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A pesquisa Datafolha sobre a democracia

Muita gente se empolgou com a mais recente pesquisa Datafolha (23-24/06/2020) sobre a democracia. Para ler, baixe aqui: Datafolha Democracia Junho 2020

Os resultados são mesmo animadores, sobretudo se comparados com a pesquisa anterior (05-06/12/2019). Para ler, baixe aqui: Datafolha Democracia Dezembro 2019

No entanto, pequisas de opinião, em geral, não são bons instrumentos para verificar graus de adesão à democracia.

Se você pergunta em uma pesquisa de opinião se a pessoa prefere a ditadura ou a democracia é óbvio que a maioria dirá que prefere a democracia.

As perguntas têm que ser indiretas, do contrário não captam a inclinação do entrevistado.

Mas mesmo perguntas indiretas – por exemplo, se o entrevistado é favorável à tortura, a um golpe de Estado ou a um regime militar – podem não ser adequadas.

É desejável que quem elabora as perguntas da pesquisa entenda alguma coisa de democracia.

Pesquisas sobre a adesão à democracia deveriam conter afirmações para aferir se a pessoa concorda ou discorda totalmente ou parcialmente de um conjunto de sentenças.

Seguem abaixo alguns exemplos de proposições para o entrevistado dizer se a) Concorda totalmente, b) Concorda, c) Concorda parcialmente, d) Discorda parcialmente, e) Discorda ou f) Discorda totalmente.

A democracia é o regime da maioria. Por isso, na democracia, quem tem maioria sempre tem legitimidade.

Democracia, para todos os efeitos práticos, é sinônimo de regime eleitoral.

Democracia é a prevalência da vontade da maioria.

Os seres humanos, abandonados à sua própria sorte, sem uma direção política capaz de conduzi-los, acabarão entrando em luta uns contra os outros, instaurando um verdadeiro caos social.

A democracia é desejável, mas não é imprescindível. Se a democracia fosse necessária ao desenvolvimento, países como China e Singapura não seriam desenvolvidos.

De nada adianta ter democracia se o povo passa fome.

As leis, numa democracia, têm de ser feitas para a maioria, não para as minorias.

Um líder identificado com o povo pode fazer mais (pelo povo) do que instituições cheias de políticos controlados e financiados pelas elites

Uma verdadeira democracia é um regime sem corrupção.

Um líder honesto, mesmo que não adote a democracia, apoiado pela maioria do seu povo e dedicado ao sem bem-estar, pode ser melhor do que chefes de governos democraticamente eleitos, porém impedidos de implantar suas propostas de governo por parlamentos cheios de políticos fisiológicos ou corruptos.

Seria melhor contratar especialistas para governar, selecionados por concursos e currículos, do que apostar na loteria eleitoral (correndo o risco de eleger pessoas ignorantes e incompetentes).

Existem sociedades que ainda não estão preparadas para a democracia (e que devem, primeiro, adquirir níveis maiores de bem-estar, educação, prosperidade ou abundância para depois pensar na democracia).

Algumas vezes é preciso sacrificar a liberdade presente para alcançar uma verdadeira ou mais plena liberdade no futuro.

Se uma democracia não conseguir ser capaz de melhorar as condições de vida e o bem-estar material da população, então não se justificam os esforços para preservá-la.

A democracia deveria ser o regime que permitisse escolher as pessoas mais capazes (que têm mais conhecimentos) para legislar e governar, mas infelizmente não é.

Às vezes é necessário tomar um atalho autocrático (por exemplo, uma intervenção militar que afaste da vida pública os inimigos da democracia) para chegar a uma sociedade democrática.

O sentido da política é estabelecer primeiro a ordem. A liberdade é desejável, mas deve vir depois.

Às vezes é necessário abrir mão da independência de instituições como as cortes superiores de justiça, o parlamento e a imprensa para dar liberdade de ação a um presidente capaz de resolver os problemas do país.

Brunei não é uma democracia, mas tem renda per capita de mais de 70 mil dólares, lá não existe corrupção, a educação, a saúde e a moradia são praticamente gratuitas para todos. De que adianta ter democracia no Brasil se nossa renda per capita é de cerca de 14 mil dólares anuais e não temos nada disso?

A democracia ideal é uma utopia (irrealizável) já que a política é o que é – sempre uma luta pelo poder – e, portanto, é uma ingenuidade imaginar que seja possível implantar uma verdadeira democracia.

Os que elaboram as perguntas de pesquisas de opinião sobre a democracia deveriam passar num teste como este. Será que passam?

E se submetermos nossos quase 600 congressistas e o presidente da República a um teste como este, quantos passariam? E os pouco mais de 1 mil deputados estaduais? E os 27 governadores e 5.570 prefeitos? E os cerca de 60 mil vereadores?

A porcentagem dos nossos representantes que obtivessem resultados aceitáveis talvez fosse impublicável.

Estendendo um tapete vermelho para o PT, mas…

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