1 – O principal adversário de Lula não é Bolsonaro. Esse populista de extrema-direita (Bolsonaro) é o inimigo dos sonhos de qualquer populista de esquerda (como Lula). Para Lula, Bolsonaro nunca foi um problema. Foi a solução. O principal adversário de Lula é qualquer candidato ou candidata democrata não-populista.
2 – Toda essa conversa do golpe que Bolsonaro daria, mas só se perdesse no segundo turno, tem um objetivo principal: impedir o crescimento de uma candidatura democrata não-populista. Bolsonaro não tem força político-militar para dar um golpe à moda antiga (com tanques nas ruas).
3 – Consequentemente, a tentativa de dizer que Lula tem de vencer no primeiro turno ou haverá um golpe, tem esse mesmo objetivo: impedir o crescimento de uma candidatura democrata não-populista.
4 – Por isso Lula se colocou contra o impeachment: para evitar que, no bojo de um grande movimento pelo impeachment de Bolsonaro, surgisse uma candidatura democrata não-populista.
5 – Por isso Lula luta agora por todos os meios para que Bolsonaro não perca muitos votos. Ele tem que manter Bolsonaro com 30% dos votos, seja para derrotá-lo no primeiro turno ou no segundo turno. Tudo para impedir o crescimento de uma candidatura democrata não-populista.
6 – A vitória de Lula sobre Bolsonaro não resolve o problema da estabilidade do novo governo. Se fosse certo que Bolsonaro daria um golpe se perdesse a eleição, Lula deveria articular uma frente ampla para governar. Proporia, para tanto, um futuro governo de coalizão democrática.
7 – A garantia da vitória de Lula é disputar contra Bolsonaro. Num 2º turno contra uma candidatura democrata não-populista, Lula pode perder. Em condições normais de temperatura e pressão, Bolsonaro já perdeu as eleições. Mas o problema das eleições de 2022 é o terceiro turno.
8 – O bolsonarismo não se desconstituirá com a derrota eleitoral de Bolsonaro. A “bolha” bolsonarista é resiliente e grande o suficiente para desestabilizar um futuro governo de esquerda.
8.1 – O trumpismo não se desconstituiu com a derrota eleitoral de Trump. Continua erodindo o regime democrático nos EUA e pode voltar ao governo.
8.2 – Só uma candidatura democrática não-populista, que representasse uma ampla aliança contra a ameaça bolsonarista, seria capaz de articular essa frente, tanto para vencer as eleições, quanto para governar com um governo de coalizão democrática a partir de 2023.
9 – O bolsonarismo ferido por uma derrota eleitoral, não vai apenas tentar desestabilizar o governo, mas instalar um verdadeiro clima adversarial na base da sociedade. Só uma ampla ação da cidadania pela paz, apoiada por um governo de coalizão democrática, poderia alterar esse quadro.
10 – A vitória de uma candidatura populista de esquerda não vai resolver o problema, senão agravá-lo ao manter a dinâmica do “nós” contra “eles”. Teremos, provavelmente, uma guerra civil fria pela frente.