O impeachment não resolveu o problema das ameaças à nossa democracia. Ele apenas iniciou a transição pós-PT, que ficou incompleta porque o governo Temer – que deveria promovê-la como prioridade – refugou a tarefa. De sorte que as cinco tarefas urgentes da transição democrática, já conhecidas há um ano, não foram, em sua maioria, realizadas. Sobretudo a primeira delas, que era expor publicamente – e didaticamente – a situação deixada pelo PT em todas as áreas do governo, das estatais e de outros órgãos financiados com recursos públicos. Seria preciso criar uma forte corrente de opinião no pais de não-aceitação da herança maldita deixada por Lula, Dilma e pelo PT. Isso não foi feito. Pelo contrário, parte considerável da opinião pública encara que o PT é um partido corrupto igual aos demais (com o agravante de que há a percepção – difusa, mas não desprezível – de que, mesmo sendo corrupto, o PT se preocupa mais com os pobres).
Isso significa que as ameaças continuam, de certo modo até ficaram mais fortes (“o que não mata engorda”), na medida em que os chefes da organização criminosa e praticamente todo o seu staff continuam soltos e livres para atuar, prosseguir operando a organização (que não foi desbaratada: permanece praticamente intocada), sabotando as investigações, promovendo a instabilidade política do país, bagunçando a vida institucional, promovendo o caos nas ruas e tentando derrubar o governo constitucional que sucedeu o governo petista (basta ver que há hoje somente um único operador preso: João Vaccari). O próprio Lula (o capo di tutti capi) verbalizou isso ao dizer que não esmagaram “a cabeça da jararaca”.
Ou seja, a resistência democrática, que emergiu da insatisfação social contra o projeto autocrático do PT, não pode parar. Ela continua na ordem do dia, como o principal imperativo democrático dos tempos em que vivemos. E deverá durar durante as próximas décadas, envolvendo o trabalho de mais uma ou duas gerações de brasileiros, não apenas no Estado, mas em todos as instituições e organizações da sociedade que foram colonizadas pelo PT – como as escolas e universidades, as igrejas, a rede suja de veículos ditos alternativos e vários meios de comunicação infiltrados por criptopetistas, as corporações sindicais e os chamados movimentos sociais que também atuam como correias de transmissão do partido, os meios artísticos e culturais (financiados inclusive pelos que pagam os atores globais contrariados com o fim da lei Rouanet), os escritórios de advocacia (que trabalham na linha Thomaz Bastos), os funcionários de organismos internacionais sediados no Brasil e no continente, os partidos aliados internos e os países aliados externos do PT (como os regimes ditatoriais e protoditatoriais na África, na América Latina e no Caribe) e um conjunto de empresas com muita fome de dinheiro barato dos bancos públicos (como a Caixa, o BB e sobretudo o BNDES), em especial um suíno-empresariado predador e antissocial que fará qualquer coisa para espoliar o Estado (ameaçando inclusive apoiar a volta de Lula e a bancar golpes contra qualquer governo se não tiverem seus interesses satisfeitos), atingindo inclusive outros formas (não formais) de sociabilidade (como as famílias e os grupos de amigos).
A oposição popular ao PT – composta pelas pessoas comuns (já que os velhos partidos não são capazes de assumir um papel construtivo na necessária redemocratização pós-PT) – não terminou sua tarefa com o impeachment de Dilma Rousseff. Pelo contrário, agora é a hora em que ela é mais necessária.
Existem muitas organizações criminosas feitas por políticos para praticar crimes comuns (corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro etc.). Mas só há uma organização política criminosa feita para cometer (além de crimes comuns) crimes políticos (contra a democracia): aquela chefiada por Lula e Dirceu.
Acompanhem o que está acontecendo na Venezuela. Quem é a Orcrim na Venezuela? Os empresários que foram corrompidos pela Odebrecht ou o partido que está no governo?
Definitivamente não é hora de confundir Mussolini com Berlusconi.



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