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Não dá para fazer a Revolução Francesa pelo Facebook

E se desse não seria bom para a democracia

Não dá para fazer a Revolução Francesa pelo Facebook e outras mídias sociais. O jovem super-conectado, a senhorinha indignada, o sujeito de meia-idade desiludido – que querem derrubar “tudo isso que está aí” – não são exatamente os sans-culottes. E o Ministério Público e o judiciário não podem cumprir o papel de um Comitê de Salvação Nacional.

Se pudessem fazer isso, não seria bom para a democracia. Logo teríamos um Termidor, com um Napoleão nos esperando na próxima esquina.

Não foi a Revolução Francesa (1789) que reinventou a democracia, como às vezes se repete, e sim a resistência parlamentar ao poder despótico de Carlos I na Inglaterra (a partir de 1625, portanto, um século e meio antes).

É preciso entender que democracia não é revolução, no sentido atribuído pelos bolcheviques, de tomada do poder de Estado sem alterar a estrutura e a dinâmica desse poder, trocando os que estão em cima pelos que estão em baixo (ou melhor, pelos que dizem representar os que estão em baixo).

Por isso, tentar pegar uma carona na Lava Jato para reformar a política, no sentido moralista de limpá-la, praticando a antipolítica robespierriana da pureza, não é factível sem povo e, se fosse, não seria desejável porque não nos levaria para mais democracia e sim para menos democracia (como ocorreu após o reino do terror na França jacobina, entre 1793 e 1794).

E não é factível porque a maioria da população de baixa renda, embora esteja revoltada com a corrupção e não aprove o governo, não está mobilizada para derrubá-lo: os “sans-culottes” de hoje não estão no Facebook e sim vivendo suas vidas privadas e pensando se não seria melhor a volta de Lula que, apesar de ladrão, pelo menos está do lado dos pobres. E os novos “jacobinos” nas mídias sociais e nos grandes meios de comunicação, não conseguem mobilizá-los para derrubar o governo.

Não conseguem e isso não é uma opinião, mas um fato. Basta ver que, depois de tudo, depois de toda a armação Joesley-Janot-Fachin, disseminada pela Globo diariamente, durante meses, não houve uma única e miserável manifestação popular expressiva pelo Fora Temer.

Para reformar a política sem política (ou seja, dispensando os representantes políticos realmente existentes) seria necessário abolir o sistema político. Mas por mais apodrecido que esteja este sistema, ele não pode ser removido a não ser por um golpe de Estado, com a instalação de um regime de exceção, que sacrificará a liberdade em nome da salvação da pátria. Os que propõem uma saída excepcional porquanto a democracia brasileira teria perdido as condições estruturais e funcionais de corrigir seus erros, estão querendo uma solução fora da democracia (que não é a democracia ideal e sim a realmente existente).

Como não têm força, nem base social real, para fazer isso, os militantes do Facebook que querem queimar “tudo isso que está aí”, pegam apenas uma carona na crise política para fazer campanha eleitoral de candidatos populistas e autoritários, seja os que fazem um discurso redentor (como Bolsonaro, o macho branco e honesto no comando), seja os que se apresentam como salvadores (como Lula, o demiurgo que deveria voltar).

Isso significa que a “revolução francesa” dos moralistas terminará nas urnas de 2018, ou seja, não passará de uma campanha eleitoral. Com forte tendência de ser uma disputa eleitoreira aprisionada no campo autocrático, se não aparecer, em tempo hábil, um candidato novo, não envolvido em corrupção, no campo democrático.

E os que querem reformar a política a partir de corporações enquistadas no Estado (trocando o fazer político pela torcida, apostando na multiplicação de denúncias, condenações e punições judiciais) empurrarão a Lava Jato para um destino semelhante ao da Mani Pulite.

E não duvidem que um Berlusconi pode estar nos esperando na próxima esquina.

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