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Sei exatamente o que estou fazendo ao votar em Lula

Ao votar em Lula, no segundo turno de 2022, sei exatamente o que estou fazendo. Não estou votando num social-democrata para preservar nossa democracia liberal (quem diz isso deve procurar algum trouxa para enganar). Estou votando num neopopulista de esquerda para remover um populista-autoritário de extrema-direita que quer converter nossa democracia eleitoral numa autocracia eleitoral.

Por quê? Porque, pelo menos no curto prazo, um neopopulista (de esquerda) é menos letal para a democracia liberal do que um populista-autoritário (de extrema-direita).

Você quer conversar seriamente sobre isso? Então admita, para começar, que não é correto enganar as pessoas. Ou seja, não é correto esconder ou negar as oito constatações abaixo (siga o fio numerado):

1 – Existem populismo de direita ou extrema-direita (Trump, Salvini, Meloni, Orbán, Erdogan, Modi, Duda, Bolsonaro) e populismo de esquerda (Lula, Evo, Correa, Lugo, Funes, Cristina, Obrador, Petro).

2 – Lula não é um social-democrata tipo europeu e sim um neopopulista. Suas afinidades são maiores com Evo-Arce, Correa-Moreno, Lugo, Chávez-Maduro, Ortega, Funes-Cerén) do que com Olaf Scholz, Sanna Marin e Jacinda Ardern.

3 – A política externa de Lula não se insere na coalizão das democracias liberais (União Europeia, EUA, Canadá, Chile, Uruguai, Costa Rica e Barbados, Austrália, Nova Zelândia, Coréia do Sul e Japão) para resistir às ofensivas russa e chinesa.

3.1 – A política externa do PT – baseada na ideia de Sul Global – não é a favor da resistência ucraniana à guerra de conquista de Putin e da defesa da democracia liberal de Taiwan contra à dominação chinesa.

3.2 – Pelo contrário, o PT tende a ficar do lado das grandes autocracias – como Rússia, China, Índia e Irã – a pretexto de combater o imperalismo norte-americano e a expansão da Otan.

4 – Todos os populismos são estatistas. Todos os populismos são adversários da democracia liberal. O populismo-autoritário de extrema-direita é i-liberal. Mas o neopopulismo de esquerda não é liberal.

5 – O populismo-autoritário (dito de extrema-direita) é uma ameaça à democracia eleitoral porque visa a transformá-la numa autocracia eleitoral (Orbán, Erdogan, Modi, Meloni).

6 – O neopopulismo (dito de esquerda) não quer transformar a democracia eleitoral em uma autocracia eleitoral, mas também não quer que ela vire uma democracia liberal (Lula-Dilma, Evo e Arce, Lugo, Funes e Cerén, Lugo, Zelaya e Xiomara, Cristina e Fernandez, Obrador e Petro).

7 – Não é a regra, mas há casos de neopopulismos de esquerda que transformaram democracias eleitorais em autocracias eleitorais (Chávez-Maduro e Ortega).

8 – O neopopulismo de esquerda não toma como aliados preferenciais as democracias liberais da América Latina (Costa Rica, Barbados, Uruguai e Chile) e sim as democracias eleitorais parasitadas por governos neopopulistas (Bolívia, Argentina, Honduras, México e Colômbia).

Fim do fio. Me desmintam, por favor. Vou esperar deitado (na foto que ilustra este artigo: deitado sob a vigilância do falecido Zé Bolinha).

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