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Não mintam, bolsonaristas: o protesto do dia 26 de maio não é a favor das reformas

Ontem (20/05/2019), Jair Bolsonaro compartilhou, por WhatsApp, panfleto convocando apoiadores para uma “marcha” a Brasília, no dia 26.

“Basta! Elegemos o Pres. Bolsonaro e cansamos de ver os corruptos querendo sabotar o governo e o Brasil”.

Agora, portanto, é oficial. Vejam o banner compartilhado pelo presidente da República (nele não se fala de reformas):

É a marcha sobre Roma?

A HISTÓRIA SE REPETE COMO FARSA

O bolsonarismo não é um fascismo, mas é fascistoide. Sua convocação para uma manifestação, no próximo 26 de maio, contra o Congresso e o STF, ecoa o mesmo padrão da “Marcia su Roma”.

A Marcha sobre Roma foi uma vasta manifestação fascista, com característica de golpe de estado, ocorrida em 28 de outubro de 1922, com o afluxo na cidade de dezenas de milhares de militantes fascistas que reivindicavam o governo da Itália.

A história se repete como farsa (sim, foi Marx que disse isso, mas e daí? Concorde-se ou não com o conjunto da sua obra – e eu não concordo – era um ser humano inteligente). O que a farsa bolsonarista quer dizer é que os mais de 100 milhões de votos em deputados e senadores não valem nada, se não deixarem Bolsonaro, que teve apenas 57 milhões de votos, governar como um ditador.

Os bolsonaristas mais espertos estão dizendo que não há nada disso. Que a manifestação convocada para dia 26 de maio é para apoiar o presidente e as reformas, em especial a reforma da Previdência e o pacote anti-crime de Sérgio Moro. Mas isso é mentira.

A MENTIRA TEM PERNAS CURTAS

Para pegar os mentirosos basta olhar como surgiu a convocação nas mídias sociais e o que os bolsonaristas estão compartilhando. Primeiro eles divulgaram a hashtag #OPovoVaiInvadirOCongresso e, só depois, passaram a falar no dia 26.

Eis abaixo um pequeno exemplo de prints de mais de uma centena de tweets:

Ou seja, a manifestação é contra as instituições do Estado democrático de direito que não estariam deixando Bolsonaro governar. Governar como um ditador, é claro.

O malfeitor Olavo de Carvalho no último dia 19 replicou um vídeo (com 248.120 visualizações) de um sujeito de camisa preta dizendo que os caminhoneiros “estão cientes de que Bolsonaro não vai conseguir governar com o Congresso que tem aí”. E por isso, segundo o miliciano-youtuber, vão fazer um cerco ao parlamento.

Imaginem. Como se este Congresso (“que tem aí”) não tivesse acabado de ser eleito também. Repetindo. Os mais de 100 milhões de votos nos deputados e senadores não valem nada. Só os 57 milhões de votos em Bolsonaro valem. E valem tudo, dando a ele uma espécie de carta branca para ditar o que vai acontecer. Ou seja, estamos diante de uma força antidemocrática que, conquanto minoritária, é perigosa e muito agressiva.

APELANDO AOS EVANGÉLICOS

Percebendo que a manifestação poderia ser um fracasso, os olavistas-bolsonaristas (dentre os quais o presidente e seus filhos) logo se apressaram a pedir socorro aos bispos e pastores evangélicos vigaristas.

E aí cometeram mais uma patifaria. Para capturar os evangélicos mandaram trocar a hashtag #Dia26EuVou por outra: #OrePeloBRASIL. Deu certo: uma sumiu e outra apareceu no lugar: sinal de que há controle centralizado.

DIA 26 DE MAIO: SE DER CERTO, DARÁ ERRADO!

Ora, os bolsonaristas colocarem muita gente na rua no próximo domingo só depende dos rebanhos evangélicos. Mas, para tanto, salvo melhor juízo, seria necessário mais empenho dos pastores, em todos os cultos e na grande mídia.

O problema desse protesto de tipo chavista a favor do governo e contra o Congresso e o STF, na verdade, contra a política, quer dizer, contra a democracia, não é apenas se ele der errado e sim se ele der certo. Ou seja, se ele der certo, dará errado para o Brasil e para o próprio Bolsonaro.

As pessoas podem ir para as ruas, arrebanhadas por seus pastores, mas nas ruas não ficarão, pois têm de trabalhar e cuidar da vida.

O Congresso e o STF permanecerão incólumes, seja qual for o resultado da patuscada. E não têm qualquer motivo para se dobrar à vontade dos antidemocratas. Pelo contrário, se estas instituições forem acuadas, terão menos tolerância com os desmandos do populista de turno. Por exemplo, Bolsonaro terá de botar o galho dentro com essa história de governar por decretos ilegais (como o do porte de armas). Medidas assim serão canceladas por decreto legislativo e por decisões da justiça.

Não podendo governar discricionariamente, Bolsonaro terá de negociar com o parlamento (como em qualquer democracia). Se não fizer isso, aumentará a ineficiência do seu governo (que até agora não fez nada significativo para atenuar os problemas da população). Se insistir no confronto é quase certo que será impedido. Se uma coisa que a chamada “classe política” tem de sobra é instinto de sobrevivência.

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