Augusto de Franco
Os bolsonaristas querem dizer que o comportamento da polícia militar do Ceará foi apenas uma reação à agressão de Cid Gomes, que usou uma retroescavadeira para invadir um quartel e, supostamente, matar seus ocupantes. Os tiros desfechados contra o senador teriam sido apenas legítima defesa.
É falso! Cid, herdeiro do velho coronelismo, quis enfrentar os policiais amotinados na marra. Foi um erro e ele deve ser responsabilizado por isso. Mas o motim de policiais militares encapuzados e armados não começou aí.
Muito antes disso a tropa sublevada já percorria as ruas de Sobral ordenando que o comércio fechasse suas portas e aterrorizando a população civil. Muito antes disso, eles já haviam promovido um motim em quarteis, sequestrando viaturas e depredando bens públicos. Há vídeos sobre isso: o principal mostra bandos armados e encapuzados, em carros da polícia, mandando comerciantes fecharem as portas. Inclusive um, publicado pelo G1, onde aparece policial militar atirando com arma de fogo no meio da multidão.
O erro de Cid Gomes não justifica o banditismo policial-militar. Como sempre, os bolsonaristas falsificam a história.
A Constituição proíbe explicitamente a sindicalização e a greve de policiais militares.
Motins de policiais militares encapuzados e armados são atos de organização criminosa. Se intimidam a população civil para fazer propaganda de suas causas, fica configurada a prática de terrorismo.
Raul Jungmann, ex-ministro da Segurança Pública, escreveu hoje (20/02/2020) em artigo em O Estado de São Paulo:
“Como o Estadão já demonstrou, as milícias não são privilégio do Rio, mas são encontradas em 23 dos 27 Estados da Federação. E todas, sem exceção, são formadas e/ou comandadas por policiais da reserva ou da ativa”.
Será que esses soldados e oficiais da PM do Ceará, ora em sublevação armada, são aqueles que estão fazendo de graça o cursinho de anticomunismo do orvalho de cavalo? Ou seriam aqueles “Amigos dos Amigos de Adriano”? O que fez Cid está errado, mas isso não justifica o terrorismo.
Mais uma tarefa para o jornalismo investigativo, já que a polícia federal de Moro não fará isto. Localizar os “Amigos dos Amigos de Adriano” nas Polícias Militares das várias unidades da Federação.
