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O caminho da autocratização em 10 passos

O caminho atual dos populistas-autoritários para acabar com a democracia

1 – Eles se elegem prometendo acabar com a corrupção, a bagunça e os privilégios, impor a lei e a ordem e defender o país de seus inimigos (sejam eles quais forem, internos ou externos).

2 – Inicialmente eles juram, de joelhos, fidelidade à Constituição.

3 – De fato, num primeiro mandato, eles não violam abertamente o Estado de direito; apenas ensaiam pequenos retrocessos (sobretudo culturais, no campo dos costumes e também legais, endurecendo as leis penais), mas sofrem forte resistência das instituições (parlamento, judiciário, imprensa etc.) e, às vezes, recuam. Os opositores se confortam dizendo: “Tudo bem até aqui, nossas instituições estão funcionando”.

4 – Enquanto isso… eles estimulam seus sequazes a difundir teorias da conspiração, apontando alguns inimigos da nação (que serão os velhos políticos ou juízes corruptos ou comunistas, a imprensa livre, em alguns casos os imigrantes, em outros os homossexuais e até os liberais-políticos) como os grandes responsáveis pela dificuldade de governar de acordo com o que prometeram (repetem ad nauseam que estão sendo sabotados pelos inimigos internos, traidores da pátria e pelos inimigos externos, que querem violar a nossa soberania).

5 – Avançando e recuando diante da resistência (mas sempre ganhando alguns centímetros de terreno de cada vez), eles tentam asfixiar, por meios econômicos ou legais, a imprensa que não se sujeita ao governo e, ao mesmo tempo, compram parte dos meios de comunicação (que estão à venda) para que atuem como seus porta-vozes oficiais ou propagandistas.

6 – Eles tentam aumentar a sua base política em eleições sub-nacionais, anexando partidos menores à sua coligação e perseguindo e intimidando (hoje por meio de ataques massivos e distribuídos nas mídias sociais) os que lhe fazem oposição.

7 – Eles vão aparelhando totalmente os órgãos de Estado nomeando sequazes para todos os escalões do governo e demitindo funcionários não alinhados ideologicamente (quem discorda é sumariamente afastado).

8 – Eles tentam controlar o judiciário nomeando aliados para as cortes superiores de justiça e fazem o mesmo com o ministério público, com a defensoria pública e com os demais órgãos de controle (no Brasil, instituições tipo Coaf, Receita, Polícias, Forças Armadas, Agências Reguladoras etc).

9 – Chega então o momento decisivo: quando eles tentam se reeleger. Se conseguirem, vão acelerar o processo de autocratização do regime, começando por drenar o conteúdo liberal da democracia eleitoral que parasitam, tendo no horizonte o propósito de transformá-lo numa autocracia eleitoral.

10 – O que vem a seguir é conhecido: mudança das regras eleitorais (para dificultar a rotatividade ou alternância), restrições legais das liberdades civis (sobretudo da liberdade de expressão e organização), fim da imprensa livre, controle total do judiciário (que passa a promover julgamentos políticos dos opositores), intervenção nas universidades e no ensino em geral, perseguição das organizações não-governamentais et coetera.

Esse processo é lento, em geral costuma levar uma década (como se observa na Hungria, na Polônia, na Turquia). Se não for neutralizado no embrião, dificilmente poderá ser contido depois.

Uma sociedade fechada está crescendo dentro da sociedade aberta

Qual democracia? Um possível caminho das pedras