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A única razão para votar em Lula

Bolsonaro não pode ser reeleito. Por quê? Porque o populismo-autoritário (dito de extrema-direita) que ele representa é a maior ameaça à democracia, no curto prazo, no Brasil e no mundo.

Só há uma maneira de impedir a reeleição de Bolsonaro neste 2º turno eleitoral de 2022: votando em Lula.

Mas Lula não é populista também? Claro que é. Mas o seu populismo (o neopopulismo dito de esquerda) não é uma ameaça equivalente a do populismo-autoritário bolsonarista. Não, pelo menos, no curto prazo.

O populismo-autoritário bolsonarista é uma ameaça à nossa democracia eleitoral. Quer transformar nossa democracia eleitoral em uma autocracia eleitoral (seguindo o caminho trilhado por Viktor Orbán, Recep Erdogan, Narendra Modi). O neopopulismo lulopetista quer manter nossa democracia eleitoral, dificultando que ela ascenda à condição de democracia liberal (mais ou menos no caminho de Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Fernando Lugo, Maurício Funes, Cristina Kirchner, López Obrador, Gustavo Petro – e felizmente ainda não no caminho de Nicolás Maduro e Daniel Ortega, que viraram ditadores). Ora, é melhor uma democracia (conquanto apenas eleitoral) do que uma autocracia (mesmo eleitoral). Por isso que as duas ameaças não se comparam. Bolsonaro e Lula são dois populistas muito diferentes.

Ah! Mas o Lula não é corrupto? Não importa. Roubar foi a coisa mais inocente que Lula fez. Mesmo assim, ele é preferível a Bolsonaro. Para impedir a reeleição de Bolsonaro os democratas votariam em Cunha. Votariam em Geddel (na foto que ilustra este artigo, abraçando o grande líder). Votar em Lula não é inocentá-lo. Urna não é tribunal (como disse um conhecido ex-jornalista).

Para os democratas liberais (não-populistas) votar em Lula tem apenas uma razão: impedir a reeleição de Bolsonaro. Mas…

➡️ Votar em Lula não é apoiar o PT.

➡️ Votar em Lula não é aderir ao seu futuro governo.

➡️ Votar em Lula não é deixar de criticar o populismo lulopetista.

Ou seja, para os democratas liberais (não-populistas), o voto em Lula é um voto crítico. Votam em Lula para impedir a reeleição do Bolsonaro, mas com a plena consciência de que o objetivo estratégico do PT não é só conseguir apoios eleitorais (para 2022) e sim esterilizar as alternativas liberais (democráticas não-populistas) em construção (para 2023 e além). Os democratas liberais são os principais inimigos dos populistas.

A história de que Lula se aproximou do centro (liberal) para compor uma frente ampla é uma falsificação. Não fez. Fez uma frente de esquerda e agora está querendo ampliá-la para não perder para Bolsonaro no 2º turno. É certo que, antes do 1º turno, numa jogada de marketing eleitoral, recolheu o Alckmin na rua da amargura, mas… como disse Guilherme Boulos, no último Roda Viva, “o Alckmin foi posto como expressão de uma frente democrática anti-Bolsonaro. Em nenhum momento, as ideias liberais foram incorporadas”.

Mas se Bolsonaro representa tão grande perigo para a democracia não seria melhor tê-lo eliminado logo no 1º turno? Claro que sim. Aliás, teria sido realmente melhor não tê-lo deixado chegar onde chegou. O impeachment era um imperativo democrático. Infelizmente, aqueles que achavam que era mais importante trocá-lo por Lula (no futuro) do que interromper sua trajetória autoritária (no presente) sabotaram o movimento pelo impeachment em 2020-2021, deixando nossa democracia sangrar (e centenas de milhares de brasileiros e brasileiras morrerem na pandemia e milhões de hectares de nossas florestas serem derrubadas, só na Amazônia, 24 mil Km²) – tudo para eleger mais facilmente Lula em 2022.

E Bolsonaro não foi eliminado no 1º turno porque Lula e os demais candidatos não tiveram votos suficientes. Os democratas não-populistas querem que ele (Bolsonaro) perca no 2º turno, por isso defendem o voto em Lula no dia 30 de outubro de 2022. Mas isso não significa que vão parar de fazer a necessária crítica democrática ao neopopulismo lulopetista.

O pessoal que se esforçou para construir um centro democrático (não-populista) não pode esquecer tudo, todos os seus argumentos e justificativas por terem tentado fazer isso, só porque o correto agora é votar no Lula para impedir a reeleição de Bolsonaro. Anda faltando coerência (e um pouco de compostura) nessa turma.

Sim, coerência. Os democratas que agora estão dizendo que Lula é um exemplo de luta pela democracia deveriam ter votado nele no 1º turno. E não deveriam ter articulado uma via democrática (dita de centro, liberal, quer dizer, não-populista) no 1º turno. Para quê se meteram a fazer isso se Lula já é o paradigma de democrata? Francamente!

Sim, um pouco de compostura (e de inteligência). Se não é possível hoje criticar o lulopetismo porque é imperativo impedir a reeleição de Bolsonaro, amanhã também não será possível criticar o governo Lula porque do contrário Bolsonaro volta. Sabem o que isso significa? Um suicídio dos democratas não-populistas. Pois, assim, nunca haverá um polo independente da polarização entre dois populismos. E os democratas liberais correrão o risco de serem defenestrados da cena pública.

O voto dos democratas em Lula é apenas um veto a Bolsonaro

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