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O bolsonarismo está levando o país para um beco sem saída institucional

A desconsolidação institucional promovida voluntariamente pelo chefe de governo, seus filhos, seu guru e seus sequazes, está sendo escalada

Considero gravíssimo o que os chefes do bolsonarismo (com a autorização de Jair Bolsonaro e a coordenação de seus filhos, sobretudo Carlos) estão fazendo ao chamar o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, de traidor, vendido e comunista. O ataque é orquestrado. Todos (ou quase todos) os hubs da rede descentralizada bolsonarista aderiram a ele. Houve uma decisão, portanto. E essa decisão leva a um beco sem saída institucional.

Só se eles estão pensando em uma saída extra-institucional, violando o Estado democrático de direito para alcançar seu objetivo anti-establishment, ou seja, a sua revolução de extrema-direita, populista-autoritária e antidemocrática.

Os bolsonaristas subiram hoje (24/09/2014) para o primeiro lugar dos TT do Twitter a hashtag #CalaBocaMourão (às vezes juntamente com as variantes #OlavoTemRazão e #CarlosTemRazão).

Vejamos um exemplo do que eles estão dizendo (no PrtScn) abaixo:

Ou seja, houve uma decisão centralizada (sob o comando dos filhos de Bolsonaro, com a anuência do pai – como sempre) de abrir guerra contra o vice-presidente e eliminar a possibilidade de diálogo na medida em que Mourão é apresentado como traidor e, portanto, inimigo.

É uma tática arriscada (mesmo se aventarmos a possibilidade de ser um jogo combinado, com propósitos diversivos ou estratégicos – de manter aquecido o ambiente, em clima de guerra). É muito perigoso.

Qual a força político-militar desses caras (ou, quantas divisões têm os olavistas, perguntaria Stalin)? Se apenas cerca de 40 pessoas bolsonaristas (que funcionam como hubs de uma rede descentralizada, mais centralizada do que distribuída) forem “neutralizadas” (a expressão é de Flávio Bolsonaro, mas não a uso, como ele, no sentido de exterminar vidas humanas e sim no sentido político do termo), acaba a possibilidade de organização – que ainda é incipiente – do bolsonarismo como força política duradoura (posso apresentar – e vou, mais adiante – a lista desses 40).

Qual será o próximo passo para aumentar a capacidade de governo (em um governo cujos primeiros escalões estão ocupados, infestados, aparelhados, por mais de uma centena de militares – quase 150)?

Ora, Mourão não vai renunciar, Mourão não pode ser demitido, Mourão não pode sofrer impeachment. Mourão pode sempre desconversar e se esconder dos holofotes, mas… e os outros generais, almirantes, brigadeiros? Vão todos virar burocratas servis, trocadores de fraldas sujas do indisciplinado capitão e de seus filhos mimados? Isso corresponderia à completa desmoralização das forças armadas. Nada disso é plausível.

Ou será que o bolsonarismo-olavismo está apostando numa revolta da baixa oficialidade, dos sargentos, cabos e soldados contra os seus comandantes? Se for isso, mais grave ainda.

Que eles queiram manter o país numa guerra civil fria, é o óbvio. Mas e o risco de isso descambar para uma guerra quente mesmo, com levantes, rebeliões, insurreições?

Querem usar os militares para intervir nos outros poderes (como já propuseram fazer com o STF, submetendo-o ao STM) ou para engajar o Brasil numa guerra (por exemplo, contra a Venezuela – como queriam Eduardo Bolsonaro e Ernesto Araújo)?

Sim, porque, sem um fato extraordinário desse tipo, em condições normais de temperatura e pressão, seus objetivos de destruir o establishment (ou o “estamento burocrático”) não será atingido e eles sabem disso.

Como eles sabem disso, cabe a pergunta: os bolsonaristas querem dar um golpe (no caso, um auto-golpe) apoiados pelo povo nas ruas ou pelas milícias que atuam nas mídias sociais?

É o que está parecendo. Mas…

O EXÉRCITO DE BRANCALEONE NÃO DÁ 40 PESSOAS

No estágio atual do projeto “revolucionário” (para trás), antissistema, do bolsonarismo, se as pessoas mencionadas na lista abaixo pararem de emitir diretivas, se alguns desses hubs forem desativados (pela pressão social pacífica ou por outro meio legal), o bolsonarismo propriamente dito se desfaz.

Claro que – do ponto de vista da democracia – isso não resolve o problema: há ainda os instrumentalizadores políticos da operação Lava Jato (os cruzados lavajatistas do “partido da polícia”) e os militares que ocuparam o governo às dezenas – todos aliados caroneiros (que surfaram na onda Bolsonaro). Mas o bolsonarismo propriamente dito, como força política estratégica ainda em organização (orientada pelo olavismo-bannonismo), se desfaz.

01 – Carlos Bolsonaro

02 – Eduardo Bolsonaro

03 – Flávio Bolsonaro

04 – Olavo de Carvalho

05 – Abraham Weintraub

06 – Alexandre Borges

07 – Alexandre Garcia

08 – Allan dos Santos

09 – Ana Caroline Campagnolo

10 – Ana Paula

11 – Augusto Nunes

12 – Bene Barbosa

13 – Bernardo Küster

14 – Bia Kicis

15 – Bruno Garschagen

16 – Carla Zambelli

17 – Damares Alves (trata-se de uma fundamentalista-evangélica levada ao bolsonarismo pelas circunstâncias)

18 – Danilo Gentili

19 – Emilio Dalçoquio (empresário que puxou o locaute dos caminhoneiros)

20 – Ernesto Araújo

21 – Fabio Wajngarten

22 – Felipe Moura Brasil

23 – Flavio Morgenstern (Flávio Azambuja Martins)

24 – Flavio Rocha

25 – Filipe Martins

26 – Filipe Valerim (e a galera do Brasil Paralelo, que se esforça para não aparecer)

27 – Italo Lorenzon

28 – Joice Hasselmann

29 – José Carlos Sepúlveda

30 – Leandro Ruschel

31 – Luciano Hang (dono das Lojas Havan)

32 – Luiz Philippe de Orleans e Bragança

33 – Marcelo Reis

34 – Meyer Nigri

35 – Nando Moura

36 – Osmar Stábile (o cara que assumiu ter financiado o vídeo de falsificação histórica sobre o golpe de 1964 divulgado criminosamente pelo Planalto)

37 – Ricardo de Aquino Salles

38 – Roger Moreira (parecido com o Lobão, porém muito mais reacionário)

39 – Sebastião Bomfim (empresário)

Uma lista? Sim, uma lista. Essas pessoas têm de vir a público dizer claramente à sociedade brasileira se estão querendo dar um golpe de Estado ou não. Ou então têm a obrigação de nos explicar como pretendem destruir o sistema, eliminar o tal “estamento burocrático”, dentro das regras do Estado democrático de direito. É uma pergunta retórica, claro. Não há como.

A desconsolidação institucional promovida voluntariamente pelo chefe de governo, seus filhos, seu guru e seus sequazes, está sendo escalada.

Carta aos amigos do mercado financeiro, por Renan Santos do MBL

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