O lulopetismo não é solução para o bolsonarismo (é a pior – e agora única – solução para remover Bolsonaro, mas não para resolver o problema do bolsonarismo, que continuará parasitando nosso regime democrático, mesmo fora do poder).
Da mesma forma, o bolsonarismo não foi solução para o lulopetismo, que recompôs sua hegemonia (e continuará parasitando nosso regime democrático, agora de novo no poder).
Um populismo nunca é solução para outro populismo. Só a democracia pode metabolizar essas forças iliberais (caso do bolsonarismo) ou não-liberais (caso do lulopetismo).
Governantes de diversas colorações ideológicas devem se revezar no poder como parte da dinâmica normal da política, sem que as eleições se tornem sempre um drama de vida ou morte, quer dizer, uma ameaça à democracia, à paz, à civilização.
Vejamos o caso de duas (Chile e Uruguai) das quatro (juntamente com Barbados e Costa Rica) democracias liberais da América Latina.
O caso do Chile. Aylwin é substituído por Frei, que é substituido por Lagos, que é substituído por Bachelet, que é substituída por Piñera, que é substituído novamente por Bachelet, que é substituída novamente por Piñera, que é substituído por Boric. E o mundo não acabou.
O caso do Uruguai. Sanguinetti é substituído por Lacalle, que é substituído por Sanguinetti novamente, que é substituido por Batlle, que é substituído por Vázquez, que é substituído por Mujica, que é substituído novamente por Vazquez, que é substituído por Lacalle Pou. E o mundo não acabou.
No Brasil, os que pensam em se livrar do petismo apoiando o bolsonarismo estão redondamente enganados. O PT é resiliente.
A hegemonia do PT sobre setores intelectuais, artísticos, jurídicos, jornalísticos, foi seriamente abalada no período 2012-2018. Destacam-se os seguintes fatores:
a) o julgamento no STF do chamado mensalão,
b) as irrupções (swarmings) de 2013,
c) os processos da Lava Jato (com a condenação e prisão de boa parte da direção partidária),
d) as reações negativas da sociedade à polarização na campanha eleitoral de 2014,
e) as grandes manifestações de rua de 2015 e 2016 e o impeachment de Dilma,
f) os resultados desatrosos das eleições municipais de 2016,
g) a prisão de Lula, e
h) a vitória de Bolsonaro em 2018.
Com tudo isso, a hegemonia do PT sobre o pensamento e o comportamento de extensos (e influentes) setores da sociedade brasileira (mencionados acima), foi abalada, mas não foi extinta. E tanto é assim que se recompôs.
Uma hegemonia só desaparece de duas maneiras:
1) Ou quando é metabolizada pela democracia num jogo plural em que diversas forças políticas se equilibram (ou se revezam no poder como parte da dinâmica normal da política),
2) Ou quando é substituída por outra hegemonia por um tempo suficientemente longo (e, mesmo assim, neste caso, suas matrizes continuam latentes, podendo ser reativadas quando uma nova configuração favorável se constelar).
A conclusão deveria ser óbvia. Só a democracia resolve.
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