Bolsonaro está dizendo para Trump: Eu sou você amanhã. E está também nos dizendo isso. Se não ouvirmos o que ele diz vamos viver uma situação parecida em 2022. Ele inventará uma fraude, tentará melar o jogo e resistirá para não sair do poder. A hora de tirar Bolsonaro é agora.
Não se pode manter Bolsonaro na presidência até 2022 para, chegando lá, ele copiar o comportamento de Trump. Aqui as instituições são bem mais fracas do que nos EUA. É um risco muito grande deixar o tirano no poder por tanto tempo. Bolsonaro tem que ser parado antes que seja tarde.
Não se enganem. Está em curso um golpe de Estado nos Estados Unidos. Pode até não dar certo (é o mais provável), mas que está ocorrendo um golpe na democracia americana, isso é inegável. É bom abrir o olho.
A tese já é meio antiga. Populistas dificilmente saem do poder apenas pelo voto. A exceção que confirma a regra foi Maurício Macri derrotando o populista Daniel Scioli em 2015 na Argentina. Não há outro exemplo recente. Trump vai acabar saindo, é claro, mas não facilmente. O que corrobora o que está escrito: populistas dificilmente saem do poder apenas pelo voto.
É gravíssimo o que está acontecendo não apenas nos USA, mas também no Brasil. Os populistas-autoritários não estão recuando diante de qualquer resultado adverso. Partiram para o tudo ou nada. Trump disposto a virar a mesa nos USA. Bolsonaro disposto a tudo para destruir governos eleitos.
O Timothy Snyder (2017) em “Sobre a tirania”, já havia percebido. O que possibilitou a ascensão de Pútin ao poder foi a eliminação de duas instituições importantes — os meios de comunicação televisivos e os governos regionais eleitos. Destruir governos eleitos, que não se subordinam a ele, é o propósito de Bolsonaro: neste exato momento ele está em campanha dizendo para ninguém votar em prefeitos que decretaram distanciamento social como medida sanitária cautelar diante da pandemia. Mas antes, bem antes, ele já tramava, com setores próximos (e a gente sabe quais), a prisão de governadores em razão dos procedimentos de exceção adotados para a aquisição de respiradores e EPIs (e, claro, da eventual corrupção que provavelmente também aconteceu).
Os populistas-autoritários não estão recuando diante de resultados adversos. Trump não aceitou o legítimo resultado das urnas e está melando a apuração. Bolsonaro, mesmo diante da queda de sua popularidade nas capitais, não abandonou as suas investidas contra a democracia.
O problema dos trumpistas e seus imitadores bolsonaristas é que eles não têm saída. Não podem voltar. Tendo ido aonde foram, agora só lhes resta prosseguir no caminho insano. O Armagedon contra o comunoglobalismo. Como isso não vai ocorrer, teremos apenas mais agitação na zumbilândia desestabilizando a democracia. Mas na impossibilidade de um apocalipse que lhes dê novo Céu e nova Terra, vão se prorrogando no poder dentro de seus países.
O único movimento democrático responsável que deve ser impulsionado agora é a campanha pelo impeachment de Jair Bolsonaro. Ah! Mas não há votos suficientes para isso no Congresso. Exato! É claro que não há. Por isso a campanha é necessária. Para ganhar os votos suficientes.
Algumas pessoas pensam que o impeachment é a votação do impeachment na Câmara e, depois, no Senado. Está errado. O impeachment possível agora é a campanha do impeachment. Ninguém começa uma campanha já tendo os votos suficientes. Se fosse assim não seria necessária nenhuma campanha.
Uma nova janela para o impeachment vai se abrir depois do fracasso eleitoral de 2020, da crise econômica e do fim da aliança com o presidente dos Estados Unidos. Com a posse de Joe Biden, Bolsonaro vai ficar pendurado na brocha – e isso vai além, muito além, da política externa. Cabe ver se ela será aproveitada ou se será fechada.
Como escreveu hoje o Reinaldo Azevedo no seu blog no Uol:
“Aqueles que dão sustentação a Bolsonaro no Congresso, impedindo a formação dos dois terços que deveriam mandá-lo para casa, não são sócios apenas do governo, por intermédio dos cargos distribuídos pelo general Luiz Eduardo Ramos. São também seus parceiros na necropolítica — a política da morte — e, com ele, usam uma montanha formidável de cadáveres como palanque. Não há esgoto moral semelhante na história do país”.
A campanha pelo impeachment deve focalizar esses apoiadores fisiológicos de Bolsonaro. Eles devem ser listados e acossados democraticamente, em todo lugar.
Especulações sobre as eleições de 2022, além de prematuras, são diversivas. Bolsonaro tem de ser apeado do poder antes de 2022. O imperativo democrático da hora não é ficar imaginando uma vitória eleitoral futura e sim interromper o projeto antidemocrático de Bolsonaro agora, antes que ele se enraíze ainda mais.
Bolsonaro não foi – e não será – domesticado pelo centrão. O jornalismo político precisa abandonar o comportamento de rebanho e cair na real. Bolsonaro continua o mesmo. Seu projeto populista-autoritário continua o mesmo. Ele se prepara para dar um golpe na nossa democracia. Os democratas temos que nos antecipar e retirá-lo do governo.