anos da tribulação haverá a grande batalha do Armagedom, quando as nações se reunirão para combater Israel.
√ Nesse momento Jesus voltará para defender Israel, derrotar o anticristo e amarrar Satanás por mil anos.
√ É aí então que a última dispensação, o Milênio, terá lugar:
• Será um período que durará literalmente mil anos e Jesus reinará sobre toda a terra.[18] Seu trono será em Jerusalém.
• Imediatamente antes do início deste período os judeus de todos os cantos do mundo serão regenerados e restaurados, e retornarão à terra de Israel.[19] [20] Judeus e gentios serão “julgados para assegurar que apenas os que creem entrarão no reino.”[21]
• De acordo com alguns dispensacionalistas, durante esse tempo os que foram arrebatados antes do início da Grande Tribulação terão retornado com Jesus em corpos glorificados e reinarão com ele. Assim, de acordo com essa perspectiva dispensacionalista, durante o Milênio haverá na terra pessoas com corpos celestiais e aqueles (judeus e gentios que sobreviveram à Grande Tribulação) com corpos terrestres.[22] [23] Outros, como Dwight Pentecost, são da opinião que durante o Milênio apenas os sobreviventes da Grande Tribulação estarão na terra, com seus corpos físicos, e viverão sob o senhorio de Jesus.[24]
• Devido ao fato que os dispensacionalistas enfatizam grandemente a necessidade de utilizar uma interpretação da Bíblia que seja “literal, plena, normal ou histórico-gramatical”[25] [26] e para que a “igreja não roube as bênçãos de Israel”[27], será durante o Milênio que as promessas parcialmente cumpridas ou ainda não cumpridas do Antigo Testamento (especialmente aquelas concernentes à Aliança Davídica, a posse incondicional e permanente da terra e suas fronteiras geográficas) serão completamente cumpridas e a nação de Israel finalmente terá sua plena extensão,[28] que será “[…] do rio do Egito ao grande rio, o rio Eufrates […].”[29] [30] Outra promessa a ser cumprida durante o Milênio é Jeremias 31.31-34, que menciona que a lei de Deus será gravada nos corações dos judeus.
• No final do Milênio Satanás será liberto por pouco tempo e haverá um tempo de rebelião.[31] Entretanto, Jesus triunfará.
• Quando o Milênio acabar haverá um novo céu e uma nova terra. Não haverá necessidade de um templo, porque Deus mesmo será o santuário.
Se formos resumir esse sumário em poucas palavras provavelmente não haverá melhor maneira que citar Hal Lindsay, um dos mais importantes popularizadores do dispensacionalismo do século 20:
Crucial para uma leitura dispensacionalista da profecia bíblica é a convicção que o período da tribulação é iminente, juntamente com o arrebatamento secreto da igreja e a reconstrução do templo judeu no lugar do, ou ao lado do Domo da Rocha. Isto assinalará o retorno do Senhor para restaurar o reino a Israel, centrado em Jerusalém. Esse evento pivotal também é entendido como o gatilho para o início da Guerra do Armagedom, na qual grande parte da população do mundo, juntamente com muitos judeus, irão sofrer e morrer.[32]
AS CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS DAS CRENÇAS DISPENSACIONALISTAS NO ORIENTE MÉDIO
Tal como anteriormente mencionado, não é possível aplicar “culpa por associação” a todos os dispensacionalistas pelo o que, no decorrer dos anos, ativistas evangélicos extremistas (com convicções dispensacionalistas) têm causado na vida de tantas pessoas. A verdade da questão, todavia, é que, mesmo quando considerando que não devemos generalizar, há importantes implicações do que vimos acima:
1 – Para os dispensacionalistas, o alvo último da história é o estabelecimento de um reino milenar terreno, quando Jesus irá reinar a partir de Jerusalém. Depois disso, haverá novo céu e nova terra, o estado externo.
2 – Deus trata a Igreja e Israel de maneiras diferentes. É como se existissem dois caminhos, um espiritual para a Igreja, e um terreno para os judeus.
3 – A implicação prática dos dois pontos anteriores é que o povo judeu e o Estado de Israel serão atores importantes nos planos de Deus para o fim dos tempos.
4 – Por extensão, de acordo com a visão dispensacionalista não poderia haver o cumprimento dos últimos dias se os judeus não tivessem iniciado a volta para a Terra Prometida e o Estado de Israel não tivesse sido organizado, ainda que o cumprimento pleno das promessas do Antigo Testamento não vá acontecer até que o Milênio seja estabelecido. Dessa forma, esses eventos sinalizam, por assim dizer, o início do fim.
5 – Com a criação do Estado de Israel foram estabelecidas as condições para o arrebatamento da Igreja, que será seguido por um período de grande tribulação, a manifestação do anticristo e a edificação do terceiro templo ao lado ou onde está o Domo da Rocha, um lugar considerado sagrado pelos muçulmanos, em Jerusalém.
6 – Israel, sendo tão central para os planos de Deus no que concerne ao desenvolvimento escatológico, deve ser apoiado e protegido de seus inimigos a qualquer custo.
7 – Essa percepção tem feito com que cristãos influenciados pelo dispensacionalismo queiram resolver a questão por sua própria conta.[33]
8 – Um dos resultados tem sido a “indústria escatológica”,[34] que tem influenciado milhões de pessoas ao redor do planeta. Eventualmente, na euforia criada pela criação do Estado de Israel, que foi entendido como o cumprimento das profecias e o início do fim, inúmeras organizações cristãs com convicções sionistas foram organizadas, especialmente nos Estados Unidos, com o propósito de persuadir a opinião pública, fazer lobby no Congresso, pressionar o governo e apoiar, de maneira prática (inclusive financeiramente) a imigração de judeus para Israel. Esses novos imigrantes judeus são muito frequentemente estabelecidos em assentamentos ilegais que são construídos sistematicamente em terras palestinas.[35] Isso aumenta a tensão entre judeus e árabes e torna o processo de paz ainda mais complexo e distante, para não dizer impossível.
9 – Não se pode esquecer que todos os pontos mencionados têm levado milhões de evangélicos ao redor do mundo a usar, quase como um mantra, versículos como: “Abençoarei os que o abençoarem, e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem […]” (Gênesis 12.3) e “Sejam abençoados os que os abençoarem, e amaldiçoados os que os amaldiçoarem […]” (Números 24.9), ambos referindo-se às promessas de Deus aos descendentes de Abraão e Isaque no Antigo Testamento.
Assim, o dispensacionalismo tem contribuído para que cristãos creiam que o Estado de Israel é intocável, a despeito de consequências éticas, morais e humanitárias. Esse é exatamente o problema central.
Não é de surpreender que os líderes do grupo palestino Hamas estejam acompanhando com grande atenção a aliança entre cristãos ocidentais e o Estado de Israel. Um de seus clérigos, Ahmed al-Tamimi, disse que o sionismo cristão era “o maior perigo à paz, justiça e verdade mundiais.”[36]
Grace Halsell, tentando entender o apoio que alguns segmentos evangélicos têm dado a Israel, declara que na opinião dela a mensagem do sionismo cristão é: “Toda ação executada por Israel é orquestrada por Deus e deve ser tolerada, apoiada e até mesmo elogiada por nós”.[37]
Por que eles fazem tais afirmações? Em parte, porque foi com o apoio de cristãos com crenças dispensacionalistas que o Estado de Israel foi criado em condições consideradas injustas por muitos. Em 1947 a população judaica na Palestina era claramente uma minoria (32%) em relação aos árabes, e possuía apenas 6% das terras. Porém, o plano da Organização das Nações Unidas (ONU) que aprovou a criação de Israel concedeu 56 % da terra ao povo judeu.[38] Os palestinos, como era de se esperar, rejeitaram a decisão da ONU. “Isto aconteceu, em parte, porque se percebeu que o plano fora imposto sem consulta, e porque a divisão da terra pareceu injusta e vantajosa para os judeus. Uma guerra civil irrompeu com os dois lados aumentando suas atividades terroristas”.[39]
O resultado foi nada menos que uma catástrofe humanitária. Durante a guerra civil milhares de vidas foram perdidas, nos dois lados. Como resultado dessa guerra em 1947 e da guerra entre árabes e israelenses em 1948, logo após a formação do Estado de Israel, cerca de 750 mil palestinos (de um total de 1.2 milhão) tornaram-se refugiados na Transjordânia, Líbano, Síria, Egito e no que restou de terras árabes na Palestina.[40]
Em meio a tal tragédia, um importante aspecto permaneceu desconhecido por muitos cristãos ocidentais: entre os árabes palestinos havia uma significativa minoria cristã. De acordo com a informação disponível, em 1948, 59% da população de Jerusalém e Belém, respectivamente, era formada por cristãos.[41] “Discriminados como cristãos e perseguidos como árabes”, em 1988 não havia mais que 10% de cristãos na Palestina. [42] Conversando com alguns líderes árabes palestinos cristãos há dois anos, eles afirmaram crer que hoje não haja mais que 2% de cristãos entre os árabes palestinos cristãos. Muitos deles saíram da região, principalmente por causa da pressão social e econômica imposta pelo governo israelense.
Como os refugiados nunca obtêm permissão para voltar, a despeito das resoluções das Nações Unidas ordenando Israel a conceder tal permissão ou ressarci-los financeiramente,[43] ainda há milhões de árabes palestinos (muçulmanos e cristãos) vivendo como refugiados em diferentes partes do mundo, especialmente no Líbano e na Jordânia. Um grande número (diz-se que pelo menos 1 milhão no Líbano) vive em condições sub-humanas, nos assim chamados campos de refugiados, sem nacionalidade, dignidade, e em total desamparo.
Mas quando o Estado de Israel recebe apoio sem reservas de líderes evangélicos bastante renomados e por meio de publicações que defendem certos aspectos teológicos promovidos, pelo menos inicialmente, pela hermenêutica dispensacionalista (ou, no mínimo, sionistas), é praticamente impossível que multidões de evangélicos não sejam influenciadas e mostrem-se indiferentes à situação dos árabes palestinos.
Em 2014, quando estava ocorrendo o que, até o momento, foi a última batalha entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas, um respeitado teólogo brasileiro[44] postou em seu perfil no facebook as razões pelas quais apoiava Israel[45]. Para ser justo, seus argumentos eram bem construídos, muito embora eu não concorde com a maioria deles. Reagindo aos seus comentários, alguém postou uma nota apoiando as convicções pró-Israel mencionadas, e citou o seguinte versículo:
Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Castigarei os amalequitas pelo que fizeram a Israel, atacando-os quando saíam do Egito. Agora vão, ataquem os amalequitas e consagrem ao SENHOR para destruição tudo o que lhes pertence. Não os poupem; matem homens, mulheres, crianças, recém-nascidos, bois, ovelhas, camelos e jumentos” (1 Samuel 15.2-3).
Evidentemente o comentário infeliz não é culpa do teólogo pró-Israel, mas essa é a postura de muitos dos evangélicos. O Estado de Israel, e seus habitantes judeus, são vistos como divinamente protegidos e abençoados. Os árabes palestinos por outro lado, são vistos por muitos como a versão moderna dos amalequitas. “Alguns evangélicos”, diz Weber, “demonizaram os palestinos: porque eles são os inimigos do moderno Estado de Israel, eles são também inimigos de Deus e servos de Satanás”.[46]
O que realmente parece importar para alguns cristãos é que Israel seja protegido a qualquer preço. Ao fim e ao cabo, de acordo com os dispensacionalistas, o cumprimento das profecias escatológicas depende deles.
Toda essa situação causa um desgaste tremendo na frágil igreja no Oriente Médio. Os cristãos passam a ser vistos como “agentes de Sião”, ou simplesmente castigados e perseguidos pelo fato de governos ocidentais patrocinarem Israel, não raro com apoio de cristãos sionistas. “A postura unilateral de cristãos pró-Israel”, diz Cavalcanti, “é um obstáculo à evangelização dos árabes e deixa os cristãos locais em uma situação difícil”.[47]
Além disso, muitos evangélicos, direcionados pela mídia secular e cristã, creem que a versão radical do Islã que vemos hoje representa os muçulmanos em geral. Spector relatou que:
Quase todo evangélico que apoia Israel com quem conversei associou às suas convicções bíblicas e políticas duas conclusões relacionadas: que Deus deu aos judeus a posse eternal do inteiro território bíblico a Israel e que os árabes e outros muçulmanos estão determinados a sabotar a aliança divina.[48]
Isso evidentemente não contribui para com os que querem testemunhar de Jesus entre os árabes muçulmanos. Porém, é isto que alguns seminários teológicos e centros de treinamento missionário ao redor do globo, inclusive no Brasil, estão fazendo aos que querem se preparar para o campo de missão muçulmano. Em vez de ensinar os cristãos a amar os muçulmanos, estamos ensinando-os a amar Israel (o que é correto), a ter medo dos muçulmanos e a defender-se daqueles a quem deveríamos estar oferecendo nosso serviço sacrificial.
UM CHAMADO AO ARREPENDIMENTO
Muitos muçulmanos, incluindo palestinos, creem que o sionismo cristão é o maior impedimento à paz mundial e à justiça. Existem várias razões que os levaram a esta conclusão:
1 – Já em 1917, as opiniões dispensacionalistas de dois políticos britânicos, Lord Balfour e o Primeiro Ministro David George, desempenharam importante papel nas decisões que levaram à criação do Estado de Israel.[49]
2 – Depois de Israel ser organizado, e milhares de palestinos se tornarem refugiados ou morrido, muitos cristãos, influenciados por ideias dispensacionalistas, não demonstraram compaixão pelos árabes palestinos que estavam sofrendo e sendo oprimidos. Pelo contrário, muitos se regozijaram pelo fato que Jeová estava defendendo os direitos de seu povo escolhido e limpando a terra dos modernos amalequitas.
3 – Muitos presidentes dos EUA têm demonstrado claramente suas inclinações religiosas cristãs, favorecendo Israel e, como resultado, aumentando o sofrimento e a desesperança de milhões de árabes palestinos.[50] Alguns deles até mesmo permitiram lançar ataques contra diferentes países muçulmanos, apoiados por suas crenças dispensacionalistas em relação ao final dos tempos, bem como por influência da direita sionista cristã.[51] Ao assim proceder, eles também contribuíram para dificultar o estabelecimento da paz.
4 – Líderes da direita cristã dos EUA (muitos deles com inclinações sionistas) estabeleceram laços próximos com o Partido Likud e com Primeiros Ministros israelenses,[52] ajudando Israel a ser altamente respeitado (idolatrado?) pelo povo norte-americano, o que, por sua vez, contribuiu para criar um sentimento de que os povos muçulmanos são perversos, e que devem ser combatidos e controlados a qualquer preço.
5 – Como se não fosse bastante tudo que já foi mencionado, há entre dispensacionalistas a expectativa de que o templo de Jerusalém será reconstruído, possivelmente onde hoje se situa o Domo da Rocha.
Para nossa vergonha, infelizmente as evidências parecem confirmar que, em relação ao sionismo cristão, os muçulmanos podem ter alguma razão. As atitudes e crenças de alguns cristãos estão contribuindo para tornar a situação política, social e religiosa do Oriente Médio cada vez pior. Ao invés de serem agentes de reconciliação, estão causando divisões em um mundo que já está ferido e dividido.
Na opinião do Bispo Robson Cavalcanti (que certamente não é compartilhada pelos dispensacionalistas),
Não devemos ter medo de defender a justiça com receio de sermos acusados de antissemitismo. Os cristãos têm a consciência culpada pelo antissemitismo da inquisição e do nazismo, sentem empatia pelos “kibutsin” e pelos “moshavim”, mas não podem negar sua soteriologia histórica, que nos ensina que, inclusive para os judeus, há apenas um caminho para Deus, Jesus Cristo, e que o povo de Deus hoje é o corpo de Cristo, a igreja, chamada a praticar o ministério da reconciliação e a lutar pelos valores do Reino.[53]
Em uma comunicação pessoal via e-mail[54] referente a esse problema, Christopher Wright, um destacado teólogo britânico, afirmou:
O ensino de Jesus e Paulo é muito claro – não amaldiçoar, não retaliar, não cometer violência – antes, ao invés disto, amor, bênção e paciência. Então, seja o que for que o mundo disser, ou que os israelenses digam, se os cristãos advogarem violência, opressão, roubo de terra e de água, destruição de olivais e de vinhas, demolição de casas, etc – e dizer que isso é justificado pela Bíblia, eles estão voluntariamente desobedecendo o ensino do Senhor.
Vez após outra os assim chamados especialistas em profecia bíblica mudam de opinião de acordo com o desenvolvimento de novos, e algumas vezes contraditórios, eventos históricos. No dizer de Weber, “a história da interpretação das profecias mostra que o diabo está nos detalhes”.[55] Mas mesmo que os cristãos sionistas, influenciados pelo sistema teológico dispensacionalista, tenham a interpretação correta do desenrolar da história, isto lhes permite ser “cegos quanto à injustiça? Os fins justificam os meios, só porque os fins foram profetizados?”.[56]
O Compromisso da Cidade do Cabo, do Movimento de Lausanne, faz uma confissão e um chamado ao arrependimento, afirmando o seguinte:
Reconhecemos, com tristeza e vergonha, a cumplicidade de cristãos em alguns dos acontecimentos mais devastadores de violência étnica e opressão, e o lamentável silêncio de grande parte da igreja no decorrer dos conflitos. Tais conflitos incluem o legado do racismo […] o holocausto contra os judeus […] o sofrimento palestino […] as castas oprimidas e o genocídio tribal. Os cristãos que, por ação ou omissão, agravam o sofrimento do mundo, comprometem seriamente nosso testemunho pelo evangelho de paz. Portanto, por causa do evangelho, lamentamos e chamamos ao arrependimento os cristãos que têm participado da violência étnica, da injustiça e da opressão. Também chamamos ao arrependimento os cristãos que muitas vezes foram cúmplices de tais males, por meio do silêncio, da apatia ou de presumida neutralidade, ou ainda oferecendo falsa justificativa teológica para tais atos.[57]
Faremos bem se prestarmos atenção a esta oportuna exortação, e reconhecermos diante de Deus e do mundo que não temos sido fieis aos ensinos de nosso Senhor Jesus, que nos chamou para cuidar dos oprimidos, dos perseguidos e dos quebrantados de coração, como vemos tão claramente e de forma tão abundante tanto no Antigo como no Novo Testamento.
RODAPÉ
[1] O dispensacionalismo está constantemente se desenvolvendo e diferentes tipos desse sistema teológico são mencionados na literatura disponível, incluindo o ultradispensacionalismo. Mais recentemente tem acontecido o desenvolvimento do dispensacionalismo progressivo, que tenta reexaminar algumas das mais polêmicas afirmações do dispensacionalismo clássico, sem perder sua essência. Ver Craig A.; Bock Blaising, Darrel L., Progressive Dispensationalism, (Gran Rapids, MI: Bridgepoint Books, 1993)., to the same group as the church or the gentiles the saints who died before Christ or from those of a future dispensation. ts ”
[2] Ryrie, Dispensationalism, 148.
[3] Ou ‘administração’.
[4] Ryrie, Dispensationalism, 28.
[5] Harry Ironside, citado por ibid., 30.
[6] Ryrie identifica as sete dispensações: (1) Inocência, (2) Consciência, (3) Governo Civil, (4) Governo Patriarcal ou da Promessa, (5) Lei, (6) Graça e (7) o Milênio (ibid., 56). Watson, todavia, é de opinião que a Bíblia mostra apenas cinco dispensações: (1) Patriarcal, (2) Torá, (3) a Igreja, (4) a tribulação e (5) o milênio (Watson, Dispensationalism before Darby. pos. 151).
[7] C.I. Scofield, The Scofield Reference Bible: The Holy Bible Containing the Old and New Testaments (New York: Oxford University Press, 1917), 5.
[8] Ryrie, Dispensationalism. 17.
[9] Watson não inclui esta característica como parte da definição de dispensacionalismo. Ele prefere considerá-la como parte da definição de sionismo cristão ou restauracionismo, como era conhecida no passado (Watson, Dispensationalism before Darby. pos. 118). Enquanto Watson parece considerar o sionismo cristão e o restauracionismo como sinônimos, Chapman estabelece distinção entre os dois. Em sua opinião, diferentemente dos sionistas, os restauracionistas estão mais preocupados com o conceito teológico, e a expectativa que Deus irá, no fim dos tempos, trazer os judeus para a Palestina. A palavra “expectativa” é importante neste contexto. Eles se envolveriam na evangelização de judeus, mas em geral não são apoiadores ativos do Estado de Israel. A expectativa deles é que Deus, e não os homens, fará isto. Colin Chapman, Whose Promised Land?, (Oxford: Lion Hudson, 2015). Pos. 6365.
[10] Ryrie, Dispensationalism. 126-31.
[11] Blaising, “Dispensationalism: The Search for Definition,” pos. 333.
[12] Lewis S. Chafer, Dispensationalism (Texas: Dallas Seminary Press, 1951), 41.
[13] Chafer, citado por Ryrie, Dispensationalism. 39.
[14] 1 Tessalonicenses 4.16-17.
[15] Got Questions Ministries, “Pretribulationism,” in Got questions? Bible questions answered (Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2002-2013).
[16] Ryrie, Basic Theology, 555.
[17] Ibid., 541.
[18] Dispensationalism. 56.
[19] Basic Theology, 599.
[20] Dispensationalism. 136.
[21] Basic Theology, 599.
[22] Dispensationalism. 137.
[23] Basic Theology, 569.
[24] Dispensationalism. 137.
[25] Ibid., 19. Esta é a segunda condição sine qua non estabelecida por Ryrie. Ele afirma que o sistema hermenêutico utilizado pelos dispensacionalistas “não espiritualiza nem alegoriza, como geralmente a interpretação não dispensacionalista faz”. A terceira é a afirmação que “o propósito subjacente de Deus no mundo… é a glória de Deus” (ibid., 40).
[26] Na opinião de Blaising é importante observar que a palavra ‘literal’ não é oposta a ‘figurado’, mas a alegórico ou espiritual. As palavras normal ou plena devem ser usadas no lugar de literal…” (Blaising, “Dispensationalism: The Search for Definition,” posição 351.) Todavia, Darby and Scofield, “aprovaram a interpretação espiritual ou alegórica do Antigo Testamento, ainda que Scofield a excluísse da profecia”. Ibid., pos. 356.
[27] Ryrie, Dispensationalism. 127.
[28] Basic Theology, 523-30.
[29] Genesis 15.18.
[30] Se isso acontecesse hoje, o Israel nacional compreenderia partes do Iraque, partes do Egito e toda a extensão da Palestina, Síria, Líbano e Jordânia.
[31] Ryrie, Dispensationalism. 56.
[32] Citado por Chapman, Whose Promised Land? pos. 6391.
[33] Donald Wagner, “The Evangelical-Jewish Alliance,” The Christian Century, no. June 28, 2003 (2003): 21.
[34] Timothy Weber, On the Road to Armageddon, (Grand Rapids, Michigan: Baker Academic, 2004). Pos. 2568.
[35] Donald Wagner, “Evangelicals and Israel: Theological Roots of a Political Alliance”. 24.
[36] Judith Mendelsohn Rood and Paul W. Rood, “Is Christian Zionism Based on Bad Theology?,” Cultural Encounters 7, no. 1 (2011): 37.
[37] Stephen Sizer, Christian Zionism, (Nottingham, England: Inter-Varsity Press, 2004). 21.
[38] Chapman, Whose Promised Land? Position 432.
[39] Ibid., Position 438.
[40] Ibid., Position 5741.
[41] Robson Cavalcanti, “Palestina: O Holocausto Dos Filhos De Ismael,” Editora Ultimato, http://www.ultimato.com.br/conteudo/palestina-o-holocausto-dos-filhos-de-ismael#palestina.
[42] Ibid.
[43] The People of the United Methodist Church, “United Nations Resolutions on the Israel-Palestine Conflict,” United Methodist Church, http://www.umc.org/what-we-believe/united-nations-resolutions-on-the-israel-palestine-conflict.
[44] Desconheço se ele é dispensacionalista ou não, mas o argumento central aqui não é o que ele, mas sim o que a outra pessoa mencionada logo abaixo disse.
[45] Por respeito à sua privacidade, seu nome não será mencionado.
[46] Weber, “How Evangelicals Became Israel’s Best Friend,” 49.
[47] Cavalcanti, “Palestina: O Holocausto Dos Filhos De Ismael”.
[48] Stephen Spector, Evangelicals and Israel, (Oxford: Oxford University Press, 2009). 76.
[49] Wagner, “Evangelicals and Israel: Theological Roots of a Political Alliance”. Electronic version.
[50] Weber, “How Evangelicals Became Israel’s Best Friend,” 47.
[51] Donald Wagner, “A Heavenly Match: Bush and the Christian Zionists,” Information Clearing House, http://www.informationclearinghouse.info/article4960.htm.
[52] Wagner, “The Evangelical-Jewish Alliance,” The Christian Century, no. June 28, 2003 (2003): 22.
[53] Cavalcanti, “Palestina: O Holocausto Dos Filhos De Ismael”.
[54] Esse e-mail foi recebido no dia 22 de fevereiro de 2016.
[55] Weber, “How Evangelicals Became Israel’s Best Friend,” 49.
[56] Ibid.
[57] The Lausanne Movement, “The Cape Town Commitment,” https://www.lausanne.org/content/ctc/ctcommitment#p2-2.
BIBLIOGRAFIA
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———. On the Road to Armageddon. Grand Rapids, Michigan: Baker Academic, 2004.
Wright, Christopher. Comunicação pessoal via email no dia 22 de fevereiro de 2016.
No artigo de ontem Israel, Israel, às tuas tendas, ó Israel, prometi que voltaria ao assunto quando tivesse mais informações e melhores explicações. Pois é. Voltei. Mas ainda estou bem no início.