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A ameaça fantasma

The Phantom Menace marca o retorno dos Sith

O que está acontecendo não é bem uma luta política entre visões distintas do mundo. Não tem a ver com a contraposição esquerda x direita.

Não é a velha tensão entre correntes ideológicas (conservadoras, socialistas, liberais). Porque não é mais política.

É a destruição da política.

Estamos diante da maior ofensiva contra a democracia já ocorrida na história, desde o final do século 6 a.C. Contra a democracia não apenas como modo político de administração do Estado e sim como modo-de-vida. É uma revivescência de padrões da cultura patriarcal em estado puro.

Esses padrões são blocos de comportamentos que expressam visões míticas, sacerdotais, hierárquicas e autocráticas. Veja no artigo Reconhecimento de padrões autocráticos uma lista demonstrativa (não-analítica) contendo apenas exemplos de indícios da presença de processos de autocratização da vida cotidiana, de reprodução de pressupostos hierárquico-autocráticos, em geral aceitos como verdades evidentes por si mesmas (ideias-implante básicas ou rotinas de um programa autocrático instalado na mente coletiva), da existência de acentuada hierarquização (topologias da rede social mais centralizadas do que distribuídas), da adesão por boa parte dos agentes a princípios de modos de regulação autocráticos, da existência de estado de guerra como dinâmica organizadora do cosmos social e do estatismo como ideologia e comportamento político.

Tudo isso sempre esteve presente, pelo menos subterraneamente, na lama que jaz no fundo do poço da cultura patriarcal. Mas agora essa lama está subindo à tona. E está desabilitando os sistemas imunológicos das sociedades democráticas que impediam a sua prevalência. Sua prevalência é apenas a reafirmação da sociedade hierárquica (que não poderia existir mais, mas persiste enquanto não for desfeito, no imaginário das pessoas, o mundo fantasmagórico do sonho autocrático).

O que está acontecendo no Brasil (e também nos Estados Unidos), por exemplo, seria inimaginável há pouco tempo. Sim, ninguém poderia antever a possibilidade e o alcance da obra de demolição em curso. Os efeitos são comparáveis aos de uma guerra. Na verdade, é uma guerra.

Em todo lugar é uma guerra. Mas é uma guerra dos fantasmas patriarcais contra a transição da sociedade hierárquica para uma sociedade-em-rede.

Só há uma maneira de enfrentar essa guerra dos sith. Desconstituindo a guerra que eles precisam instalar para se manter, fazendo oposição ao seu comportamento e resistindo às suas investidas sem guerra. Isso exige concepção democrática e prática democrática. O que somente pode ser feito conectando e multiplicando o número de democratas – os agentes capazes de fazer isso – de baixo para cima, em cada lugar.

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