Depois de dois anos de análises quase diárias cheguei a uma conclusão.
Siga o fio, por favor.
Bolsonaro está organizando uma revolução, não um golpe de Estado em termos clássicos (não uma quartelada, mas ainda assim um golpe de Estado, como ocorre em toda revolução).
Ele – com a conivência de uma ala do Exército – almeja desestabilizar de tal maneira o cenário político-institucional e acirrar a crise social, que não haja outra solução senão uma intervenção militar para restabelecer a ordem (quer dizer, para impor a sua nova ordem).
Sim, ele quer guerra civil mesmo, com sangue nas ruas, com suas milícias armadas (e forças policiais bolsonarizadas) instaurando a desordem para justificar “um novo AI5”.
Inclusive provocando os manifestantes opositores para que cometam atos violentos dando pretexto a uma repressão desproporcional.
O armamento da população não para fins de autodefesa e sim de resistência ilegal às medidas das instituições democráticas que o contrariem, não tem outro objetivo. Não pode mais haver dúvida sobre isso (*).
Os cartazes e faixas dos manifestantes bolsonaristas e as orientações de Olavo de Carvalho, dizem exatamente o que ele pensa. Pensa no uso das forças armadas como um poder supostamente moderador, quer dizer, um poder acima dos poderes constitucionais (desvirtuando o artigo 142 da Constituição), fechamento ou controle governamental do Congresso e do STF, fim da liberdade de imprensa e prisão de dissidentes.
Se vai conseguir fazer isso é outra história. É difícil realizar essa pauta antidemocrática, não apenas por uma eventual resistência das instituições do Estado e da sociedade, mas até porque, mais cedo o mais tarde, o chamado mercado se dará conta de que terá prejuízos no médio prazo (e talvez no curto). Ademais, haverá uma rejeição da comunidade das nações democráticas e o país acabará como um pária (o que, em parte, já é) no contexto internacional (o que também afastará os investimentos estrangeiros).
É difícil, por certo, mas este sempre foi o plano – o único plano: conquistar o governo eleitoralmente não para governar e sim para destruir os sistemas de freios e contrapesos da democracia e mudar o regime político.
Nada vai desviá-lo desse propósito. A cada constrangimento institucional que sofrer, Bolsonaro avançará ainda mais no seu objetivo de golpear a democracia brasileira. Sim, aconteça o que acontecer, ele vai continuar avançando no mesmo caminho. Porque, para ele, não tem volta.
Estamos na antessala de um golpe contra a democracia. Ou paramos Bolsonaro agora ou vamos direto para a catástrofe.
P. S. Vamos ver se consigo me fazer entender. Não, Bolsonaro não vai dar um golpe de Estado (daquele tipo antigo, com tanques nas ruas). Mas sim, ele está dando um golpe na democracia (tensionando os mecanismos de freios e contrapesos para subverter, aos poucos, a natureza do regime).
(*) Na reunião ministerial de 22 de abril de 2020 Jair Bolsonaro declarou (está gravado em vídeo): “Um bosta de um prefeito faz um bosta de um decreto, algema, e deixa todo mundo dentro de casa. Se tivesse armado, ia pra rua… Eu peço ao Fernando e ao Moro que, por favor, assine essa portaria hoje que eu quero dar um puta de um recado pra esses bosta! Por que que eu tô armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura!”, afirmou. Bolsonaro disse, ainda, que em seu governo ele quer “escancarar a questão do armamento”.


