in ,

O PT já venceu, mas não vai resolver o problema

O PT já venceu. E não foi nas urnas.

E mesmo que perca nas urnas (o que é improvável), o PT já venceu. Por quê?

Com essa restrição auto-imposta de muitos democratas (de pararem de criticar o neopopulismo lulopetista para não atrapalhar a vitória de Lula sobre Bolsonaro) o PT já foi vitorioso. Esse comportamento de calar a boca (do contrário Bolsonaro vence) equivale a uma espécie de absolvição política do petismo. As chances da auto-censura continuar depois das eleições aumentaram consideravelmente (do contrário Bolsonaro volta).

Toda crítica ao PT será desqualificada como antipetismo (confundido proposital e maldosamente com bolsonarismo). Até mesmo uma necessária oposição democrática (pois não há democracia sem oposição democrática) será acusada de ataque da direita ou da extrema-direita, no mínimo de choro de perdedor ou tentativa ilegítima de um terceiro turno.

Voltando ao governo como inocente injustiçado e redimido pelo povo, o PT estará previamente absolvido, por longo tempo, de qualquer mal-feito futuro.

O ANTIPETISMO

O chamado antipetismo virou um truque de defesa incondicional do PT. Ora, não há antipetismo como corrente de opinião. O que chamamos de antipetismo é uma variedade imensa de reações – intelectuais e, sobretudo emocionais – ao comportamento petista. Essas reações partem de gente de diversas colorações ideológicas.

Querer dizer que o antipetismo é de direita ou, pior, estabelecer uma equivalência política (e moral) entre antipetismo e extrema-direita é uma falsificação produzida pelo petismo e por pessoas que foram de extrema-direita e se converteram ao petismo para serem aceitas por ele (pessoas que saíram de grupos extremistas, mas o modo de combater desses grupos não saiu delas).

É uma infantilidade, porque essas pessoas jamais serão aceitas pelo petismo como autênticas, como uma “das nossas”. Serão no máximo toleradas e usadas pelo petismo. Porque, se não existe antipetismo como um determinado comportamento político, continua existindo petismo.

Ou seja, o antipetismo não caiu da árvore dos acontecimentos, nem veio de Marte ou de Vênus. Ele tem uma fonte inequívoca: o petismo! Irritadas por ele, algumas pessoas aderiram a qualquer alternativa capaz de evitar a continuidade do petismo ou o seu retorno ao poder.

Podemos elencar alguns desses fatores, digamos, “alergênicos”, do comportamento petista que irritaram pessoas de diferentes origens e visões político-ideológicas:

• O espírito militante patrulhador e a intolerância (com quem pensa diferente)
• A condenação moral de quem não segue o partido
• A incapacidade de reconhecer os próprios erros
• O hegemonismo
• O tratamento instrumental dos aliados
• A contradição evidente de se dizer democrata, mas apoiar ditaduras
• O caráter não-liberal do projeto petista
• A estratégia do neopopulismo lulopetista

Infelizmente muitas pessoas irritadas pelo petismo ficaram vulneráveis ao bolsonarismo. Expliquei tudo neste artigo.

O IMENSO PROBLEMA QUE TEMOS PELA FRENTE

Deixando de lado as artimanhas petistas, temos um imenso problema pela frente que o PT não vai resolver. Esse problema diz respeito aos populismos que continuarão parasitando a democracia eleitoral brasileira.

Basta pensar um pouco para ver que o bolsonarismo não vai acabar com a derrota eleitoral de Bolsonaro. Pelo contrário. Como movimento político-cultural, pode até sair fortalecido. Como escreveu o Pablo Ortellado, em artigo em O Globo de 01/10/2022, “nada alimentará mais o bolsonarismo que um governo do PT”.

O avanço do movimento autoritário bolsonarista não vai ser barrado pelo “exército” dos que ganham até 2 salários mínimos, comprados e mobilizados pela propaganda populista enganosa de picanha com cerveja para todos.

O bolsonarismo é um fenômeno social inédito, baseado não apenas em narrativas enganosas, mas em novas relações econômicas que ensejam visões de mundo distintas daquelas que surgiram dos trabalhadores e funcionários urbanos (os operários e as classes médias industriais e de serviços das metrópoles), sobretudo em pequenas e médias cidades do interior.

A questão é que o bolsonarismo não pode ser enfrentado apenas atacando seus militantes, se não interagirmos com sua base social para compreender seus sonhos, seus anseios e suas dores. Se for no modo-guerra, o bolsonarismo também já venceu, não importa que Lula seja eleito e reeleito.

Um populismo nunca é remédio eficaz contra outro populismo. O populismo-autoritário bolsonarista não pode ser vencido pelo neopopulismo lulopetista. Tem que ser metabolizado por uma ampla ação da cidadania pela paz e pela democracia que desarme seu impulso reacionário.

Não é uma guerra eleitoral (a solução dos populismos para todos os problemas do universo). Os populismos, em geral, não podem ser derrotados nas urnas. Só a dinâmica social pode neutralizar um populismo. Mas, ao fazê-lo, quando há polarização, terá que desarmar também o populismo oposto.

Enquanto não houver tal desarme, pode-se afirmar que o processo político de 2022 tem dois grandes vencedores: o lulopetismo e o bolsonarismo (não importa quem vença as eleições).

Sei exatamente o que estou fazendo ao votar em Lula

Brasil sob Bolsonaro vai virar uma Venezuela: um erro proposital