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Brasil sob Bolsonaro vai virar uma Venezuela: um erro proposital

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Há uma falsificação em curso (mais uma). A de que Bolsonaro vai fazer do Brasil uma Venezuela. Ora, o regime chavista-madurista era uma democracia eleitoral que foi parasitada por um populismo de esquerda (o neopopulismo) e virou uma autocracia eleitoral (de esquerda).

Onde está o erro?

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Bolsonaro é de extrema-direita. Seu caminho não é o da Venezuela e sim o da Hungria (orbanista) que era uma democracia eleitoral, foi parasitada por um populismo de extrema-direita (o populismo-autoritário) e virou uma autocracia eleitoral (de extrema-direita).

Por que as pessoas insistem nesse erro?

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As pessoas insistem nesse erro por ignorância ou, mais provavelmente, para falsificar a realidade: para não ter que admitir que existe populismo de esquerda e que ele, em alguns casos, pode levar também à ditaduras (como levou na Venezuela e na Nicarágua).

É claro que há isomorfismos entre todos os populismos. É por isso que o que Chávez e Maduro fizeram na Venezuela se parece com o que Orbán fez na Hungria, Erdogan na Turquia, Modi na Índia e Putin na Rússia.

É preciso entender os populismos e não enganar o distinto público.

OS POPULISMOS SÃO O PROBLEMA

Temos no mundo hoje, segundo o V-Dem 2022 (Universidade de Gotemburgo), 34 democracias liberais, 55 democracias (apenas) eleitorais, 60 autocracias eleitorais e 30 autocracias fechadas (não-eleitorais).

As 34 democracias liberais, em geral, não são regimes parasitados por populismos. Há exceções: Trump (nos EUA) e Meloni (na Itália).

As 55 democracias eleitorais podem ou não ser parasitadas por populismos. Tanto por populismos-autoritários (Polônia), quanto por neopopulismos (Bolívia), quanto pelos dois (Brasil).

As 60 autocracias eleitorais sempre são populistas: de extrema-direita (Hungria, Índia), ou de esquerda (Venezuela, Nicarágua).

As 30 autocracias fechadas (não-eleitorais) não são populistas (China, Coréia do Norte), embora possam investir na instalação de regimes populistas em outros países (exemplo: Cuba na América Latina).

CUIDADO COM A FALSA SIMETRIA

Do ponto de vista da democracia, o certo nos Estados Unidos era votar em Biden para derrotar Trump (em 2020). O certo no Brasil é votar em Lula para derrotar Bolsonaro (em 2022). Tudo bem. Isso não se discute. Mas cuidado com a – como dizem? – falsa simetria. Biden é um democrata liberal, não um democrata eleitoral neopopulista.

Quem ainda não sabe a diferença deve examinar as duas galerias de imagens abaixo:

Como escrevi (em 2022) no artigo Para entender os populismos contemporâneos:

Por incrível que pareça, a maioria dos analistas e jornalistas políticos não sabe o que são os populismos contemporâneos e nem porque eles são os principais adversários da democracia. Esses analistas acham que populismo é demagogia, assistencialismo, clientelismo e irresponsabilidade fiscal.

Mas o populismo não é mais nada disso. É um modo de parasitar democracias eleitorais, degenerando a política como guerra (eleitoral), para consumir e estiolar substância liberal. Seja para transformar as democracias eleitorais em autocracias eleitorais, seja para impedir que democracias eleitorais avancem no sentido de se transformar em democracias liberais.

E ainda:

Não se sabe bem o que autoriza muitos analistas políticos, no Brasil e no mundo, a fazer de conta de que não existe populismo de esquerda (e que ele não representa uma ameaça à democracia liberal). O que os leva a concluir (embora sem o dizer) que esse populismo não é i-liberal (ou não-liberal) e majoritarista (e, portanto, não-democrático em termos liberais – embora eleitoreiro)?

Os acadêmicos de esquerda estão divididos hoje em três alas: a primeira não sabe o que são os populismos contemporâneos, a segunda acha que não existe populismo de esquerda e a terceira acha (na linha Laclau-Mouffe) que o populismo de esquerda é um bom remédio contra a dominação das elites.

Basta olhar a segunda galeria (acima) para ver que não é bem assim.

Para encerrar. Brasil sob Bolsonaro vai virar uma Venezuela? Isso nunca vai acontecer. Brasil sob Bolsonaro pode virar uma Hungria, uma Turquia, uma Índia. Bolívia sob Evo-Arce ou Honduras sob Zelaya-Xiomara – estas sim – têm mais chances de virar uma Venezuela ou uma Nicarágua (se é que a segunda já não virou). Para não enganar o distinto público é preciso entender as diferenças entre populismo-autoritário (dito de extrema-direita) e neopopulismo (dito de esquerda).

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