Existem muitos modos “alternativos” de fazer campanha falsificando o processo eleitoral. Vou citar três considerados “do mal” e três considerados “do bem”.
O primeiro modo “do mal” é via fake news (notícias fraudulentas), difundidas pelas mídias sociais manipuladas (inclusive para pautar a grande imprensa). Há dois objetivos aqui: a) levar pessoas desavisadas a acreditarem na mentira; e b) inundar a área com merda (“to flood the zone with shit”, como ensinou Steve Bannon) de sorte a desabilitar a capacidade de checagem em tempo hábil (quando uma notícia falsa é desmascarada, já existem outras três na fila).
O segundo modo “do mal” é promover – por declarações, atos ou encenações – comoções na opinião pública. Os choques alteram a pauta do debate público, desviando a atenção de assuntos desfavoráveis a um candidato. E, sobretudo, desorganizam a capacidade de julgamento das pessoas que ficam emocionalizadas (em geral revoltadas com alguns contendores aumentando sua rejeição).
O terceiro modo “do mal” é estilhaçar o próprio espaço público de interações de opiniões em miríades de esferas privadas que alimentam seus seguidores com uma realidade alternativa, tornando inócua a ideia de verdade e desacreditando os meios de comunicação profissionais que fazem curadoria de notícias e os institutos de pesquisa de opiniões.
O primeiro modo “do bem” é via tapetão. Inundar o judiciário com reclamações, tentando acuar o adversário e roubar parte do seu tempo de exposição, às vezes praticando litigância de má-fé.
O segundo modo “do bem”, mais antigo que o rascunho da Bíblia, é via institutos de pesquisa de opinião. Para tanto, não é necessário que os institutos falsifiquem seus levantamentos. Basta que aumentem o peso, na população total, de certas faixas do eleitorado mais favoráveis a um candidato, que organizem seus questionários de modo a induzir certos tipos de respostas, que escolham cuidadosamente o momento de fazer uma pesquisa etc.
O terceiro modo “do bem” é via o jornalismo, sobretudo o comentarismo político associado aos resultados de institutos de opinião escolhidos. Neste caso o noticiário e a análise são permanentemente ocupados pela difusão dos levantamentos como se fosem predições e não retratos do momento atual, de modo a encorajar a campanha de um candidato ou fazer a população acreditar que seus adversários têm menos chances.
É claro que esses seis modos não esgotam todas as medidas usadas para falsificar os processos eleitorais. Do lado “do mal” há, como se sabe, as tentativas de desacreditar a votação, as urnas ou o processo de contagem de votos. E há também, de ambos os lados – “do mal” e “do bem” – a troca da contenda política por acusações pessoais que ferem a honra dos candidatos (na boca dos primeiros o canditado concorrente vira bandido e associado ao narcotráfico, na boca dos segundos vira canibal e pedófilo). E não estamos levando em conta aqui as formas mais tradicionais de demagogia, já normalizadas, como enganar o eleitor com promessas de aumento salarial acima da inflação para todos ou de picanha com cerveja para todos.
Em geral são os populismos – ditos “de direita” ou “de esquerda” – que dominam essas técnicas de falsificar processos eleitorais para empalmar o poder, a ele voltar ou nele se manter.
O processo eleitoral é vulnerável a esses tipos de manipulação levadas a efeito pelos populismos, que descobriram que a democracia não tem proteção eficaz contra o uso da democracia (notadamente das eleições) contra a própria democracia (para erodir a democracia por meios democráticos).
No Twitter alguém qualificou uma prévia do texto acima como um mini-curso. Mas acho que requer um curso de extensão.
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