Pesquisa “Juntos contra o centrão” Avenida Paulista, 26 de maio de 2019
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No dia 26 de maio, milhares de manifestantes se reuniram na Avenida Paulista para apoiar reformas e criticar elites políticas que estariam criando obstáculos para o governo Bolsonaro. Realizamos 436 entrevistas com manifestantes espalhados entre as ruas Augusta e Alameda Campinas entre as 13 e 17 horas. A margem de erro é de 5 pontos com um intervalo de confiança de 95%. Investigamos características demográficas, identidades políticas, confiança em atores políticos e veículos de comunicação e a motivação para ir à manifestação.
Motivação
A convocação para a manifestação originalmente enfatizava a rejeição às elites políticas, no Congresso e no STF, mas após críticas que apontavam implicações antidemocráticas, a ênfase se deslocou para o apoio a medidas do governo, como a reforma da Previdência e o pacote anti-crimes. Para esclarecer o que havia prevalecido, investigamos qual foi a motivação mais determinante para a participação.
O motivo alegado como mais determinante foi o apoio às reformas. Parece que o esforço das lideranças do bolsonarismo de ressignificar a manifestação, de uma agenda anti-elites políticas para uma agenda positiva repercutiu entre as pessoas mobilizadas. Uma questão que ainda precisa ser investigada é se há graus diferentes de apoio entre as medidas propostas pelo governo: pacote anti-crimes, reforma da Previdência e reforma ministerial.
Motivo mais determinante para vir à manifestação
| Apoio às reformas propostas pelo governo | 75% |
| Repúdio à atuação dos ministros do STF | 6% |
| Apoio à Lava Jato | 8% |
| Contra o boicote do Centrão ao governo | 6% |
| Intervenção militar | 2% |
| Nenhum desses motivos | 2% |
| Não sei | 1% |
Identidade
Investigamos também as identidades políticas dos manifestantes como temos feito em outras manifestações. Medimos a identidade com partidos políticos, autoidentificação no espectro esquerda-direita, conservadorismo, feminismo e antipetismo. Na apresentação dos resultados, comparamos com a manifestação “PT Nunca Mais” que foi a primeira experiência de mobilização de rua do bolsonarismo, no final do segundo turno das eleições de 2018.
Como já tínhamos verificado na pesquisa sobre a manifestação “PT Nunca Mais” as identidades políticas estão muito mais acentuadas do que nas mobilizações que pediam o impeachment de Dilma Rousseff, prevalecendo as identidades de direita, antipetista, conservadora e não feminista. O que chama a atenção na comparação com a manifestação pró-Bolsonaro de outubro é que a identificação com PSL é menor – ainda que no limite da margem de erro – e a identificação com nenhum partido nesta manifestação é muito maior. Isso pode ser explicado tanto pelo fortalecimento da identidade partidária no período eleitoral, como por uma possível desilusão com o partido que foi alvo de denúncias de corrupção. Outra chave explicativa é que a retórica populista, que é marca deste governo, tende a fortalecer a liderança em detrimento de instituições como os partidos políticos.
Com qual dos partidos políticos brasileiros se identifica mais
| 26 maio 2019 (Juntos contra o centrão) | 21 outubro 2018 (PT Nunca Mais) | |
| PSL | 34% | 44% |
| Nenhum | 55% | 13% |
| Novo | 6% | 2% |
| Outros | 4% | 8% |
| Não sei | 1% | 34% |
Em termos políticos, se considera de esquerda, de direita, de centro ou nada disso
| 26 maio 2019 (Juntos contra o centrão) | 21 outubro 2018 (PT Nunca Mais) | |
| Direita | 76% | 72% |
| Centro-direita | 9% | 14% |
| Centro | 0% | 2% |
| Centro-esquerda | 1% | 1% |
| Esquerda | 0% | 0% |
| Nada disso | 14% | 9% |
| Não sei | 0% | 2% |
No que diz respeito a temas como família, drogas e punição a criminosos, se considera conservador
| 26 maio 2019 (Juntos contra o centrão) | 21 outubro 2018 (PT Nunca Mais) | |
| Muito conservador | 72% | 74% |
| Um pouco conservador | 25% | 23% |
| Nada conservador | 2% | 2% |
| Não sei | 1% | 1% |
Se considera feminista
| 26 maio 2019 (Juntos contra o centrão) | 21 outubro 2018 (PT Nunca Mais) | |
| Muito feminista | 5% | 9% |
| Um pouco feminista | 19% | 19% |
| Nada feminista | 68% | 70% |
| Não sei | 8% | 7% |
Se considera antipetista
| 26 maio 2019 (Juntos contra o centrão) | 21 outubro 2018 (PT Nunca Mais) | |
| Muito antipetista | 88% | 91% |
| Um pouco antipetista | 6% | 5% |
| Nada antipetista | 6% | 3% |
| Não sei | 0% | 1% |
Participação política anterior
Investigamos também a participação em outras manifestações para entender a trajetória de mobilização dos participantes. 77% dos manifestantes já participou de alguma manifestação desde junho de 2013, principalmente de manifestações a favor do impeachment de Dilma Rousseff.
Participou de alguma manifestação política desde 2013
| Junho de 2013 | 25% |
| Manifestação a favor do impeachment de Dilma | 61% |
| Manifestação contra o impeachment de Dilma | 2% |
| Manifestação Ele Não | 1% |
| Manifestação PT Nunca Mais | 54% |
| Alguma outra | 30% |
| Nenhuma | 21% |
| Não sei/ Não lembro | 2% |
Confiança em atores políticos e veículos
A convocação para a manifestação foi bastante controversa. Grupos como MBL e Vem Pra Rua que eram convocantes tradicionais do movimento anticorrupção não endossaram os protestos, gerando disputas acirradas no campo da direita. Além de investigar a confiança nesses grupos, medimos também a confiança em atores políticos e veículos de comunicação que se aproximaram demais do governo, como Olavo de Carvalho e a rede Record ou tomaram distância do governo, como o vice-presidente Hamilton Mourão e o site O Antagonista.
Chama a atenção o reduzido índice de confiança no MBL que foi alvo de muitos ataques nas mídias sociais e nos carros de som durante a manifestação. Chama também atenção o baixo conhecimento (33%) do “Nas Ruas” que é o mais tradicional entre os convocantes desta manifestação. O dado sugere que a capacidade de mobilização do bolsonarismo é, neste momento, razoavelmente independente de organizações intermediárias.
Sobre a confiança nos veículos de comunicação, destacam-se a baixíssima confiança em veículos tradicionais como o jornal Folha de S. Paulo e a rede Globo (4% e 2%, respectivamente) e a curiosa combinação de alta confiança e baixo conhecimento de um dos mais influentes sites de notícias hiperpartidárias, o “República de Curitiba”.
Confia em atores políticos
| Confia | Não confia | Não conhece | |
| MBL – Movimento Brasil Livre | 26% | 66% | 8% |
| Vem Pra Rua | 66% | 21% | 13% |
| Nas Ruas | 56% | 11% | 33% |
| Hamilton Mourão | 57% | 36% | 6% |
| Olavo de Carvalho | 65% | 22% | 12% |
| Janaína Paschoal | 57% | 39% | 5% |
Confia em veículos de informação
| Confia | Não confia | Não conhece | |
| República de Curitiba | 44% | 4% | 52% |
| Folha de São Paulo | 4% | 95% | 1% |
| Rede Record | 63% | 32% | 5% |
| O Antagonista | 42% | 35% | 23% |
| Rede Globo | 2% | 98% | 0% |
Caracterização demográfica
A caracterização demográfica dos manifestantes foi muito semelhante à que identificamos em manifestações anteriores do campo antipetista: pouca participação de jovens (idade média de 45 anos), renda familiar acima de 5 salários mínimos e ensino superior completo. O aspecto mais relevante é que essa manifestação foi um pouco mais masculina, com 65% de homens.
Sexo
| Masculino | 65% |
| Feminino | 35% |
Idade
| 13-17 | 1% |
| 18-24 | 8% |
| 25-34 | 13% |
| 35-44 | 23% |
| 45-54 | 20% |
| 55-64 | 23% |
| 65+ | 12% |
Cor
| Branca | 66% |
| Parda | 22% |
| Preta | 6% |
| Amarela | 3% |
| Indígena | 1% |
| Outra | 3% |
Condição atual de trabalho
| Empregado com carteira de trabalho | 27% |
| Autônomo | 20% |
| Aposentado | 18% |
| Empresário | 15% |
| Desempregado | 7% |
| Funcionário público | 6% |
| Estudante | 4% |
| Empregado sem carteira de trabalho | 2% |
| Trabalho eventual (bico) | 1% |
Renda familiar
| Até 2 SM | 6% |
| 2 a 3 SM | 13% |
| 3 a 5 SM | 27% |
| 5 a 10 SM | 28% |
| 10 a 20 SM | 16% |
| Mais de 20 SM | 10% |
SM = salários mínimos
Escolaridade
| Fundamental (completo e incompleto) | 2% |
| Ensino médio (completo e incompleto) | 30% |
| Ensino superior (completo e incompleto) | 68% |
Religião
| Católica | 41% |
| Evangélica pentecostal | 19% |
| Evangélica não-pentecostal | 7% |
| Espírita/ Kardecista | 9% |
| Outras | 8% |
| Nenhuma | 16% |
Coordenação da pesquisa: Ana Luiza Aguiar, Marcio Moretto e Pablo Ortellado
Tratamento estatístico: Leonardo Zeine
Pesquisadores:
- Carolina Felix da Silva
- Catarina Amaral Zancheta
- Elisa Codonho Premazzi
- Felipe de Souza Paulo
- Gabriela Alves Altomare Costa
- Henrique Heron Alves da Silva Magalhães
- Ian Vitor Dos Santos Monteiro
- Juliano Tuschtler Araujo Carvalho
- Letícia Corvacho Ruel de Brito
- Liandra Lopes Alves
- Maicom Soares Nascimento
- Maria Luzia da Silva Melo
- Marina Alves Passafaro
- Nagila Camila Felix de Oliveira
- Rafaela Cláudia de Souza Andrade
- Sandra Gomes
- Thabata Loureiro Rodrigues
- Vitor Alves Coutinho de Almeida
- Yanka Silva Leite de Alameida
- Yuri Vasconcelos de Lima


