Se os que votaram em Simone Tebet achassem que Lula seria um governante adequado, teriam votado logo nele no 1º turno – e não nela. Se não votaram nele é porque tínham razões suficientes para não fazê-lo. Os que votaram em Simone o fizeram porque ela não era Lula, nem Bolsonaro.
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Simone Tebet falou ontem sobre seus planos para 2026. Mas agora isso é diversivo e soa mais como um álibi para aderir ao governismo. Estamos precisando que ela fale sobre os seus planos de defesa da democracia e do desenvolvimento humano e social sustentável para 2023, 2024, 2025… Sim, o Brasil não vai ficar parado esperando 2026. Ninguém votou em Simone para 2026. E também não foi para ela fazer carreira.
Como seria o teatro? Simone entra no governo e se abstém de criticá-lo publicamente (como é forçoso neste caso) até o final de 2025? Aí então inventa um pretexto para romper com o governo e lança sua candidatura em 2026? Ou será que ela está achando que o PT vai apoiá-la para suceder Lula?
Quem integra um governo não pode criticá-lo publicamente. É o óbvio: ninguém pode ser, ao mesmo tempo, governo e oposição. Ocorre que oposição democrática é necessária numa democracia. Se todo mundo apoiar o governo, a unica oposição que teremos será antidemocrática: a dos bolsonaristas. Uma oposição antidemocrática como a bolsonarista degrada o regime e contribui para erodir nossa democracia.
O bolsonarismo não desistiu. Não aceitou o resultado das urnas, está negando a legitimidade do pleito e do próximo governo. Vai ser essa a tônica nos próximos anos, sob a atuação de uma oposição antidemocrática. Mais um motivo para despolarizar e articular uma oposição democrática.
Não há governo de transição possível (como alguns acham que será ou deveria ser o governo Lula) se todos os que se opõem ao bolsonarismo estiverem na coalizão governista. E se todos os que se opõem à Lula forem capturados pelo bolsonarismo. Isso só prorroga a divisão da sociedade brasileira. É loucura!
Portanto, o papel democrático principal de Simone Tebet seria o de ajudar a articular uma oposição democrática que pudesse: a) elogiar e apoiar medidas que avaliasse favoráveis à democracia (e, poder-se-ia acrescentar, ao desenvolvimento humano e social sustentável), b) criticar medidas que julgasse desfavoráveis e apontar alternativas, e c) além disso, aí sim, tentar substituir o governo eleitoralmente em 2026 ou antes, se for o caso, mas sempre segundo a Constituição e as leis, procurando não violar as regras não-escritas da democracia sem as quais não se sustenta qualquer sistema legal.
Como tenho repetido, sem uma oposição democrática a bipolarização (ou a divisão) da sociedade brasileira continuará por mais quatro e, talvez, oito anos. As enormes tensões que se acumularão em razão desse embate entre ditos progressistas, de um lado e ditos fascistas, por outro, não terão válvula de escape. Dificilmente sairá daí mais-democracia.
E há um campo para trabalhar uma alternativa democrática não-populista. Nesse campo estão potencialmente: 1) os que votaram em Lula só para remover Bolsonaro; e 2) parte dos que não votaram em ninguém ou até votaram em Bolsonaro apenas para impedir a volta do PT ao governo. Somam mais de 30 milhões de almas.
Ao que tudo indica, porém, Simone Tebet, pelo menos até agora, vem recusando esse papel. Perdem com isso a democracia brasileira e inclusive ela, Simone, como liderança emergente, com voz própria, capaz de andar com as próprias pernas e não ficar dependendo de um líder populista que dificilmente saírá do século passado.
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