Existem numerosos artigos sobre isso. Quase todos diagnosticando o problema e alguns apresentando algumas soluções (ainda que sempre precárias ou provisórias). Vejam na Nota (1) uma lista destes artigos (publicados ou republicados aqui no site Dagobah).
No texto abaixo apresentamos medidas práticas para tentar solucionar o problema. É claro que elas são francamente insuficientes e dependem da adesão das pessoas que conseguem ler um texto de mais de uma página. Mas já é um começo.
10 MEDIDAS CONTRA A MANIPULAÇÃO DAS MÍDIAS SOCIAIS
Seguem dez medidas para começar a quebrar a manipulação hierárquica das mídias sociais promovida, sobretudo, pelos populismos ditos de esquerda ou de direita:
1 – Não se impressione com o burburinho fabricado nas mídias sociais. Não se paute por isso. Assobie e ande para esse tipo de reverberação industriada, comandada e controlada, pelos que querem deformar o campo social, quer dizer, as redes.
2 – Não replique mensagens, artigos ou “memes” recebidos sem verificar a fonte e, sobretudo, sem conversar com quem lhe enviou. Conversar é fundamental. Se você não puder conversar com uma pessoa, se ela fica lhe mandando mensagens para replicar, mas não lhe responde, se não houver réplica e, sobretudo, tréplica, (quase) não há interatividade e o seu interlocutor não é um player válido em termos sociais. Na dúvida, não compartilhe.
3 – Bloqueie imediatamente os milicianos virtuais em todo lugar (inclusive no Facebook e no Twitter). Não tente conversar com eles porque é inútil: ou são bots ou pessoas-bot (borgs). Eles não querem conversar com você. Querem colonizar sua timeline, seu mural, seus campos de comentários em sites e blogs (neste caso, se houver infestação, feche imediatamente os campos de comentários: os militantes combinam entre si essas infestações – em geral pelo WhatsApp ou pelo Telegram – para sufocar os autores de posts dos que julgam inimigos ou desalinhados e desarticular a interação amistosa, a conversação criativa entre os amigos). Em grupos do Facebook simplesmente exclua essas pessoas ao menor sinal. Não pense duas vezes, não dê uma chance, marque todas as opções de exclusão de pronto: exclua todas as publicações do indivíduo nos últimos 7 dias, exclua todos os seus comentários nos últimos 7 dias, recuse todos os membros pendentes convidados pelo miliciano e exclua-o também de todos os outros grupos que você administre.
4 – Saia de todos os grupos de WhatsApp que tratam de política se notar a presença de populistas (de esquerda ou direita, tanto faz) e aconselhe seus amigos, parentes e conhecidos a fazer o mesmo. Ou, se puder, exclua tais pessoas sumariamente. O WhatsApp é hoje o principal instrumento de broadcasting privado e de manipulação da rede social ao permitir o fluxo descendente em árvore. Pressione o WhatsApp (Facebook) para que não permita mais tal deformação (um hub não pode replicar mensagens para dezenas de grupos que, por sua vez, replicarão, sem interação, a mesma mensagem para centenas e milhares de outros grupos: isto é o fluxo descendente em árvore, com topologia mais centralizada do que distribuída).
5 – Nunca olhe para as hashtags que sobem para os TT no Twitter. Simplesmente ignore essa porcaria. É quase tudo falsificado pelas milícias virtuais. Não tente subir outras hashtags para travar uma guerra virtual. Pressione o Twitter para mudar os algorítimos que permitem tal manipulação (sim, é possível fazer isso: já sabemos como).
6 – Não entre na página inicial (feed de notícias) do Facebook. Entre no seu perfil, nos perfis ou nas fanpages das pessoas que você quer ler e com as quais quer conversar, entre nos seus grupos e em grupos em que você confia, mas nunca abra a página inicial, se não quiser ser puxado pelo nariz como gado pelos algoritmos caixa-preta do Facebook (2). É você que deve escolher o que quer ver, não eles para você. Dá vontade de dizer: Darth Zuck VTNC!
7 – Converse diariamente com seus amigos em qualquer ambiente de troca de mensagens sobre o qual vocês tenham controle da entrada de participantes. Na rede você não precisa falar para milhões e, nem mesmo, para milhares. Não é para fazer broadcasting (padrão de difusão um-para-muitos). Basta que você converse com seus amigos, que conversarão com os amigos deles, que conversarão, por sua vez, com os seus próprios amigos (os amigos dos amigos deles) e assim por diante. Este é o fluxo normal nas plataformas de netweaving da rede social. As que permitem o broadcasting privado estão trabalhando contra a (verdadeira) rede social.
8 – Aprenda a fazer netweaving (articulação e animação de redes sociais, quer dizer de pessoas interagindo enquanto estão interagindo por qualquer meio e nunca confunda isso com as mídias sociais, que são meras ferramentas) (3). Redes são pessoas e os sites das redes (usados por essas pessoas) não são as redes. O netweaving é a única maneira de hackear o hacking centralizado promovido por milicianos virtuais a serviço dos populistas (de esquerda ou de direita) e pelo sharp power das grandes potências.
9 – Instale novas government-less internets (redes mesh e outras) acessíveis às suas comunidades de vizinhança, de prática, de aprendizagem e de projeto. Se puder, ajude a desenvolver tecnologias e protocolos de interligação entre essas novas internets menos controláveis.
10 – Se você tiver vontade e condições para fazer isso: ajude a desenvolver novas mídias interativas (sociais) mais adequadas ao netweaving e menos manipuláveis pela intervenção hierárquica.
Notas
(1) Leia os seguintes artigos:
Virou um imperativo democrático impedir a manipulação hierárquica das mídias sociais
Poder computacional: automação no uso do WhatsApp nas eleições
Vivemos hoje mais netwar do que política (democrática): mas o problema é a guerra, não o WhatsApp
Da libertação à desordem: redes sociais [leia-se: mídias sociais] e democracia
As mídias sociais ameaçam a democracia?
As mídias sociais contra as redes sociais
Contra a manipulação: precisamos de mídias sociais a favor e não contra as redes sociais
Como destruir a cultura política democrática manipulando as mídias sociais
Por que temos tanta dificuldade de comunicação nas mídias sociais
(2) Dizem que há uma maneira de fazer isso: Saiba como remover o Feed de Notícias do Facebook
(3) Não se sabe bem onde surgiu pela primeira vez o termo ‘netweaving’ para designar genericamente articulação e animação de redes sociais. David de Ugarte alega que foi ele que inventou a palavra em 1999: “La palabra netweaving fue creada en 1999 por David de Ugarte para definir el objetivo de Piensa en Red. El término ni siquiera existía en los buscadores en aquella época, pero fue pronto consagrado por Juan Urrutia en La lógica de la abundancia, un largo artículo publicado en la revista Ekonomiaz en el que se planteaba por primera vez la lógica de la abundancia como principio ordenador de las redes distribuidas”. Mas essa alegação parece não ser verdadeira, de vez que ela – a palavra ‘netweaving’ – pode ser encontrada em um artigo de março de 1998: “Netweaving alternative futures – Information technocracy or communicative community?” de Tony Stevenson. O termo foi desenvolvido e largamente empregado por mim (Augusto de Franco), a partir de 2008, com outro sentido, afinal consolidado em Fluzz (2011), sobretudo no tópico final do Capítulo 7, intitulado “Reprogramando sociosferas” e no tópico “Netweaver howto” do Capítulo 9. Neste último, em especial, esclarece-se o sentido com que a palavra é utilizada aqui: “Para fazer netweaving não há nenhum conteúdo substantivo (filosófico, científico ou técnico) que você tenha que adquirir: basta desobedecer, inovar e tecer redes. Isto sim, você vai ter que aprender: a tecer redes – da única maneira possível de se aprender isso: interagindo com outras pessoas sem erigir hierarquias (sem mandar nos outros e sem obedecer a alguém). Isto é netweaving!”.