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O que é realmente o MST

Agora, que está para ser instalada mais uma CPI do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra -, é bom que as pessoas saibam algumas coisas sobre esse movimento.

O MST surgiu, no Rio Grande do Sul, na passagem da década de 70 para a década de 80 do século passado. Na época dos eventos de Ronda Alta e Encruzilhada Natalino (1981) já se destacavam duas lideranças: o Saul Barbosa e o João Pedro Stedile (que trabalhava na Secretaria de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul). O movimento cresceu a partir do que se chamava de “trabalho de base”, fazendo entrismo em alguns ambientes configurados pela igreja da ideologia da libertação.

Inicialmente, o MST era um movimento reivindicatório de luta por terra para morar e plantar. Talvez um dos primeiros folhetos que deu origem ao movimento seja o da foto abaixo (panfletado em maio de 1981 para os colonos acampados em Ronda Alta):

Logo depois, entretanto, não se pode precisar bem a data, o MST passou a se organizar em camadas. Foi virando uma organização política (estratégica), de caráter marxista-revolucionário, com a roupagem de um movimento social. Ou seja, na sua camada externa o MST continuou sendo um movimento social de luta pela terra. Na sua camada intermediária, uma organização política de formação de militantes marxistas. Na sua camada interior (o inner circle), uma organização estratégica de dirigentes que luta por uma revolução social de caráter socialista.

No início o movimento social lutava pela reforma agrária. Com a mudança da base produtiva no campo (e a ascensão do agronegócio), a luta pela reforma agrária deixou de ter o papel revolucionário que antes se lhe atribuia e passou a ser um pretexto para manter vivo o movimento e para permitir a montagem de um grande aquário para pescar militantes (na base do fish in a barrel). Ou seja, as invasões de propriedades rurais organizadas pelo MST viraram um meio para recrutar agentes para a segunda camada: a organização de quadros em formação, quase que uma espécie de “igreja militante”, alimentada por uma ideologia revolucionária.

O MST externo, porém, sempre carregou uma contradição. Cada sem terra assentado deixava de ser um integrante da luta pela conquista de terra. Ou seja, quando o movimento reivindicatório triunfava a organização diminuia. Foi aí que apareceu a ideia de organizar cooperativas de pequenos produtores rurais. Isso acabou adquirindo um triplo (ou quádruplo) papel: manter a conexão e a influência sobre os participantes que conseguiram sua terra, servir como uma espécie de escudo para justificar o movimento e lavar sua má reputação de invasor de propriedades públicas e privadas (inclusive produtivas ou voltadas à pesquisa) e ter personalidades jurídicas disponíves para receber recursos e transacionar no Brasil e no exterior (coisa que o MST – por razões óbvias – fez questão de não ter até hoje). Organizar cooperativas de produção de alimentos orgânicos funcionaria como uma espécie de greenwashing ou socialwashing (se isso não fosse feito realmente: mas foi, com a produção em alta escala de arroz orgânico, por exemplo).

Enquanto isso, porém, a camada intermediária, ia sendo organizada. O vídeo abaixo dá uma mostra dos ritos ou da liturgia da organização intemediária (a “igreja militante”):

Uma evidência do caráter revolucionário do movimento é que, mais uma década depois de fundado, o MST criou sua própria escola de formação de militantes (o que, convenhamos, não é bem próprio de um movimento social). Trata-se de uma escola de marxismo, conforme está publicado no site do próprio MST: “Conheça a Escola Nacional Florestan Fernandes, há 15 anos formando militantes. Inaugurada em 23 de janeiro de 2005, escola do MST trabalha com clássicos marxistas…”

Algumas fotos da Escola Nacional Florestan Fernandes em funcionamento (com banners de Marx e Lenin nas paredes e faixas pedindo o socialismo) dispensam legendas:

É claro que o caráter partidário (ou para-partidário) do MST (e de seus aliados) não consegue ser escondido:

Mas basta examinar os currículos e o material didático usados na Escola Nacional Florestan Fernandes, centro de formação de militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, para comprovar que o MST é uma organização marxista revolucionária.

Um exemplo. “A luta reivindicatória e econômica, por si só, não vai além do remendo… só a luta política, feita por uma organização de quadros selecionados, é capaz de canalizar o embrião da luta econômica para a transformação social”. Eis um trecho da cartilha disponível no site do MST. A cartilha “Luta popular e modelo orgânico”, elaborada por Ranulfo Peloso, do Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae, é um material de referência para a formação de militantes do MST.

Aliás, para quem quiser investigar as origens do MST, é importante conhecer o papel inicial do Instituto Sedes Sapientiae e suas relações com ex-combatentes da ALN que começaram a deixar a cadeia no final da década de 70. É possível que parte dos primeiros quadros revolucionários do MST tenha sido formada ali. Esses quadros, note-se, em boa parte foram extraídos de setores médios urbanos, inclusive com formação universitária e nunca tiveram qualquer experiência de morar e trabalhar na área rural. E até hoje parece ser assim.

Simultaneamente, o MST criou escolas (inegavelmente de doutrinação marxista ou de analfabetização democrática) para suas próprias crianças, num movimento chamado Sem Terrinhas (cuja estética é exatamente a mesma das organizações bolivarianas voltadas à infância na ditadura da Venezuela).

Além dessas, existem centenas de evidências de que o MST é uma organização política revolucionária. Basta ver, por exemplo, suas relações internacionais com ditaduras de esquerda (como Venezuela, Cuba, Nicarágua etc.). Abaixo Stedile, em um momento de intimidade com o ditador Nicolás Maduro:

Em seguida Stedile em Havana, junto com a comitiva do PT e vários ditadores latino-americanos, nas exéquias de Fidel:

Tudo isso é lamentável do ponto de vista da democracia (que não pode aceitar ditaduras). Mas nada disso é proibido em uma democracia, desde que o MST não infrinja as leis (como faz no caso das invasões de terras). Na época da ditadura militar – quando o MST nasceu – isso era até aceitável, pois que as leis de uma ditadura não podem ser consideradas legítimas. Numa democracia, porém, essa prática de invasão de propriedades do MST atenta contra o Estado democrático de direito.

Dito isso, é preciso ver que, desde que não viole as leis do país, o MST tem o direito de se organizar politicamente (mesmo que de forma clandestina). E tem até o direito de querer nos enganar dizendo que é apenas um movimento social. Assim como nós – os que valorizamos a democracia – temos o direito de investigar suas origens e o seu caráter político antidemocrático para não nos deixarmos enganar.

Não se trata de demonizar o MST. Muitos de nós que nos convertemos tardiamente à democracia – como eu, que escrevo este artigo – fizemos coisas parecidas no passado, porém antes da queda do muro de Berlim. O diabo é continuar fazendo a mesma coisa na terceira década do século 21.

Por último, diz-se que o MST é um mero aparelho do PT, uma correia de transmissão do partido no movimento social. Não é exatamente assim. As relações estratégicas do MST com o PT existem, mas com o “Partido Interno” (a referência aqui, para quem não se recorda, é ao 1984 de George Orwell). Isso, porém, já é assunto para outro artigo.

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