Segundo noticia O Globo, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta sexta-feira (ontem, 29/11/2019), em uma cerimônia militar em Três Corações, Minas Gerais que os integrantes das Forças Armadas estão dispostos a dar suas vidas para defender a democracia e a liberdade como já fizeram no passado. Disse também que o Brasil só estará satisfeito quando todos os países da América do Sul estiverem vivendo ambientes de democracia e liberdade. Em uma cerimônia de formatura de sargentos combatentes na Escola de Sargento das Armas, Bolsonaro lembrou um dos militares brasileiros mortos na Segunda Guerra Mundial e tomou-o como exemplo para os novatos. Disse Bolsonaro:
“— No passado nós lutamos por democracia e pela liberdade e no futuro, se preciso for, daremos a nossa vida para que essa democracia e a liberdade nunca deixem de existir entre nós… A América do Sul, alguns países, vive momento de crise, mas nós venceremos tudo isso pela gratidão, pelo sentimento de irmandade que existe entre nós da América do Sul… Nós, brasileiros, só estaremos felizes quando todos os países da América do Sul e o seu povo também gozar de liberdade e democracia”.
Ora, isso é comício em quartel. Decodificando a fala presidencial. Quando ele fala “no passado” está se referindo ao golpe de 1964 e à ditadura que foi instalada no Brasil. Quando ele fala “democracia e liberdade” quer dizer regime autoritário instaurado para lutar contra o comunismo que ameaçou o Brasil no passado (daí o golpe militar) e agora estaria provocando crises semelhantes em outros países do continente (exigindo novos golpes). As manifestações de rua que ocorrem na Bolívia, no Chile, na Colômbia e no Equador são um pretexto para mobilizar a tropa contra a ameaça comunista.
Se é fato, como notou o Villa, que toda sexta-feira Bolsonaro vai a uma cerimônia militar, percorrendo os quartéis para fazer seu discurso autoritário para cabos, sargentos e para a baixa e média oficialidades, então é preciso acender o alerta vermelho. Atenção, generais!
As falas de Bolsonaro não são apenas retórica inflamada para alimentar seus fiéis nas mídias sociais com aqueles “dois minutos de ódio” diários. Se fosse assim ele não estaria fazendo, semanalmente, comícios presenciais em quartéis. Atenção, jornalistas pollyannas!
Em 4 de novembro de 2019, em artigo em O Globo, Demétrio Magnoli cravou: “A subversão da democracia, a conclamação à anarquia militar, é o único e verdadeiro programa de governo de Bolsonaro”. No início discordei, pensando na via Orbán. Agora já acho que ele pode ter razão.
O problema é que as pessoas estão com dificuldade de ver o cenário atual e seus possíveis desdobramentos.
E sabem por que parte da intelectualidade (inclusive jornalistas e analistas políticos, mas também políticos de centro) não vê que é preciso parar Bolsonaro antes que seja tarde? Por dois motivos. Ou porque engoliram a narrativa lavajatista de combate à corrupção (colocando a honestidade como um valor acima da democracia) ou porque imaginaram que Guedes era um governo liberal dentro do governo real (colocando as necessárias reformas e a suposta eficiência econômica acima da democracia). Atenção, centristas!
Alguns criticam Bolsonaro, mas atenuam suas críticas porque, afinal, Sérgio Moro é o superministro que comanda a cruzada de limpeza ética da política.
Outros também criticam Bolsonaro, mas contemporizam com o governo porque, afinal, Paulo Guedes é o superministro liberal que fará na economia o que precisa ser feito.
Muito poucos entendem que Moro e Guedes não tomam a democracia como um valor e não hesitariam em sacrificá-la em nome de suas fórmulas salvadoras. Pouquíssimos percebem que é preciso parar Bolsonaro – por meios legais, pacíficos, democráticos – antes que seja tarde. E 2022 pode ser muito tarde. Atenção! Lula não quer isso. Quer mantê-lo no governo, mesmo que violando a democracia, para voltar pelas urnas como o grande líder populista de esquerda.
Um populismo nunca é verdadeira oposição a outro populismo. Populistas apenas usam a democracia contra a democracia. O neopopulismo lulopetista contra-cena, mas não faz real oposição ao populismo-autoritário bolsonarista. Pelo contrário, quer se alimentar dele. Formam um perfeito par enantiodronômico.
Parar Bolsonaro por meios legais, pacíficos, democráticos, não é depô-lo por um golpe de Estado. Não é, por certo, esperar que um maluco resolva desferir-lhe uma segunda facada ou um tiro. Não é nem, necessariamente, promover o seu impeachment. Pode ser, simplesmente, fazer oposição para valer, denunciar suas declarações e ações antidemocráticas e construir uma efetiva resistência nas instituições do Estado e da sociedade, constrangendo-o a mudar de comportamento.
Os lulopetistas não querem, na verdade, fazer nada disso. Querem nos convencer de que a única alternativa a Bolsonaro é Lula Livre (e com condenações anuladas) para fazer suas caravanas pelo Brasil, subir novamente nos palanques e se candidatar como o salvador em 2022. Enquanto isso, porém, a democracia vai sendo diariamente atacada pelo bolsonarismo.