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Um programa de aprendizagem da democracia a partir de livros e filmes

Este é um programa de aprendizagem da democracia que foi realizado pela primeira vez no verão de 2015 com cerca de 100 participantes. Ele deverá ser adaptado e ofertado novamente em um dos itinerários da Escola de Agentes Democráticos a partir de 2023.

O QUE ESTAMOS FAZENDO NO PROGRAMA CHAMADO 100 DIAS DE VERÃO

Publicado em 11 de março de 2015 no grupo do programa 100 DIAS DE VERÃO no Facebook

Por que investigamos tanto as distopias? Porque são livros-chave para decifrar códigos de programação da rede social.

Empregamos boa parte de nosso tempo investigando e até promovendo programas de aprendizagem baseados na leitura das distopias como – entre outras – A Nova Utopia de Jerome K. Jerome (1891), Nós de Yevgeny Zamyatin (1921), Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley (1932), A Revolução dos Bichos e 1984, de George Orwell (1945 e 1949) e Fahrenheit 451 de Ray Bradbury (1953). Não fazemos isso porque achamos que no futuro vão acontecer mundos parecidos com os descritos por esses autores. Fazemos isso porque esses mundos estão acontecendo agora. Os mesmos padrões hierárquicos de organização e os mesmos modos autocráticos de regulação aventados por Jerome, Zamyatin, Huxley, Orwell e Bradbury (para citar apenas alguns) estão presentes em muitos mundos sociais realmente existentes e adjacentes aos nossos, mas nem sempre somos capazes de reconhecê-los. As distopias são construções imaginativas que realçam, em alguns casos levando ao paroxismo, as deformações no fluxo interativo da convivência social, evidenciando as principais perturbações no campo e com isso permitindo a identificação de características autoritárias e totalitárias que dificilmente seriam percebidas nas rotinas dos mundos em que vivemos. Elas fornecem, assim, os esquemas e as disposições teoréticas e simbólicas do que pode se manifestar quando configurações sinérgicas (ou seja, estruturas e dinâmicas que condicionam o fluxo interativo de modo congruente) são replicadas.

É claro que a realidade (seja lá o que for) é sempre mais ousada do que as criações dos ficcionistas distópicos. Nenhuma distopia conseguiu antever ou agravar a deformação promovida nas sociedades soviéticas durante o período do Grande Expurgo stalinista. Nenhum dos livros citados neste artigo chegou perto do que se faz nos dias que correm na Coreia do Norte. Nenhum autor conseguiu imaginar um horror semelhante ao que se instalou no último ano em Raka, ocupada pelo Estado Islâmico. Mas essas exacerbações de formas de comportamento político anti-humano são singularidades que podem acabar cumprindo o perigoso papel de nos alienar do essencial. E o essencial é perceber na nossa vida cotidiana, aceita como normal, as manifestações desses padrões.

Não é mera coincidência que muitos dos padrões do livro 1984 (Nineteen Eighty-Four) de Orwell estejam presente num treinamento ideológico realizado por grupos jihadistas ou que o duplipensar orwelliano esteja presente em qualquer discussão com militantes de organizações políticas autocráticas. Nem que os argumentos simplórios de A Nova Utopia de Jerome estejam sendo reproduzidos pela militância de protoditaduras latino-americanas em plena segunda década do século 21, ou seja, mais de um século depois. Ou que a subordinação da liberdade à igualdade ainda constitua o centro articulador do pensamento autoritário em todo mundo. Como dizia o marxista heterodoxo Ernst Bloch (1935) em The Heritage of Our Times, “nem todas as pessoas existem no mesmo Agora”. Essa teoria blochiana da “não-contemporaneidade” só se torna, porém, compreensível, quando percebemos que as pessoas são emaranhados sociais (e não indivíduos isolados) e que a época em que elas vivem depende da configuração dos ambientes em que convivem. As distopias, são, dessarte, livros-chave para decifrar códigos de programação da rede social. Na medida em que rede é fluxo (ou seja, metabolismo-e-corpo, dinâmica-e-estrutura) a programação da rede é também uma reprogramação do tempo e por isso é tão difícil estabelecer sintonias com certas pessoas que estão vivendo em outros ambientes. Porque – mesmo estando co-presentes, na nossa vizinhança – elas estão vivendo em outro tempo.

Os testes abaixo procuram estimular a descoberta de pistas. Depois de ler os livros e assistir os filmes, não deixe de ler e refletir sobre as questões que eles levantam.

MÓDULO 1 – A NOVA UTOPIA E THX 1138

Livro | A nova utopia

Jerome K. Jerome (1891)

QUESTÃO 01
01 – Podemos caracterizar o mundo distópico de A Nova Utopia de Jerome K. Jerome como uma autocracia? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não, porque lá tudo é decidido por maioria em eleições regulares e frequentes.
b) Não, porque lá todos têm o direito de votar e não há nenhuma diferença entre homens e mulheres.
c) Não, porque lá vigora o regime da maioria (e é a maioria que decide o que é melhor para a sociedade).
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 02
02 – Quais os principais indicadores de autocratização da vida cotidiana no mundo utópico de A Nova Utopia de Jerome K. Jerome? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não é possível identificar tais indicadores no texto.
b) A limpeza e a pureza (a aversão à sujeira e à contaminação pelo contato com o que é impuro).
c) As formas geométricas retilíneas (as linhas e ângulos retos na arquitetura de interiores e exteriores, urbana e rural (ruas, praças, prédios, plantações etc.)
d) A sociedade totalmente organizada e uniformizada (as pessoas com uniformes ou roupas semelhantes, com cortes padrão de cabelo ou penteados canônicos, os conjuntos habitacionais com construções e aparência iguais etc.)
e) As restrições à livre sexualidade (e a separação física entre os locais de moradia de homens e mulheres).
f) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 03
03 – Quem governa no mundo utópico de A Nova Utopia de Jerome K. Jerome? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A Sociedade Vigilante Faixa Branca.
b) O texto não diz explicitamente e não fornece elementos para qualquer inferência capaz de permitir uma resposta inequívoca para a questão.
c) A sociedade é regulada por um algoritmo (baseado na prevalência da vontade da maioria aferida por eleições), que dispensa a necessidade de um chefe (de governo ou de Estado).
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 04
04 – Quais indicadores de democracia podem ser percebidos no mundo utópico de A Nova Utopia de Jerome K. Jerome? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) O fato de tudo ser decidido por maioria em eleições regulares e frequentes.
b) O fato de todos terem direito de votar (sem distinções de qualquer natureza: cada pessoa valendo um voto).
c) O fato de ser uma sociedade com plena igualdade.
d) O esforço que o Estado está fazendo para satisfazer plenamente as necessidades de todas as pessoas, indistintamente (como está no texto: “O Estado nos alimenta, veste, abriga, cuida, lava, corta nosso cabelo e… nos enterra”).
e) O esforço que o Estado está fazendo para corrigir os erros naturais (que introduzem desigualdades) e endireitar as coisas.
f) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 05
05 – Quais indicadores de um modo de regulação autocrático podem ser percebidos no mundo utópico de A Nova Utopia de Jerome K. Jerome? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A igualdade como ideal supremo (em detrimento da liberdade).
b) O esforço para consertar a natureza, a sociedade e o ser humano (que teriam vindo com alguma espécie de “defeito de fábrica”).
c) A busca e manutenção da estabilidade pela aproximação do estado de equilíbrio (e não feita e refeita no fluxo dos sistemas afastados do estado de equilíbrio).
d) A sociedade como dominium do Estado (no sentido feudal do termo).
e) As pessoas – todas as pessoas – transformadas de cidadãos em súditos do Estado e, mais do que isto, em funcionários (stricto ou latu sensu) do Estado.
f) Os direitos encarados como privilégios.
g) O fato de as minorias não terem direitos (só a maioria).
h) Nenhuma das alternativas anteriores.

Filme | THX 1138

George Lucas (1971)

QUESTÃO 06
06 – O que o livro A Nova Utopia de Jerome tem a ver com o filme THX 1138 de Lucas? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não tem nada a ver.
b) De certo modo, THX 1138 foi inspirado pela corrente de literatura distópica inaugurada no final do século 19 por Jerome K. Jerome (1981) no conto A Nova Utopia e continuada por Nós de Zamyatin (1921), Admirável Mundo Novo (1932), 1984 de George Orwell (1949) e Fahrenheit 451 de Ray Bradbury (1953), entre outros.
c) A designação das pessoas por números já estava presente em A Nova Utopia; a rejeição do amor (e até a criminalização do sexo), idem; a caracterização da inadaptação como um mal-funcionamento do sistema também; – em suma, a inexistência de sociedade civil (tudo é Estado-corporação): existem, portanto, vários elementos comuns ao livro de Jerome e ao filme de Lucas.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 07
07 – Onde está a política no mundo distópico de THX 1138? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Foi abolida.
b) Foi substituída por uma espécie de política de RH (Recursos Humanos) corporativa.
c) Não se pode concluir nada sobre isso porque o filme não oferece informações suficientes.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 08
08 – Como é encarado e regulado o conflito no mundo de THX 1138 (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) O conflito é encarado como uma disfunção (malfunction) da máquina (sistema).
b) O conflito é resolvido pela eliminação ou neutralização do sujeito que provoca o conflito.
c) Não há nenhuma disposição estabelecida sobre o conflito (pois o sistema está projetado para não surgir o conflito).
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 09
09 – O que é o mundo de THX 1138? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Uma grande corporação.
b) Um cluster sem atalhos.
c) Uma prisão sem paredes.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 10
10 – Por que as pessoas não tomam iniciativas no mundo de THX 1138? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Porque não existem pessoas (autônomas) e sim indivíduos (unidades de um rebanho).
b) Porque tomar iniciativa seria desobedecer e as pessoas estão drogadas e disciplinadas para não ter emoções capazes de motivar ações desobedientes.
c) Porque não é necessário: tudo já está determinado por um plano, programa ou rotina e aos indivíduos basta seguir as regras.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 11
11 – Porque o personagem THX 1138 se rebela? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Por que LUH 3417 cumpre o papel da Eva da desobediência primordial: ao trocar sua dose de remédios supressores de emoção por placebo ela lhe tenta com uma não-maçã.
b) Por ressentimento ou vingança: THX 1138 só se rebela depois que fica sabendo da morte de LUH 3417.
c) O filme não fornece informações suficientes para responder esta pergunta.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 12
12 – Quem comanda a autocracia do mundo de THX 1138? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Ninguém comanda: há um programa rodando.
b) Os “gerentes de RH” da corporação.
c) Algum chefe oculto.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

MÓDULO 2 – NÓS E STALIN

Livro | Nós

Yevgeny Zamyatin (1921)

01 – Lendo as alternativas abaixo você diria que o mundo proposto por Zamyatin em Nós é melhor do que aquele em que vivemos hoje? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Parece que sim, pois na sociedade descrita em Nós nenhum indivíduo passa fome ou tem os carecimentos sociais básicos que ainda assolam boa parte da humanidade atual.
b) Sim, porque lá todos têm os mesmos direitos e o Estado fornece tudo que uma pessoa precisa para viver com dignidade.
c) Sim, e a prova disso é que as pessoas, em sua imensa maioria, são muito felizes.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 02
02 – Segundo a concepção vigente no mundo utópico de Zamyatin, de nada vale a liberdade se as pessoas não têm felicidade. Você concorda com tal visão? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Sim, porque de nada adianta a liberdade se as pessoas não podem ser felizes.
b) Sim, porque a liberdade – com cada um podendo fazer o que lhe desse na telha – acabaria atrapalhando o bom funcionamento daquela sociedade extremamente evoluída, onde os problemas básicos foram resolvidos.
c) Sim, porque a liberdade num mundo em que tudo já funciona ordenadamente introduziria conflitos e, consequentemente, a política, levando ao horrível quadro de desordem e de desmandos, corrupção e injustiças, que se observa nos países atuais.
d) Não. A felicidade e a liberdade são valores subjetivos e dependem de cada sociedade. O fundamental é que o Estado garanta as condições básicas de sobrevivência para cada cidadão.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 03
03 – O fato de as pessoas terem um tempo livre – de que podem dispor como bem entenderem – no mundo de Nós, imaginado por Zamyatin, não acaba levando à desorganização? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Sim e é por isso que aparece divisão, oposição, revolta e quase tudo vai por água abaixo.
b) Sim e o próprio Zamyatin reconhece isso no texto (que a sociedade é evoluída, mas pode ser sempre aperfeiçoada).
c) Não. O sistema está tão bem organizado que é capaz de assimilar ou recuperar os desvios eventuais cometidos pelas pessoas, voltando sempre ao seu padrão normal de funcionamento.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 04
04 – Existe propriamente uma sociedade no mundo de Nós de Zamyatin?
a) Claro que sim. A sociedade é o conjunto das pessoas que vivem no Estado Único (ou Unificado).
b) Não. Só existe Estado. Todas as pessoas são células do Estado Único.
c) Sim. O que chamamos de sociedade, ao chegar nesse ponto de avançada evolução, transforma-se naturalmente numa forma de organização superior chamada Estado (e passa a ser chamada de Nós).
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 05
05 – Quais indicadores de democracia podem ser percebidos no mundo utópico de Nós de Zamyatin? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) O fato de ser uma sociedade de plena igualdade, que tem como ideal supremo a felicidade.
b) O fato de o Estado satisfazer plenamente as necessidades de todas as pessoas.
c) O fato de o governante ser reeleito em eleições periódicas frequentes (anuais) por unanimidade ou quase (salvo um ou outro voto desviante, extremamente minoritário) é uma evidência de que a sociedade está contente com o governo que tem (e não pode haver democracia melhor do que isto).
d) Não existe nada que se possa chamar de democracia no mundo de Zamyatin.
e) A democracia não é mais necessária no mundo de Zamyatin porque a sociedade ultrapassou essa fase de seu desenvolvimento quando todos passaram a viver num mundo de abundância e felicidade geral, tendo todos plena consciência de seus deveres e direitos graças à sua formação racional.
f) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 06
06 – Quais indicadores de um modo de regulação autocrático podem ser percebidos no mundo utópico de Nós de Zamyatin? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A igualdade como ideal supremo (em detrimento da liberdade).
b) A inexistência de sociedade civil (as pessoas foram transformadas em células do Estado).
c) A desobediência encarada como uma doença que precisa ser tratada (do ponto de vista médico: por isso os postos médicos estão tão espalhados, juntamente com os postos da polícia política: os chamados Guardiães ou guardas).
d) Não é uma sociedade que tem um Estado minimamente sob o controle dos cidadãos e sim um Estado unitário, hierarquizado, sob o comando de um chefe (o Benfeitor).
e) A existência de uma polícia política (uma congregação sacerdotal) capilarizada – chamada de Guardiães ou guardas – que vigia todos os cidadãos (inclusive com microfones instalados embaixo das ruas) e está diretamente subordinada a apenas um poder (o do Benfeitor).
f) O Benfeitor é reeleito sempre por unanimidade (não computando-se os eventuais votos contrários – que, de resto, são sempre minoritários mesmo).
g) O mundo de Nós, de Zamyatin, parece mais uma Igreja (ocupando o Benfeitor o lugar semelhante ao de um papa).
h) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 07
07 – As pessoas do mundo utópico de Nós eram portadoras de direitos? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Sim, havia muitos direitos sociais, pois o Estado garantia ótimas condições de vida para todos, em diversas áreas da vida, como educação, saúde, transporte, segurança, etc.
b) Sim, porque as pessoas podiam votar na escolha do Benfeitor, o que indica ao menos um certo grau de direitos políticos.
c) Sim, porque embora o Estado exigisse o cumprimento de tarefas determinadas, os indivíduos gozavam de liberdade de pensamento e de um tempo livre para o seu lazer (onde podiam, inclusive, se relacionar com quem quisessem).
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 08
08 – Qual a mais importante função do Muro (uma abóbada de vidro que isola toda a cidade) para a sociedade de Nós, sendo visto como “a maior de todas as invenções”? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Impedir a entrada de poderosos invasores externos, remanescentes da Guerra dos Duzentos Anos.
b) Proteger a cidade de intempéries naturais que poderiam provocar o caos ou desestabilização.
c) Manter as pessoas longe de qualquer interação com o imprevisível e obrigatoriamente submetidas à ordem social estabelecida pelo Estado Unitário.
d) Nenhuma das anteriores

Filme | Stalin

Ivan Passer (1992)

QUESTÃO 09
09 – O que o livro Nós de Zamyatin tem a ver com o filme Stalin de Passer? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não tem nada a ver, pois Zamyatin escreveu Nós em 1920-1921, portanto, antes da ascensão do stalinismo.
b) Tem a ver e muito. Zamyatin foi um militante bolchevique e percebeu no bolchevismo (antes e durante os primeiros anos da Revolução de Outubro, comandada por Lenin) os germens do que viria a se desenvolver sob o domínio autocrático de Stalin.
c) O estatismo exacerbado.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 10
10 – A realidade do regime ditatorial (a chamada “ditadura do proletariado”) na União Soviética sob o domínio de Stalin não parece ainda mais autocrática do que todas as distopias (as obras de ficção que foram escritas antes, durante e depois do período stalinista)? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não. Stalin fez o que fez constrangido pelas circunstâncias duríssimas da guerra civil logo após a Revolução de Outubro, da luta interna encarniçada entre os líderes blocheviques que queriam assumir o controle do Estado revolucionário logo após a morte de Lenin, da necessidade imperiosa de industrializar um país (a Rússia) que ainda era basicamente camponês (não tendo um número expressivo de operários) e da Segunda Grande Guerra que afetou inesperadamente a construção do socialismo (com a violação do tratado de não-agressão entre Alemanha e Rússia por parte de Hitler).
b) Não, a União Soviética sob Stalin apenas pagou o preço do isolamento quando foi alvo de ações militares hostis de numerosos países e foi então compelida a construir o socialismo em um só país para salvar a grande revolução social proletária de 1917.
c) Parece que sim, o que é espantoso. Nenhuma das distopias escritas antes, durante e depois do stalinismo conseguiu alcançar tal nível de crueldade, com o assassinato de milhões de pessoas (dentre as quais cerca de 1 milhão de membros do próprio partido).
d) Nenhuma das respostas anteriores.

QUESTÃO 11
11 – Como se sustentava e regulava o regime tirânico (que durou três décadas: de 1923 a 1953) retratado no filme Stalin de Ivan Passer? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A ditadura stalinista era a mesma ditadura do Partido Comunista e se sustentava numa estrutura completamente hierarquizada que já existia desde 1917, a partir Revolução de Outubro (e até antes, no interior do próprio partido, que depois se tornou único e se fundiu ao Estado).
b) Um regime como a autocracia stalinista só pode se manter por tanto tempo em razão da obediência dos militantes do partido comunista (considerada condição para o triunfo da revolução e, depois, para a sobrevivência do Estado revolucionário).
c) Basicamente, a ditadura do Partido Comunista se manteve pela guerra (quente, fria e pela política praticada como guerra), quer dizer, pela construção continuada de inimigos: externos (a burguesia internacional, os países capitalistas, os socialdemocratas e liberais, os fascistas, os países fascistas do Eixo – Alemanha, Itália e Japão – na Segunda Grande Guerra e, depois, novamente, o capitalismo e o imperialismo) mas, sobretudo, internos (os agentes contrarrevolucionários infiltrados no partido e no Estado – os próprios camaradas bolcheviques que dirigiram a Revolução de Outubro, como Trotsky, Kamenev, Zinoviev, Bukharin, Rykov, Tomsky e, depois, centenas de milhares de outros ao longo do tempo – definidos tais inimigos internos por Stalin como os que se opunham ao seu poder monocrático).
d) O stalinismo se manteve graças à uma estrutura paralela de poder – uma polícia política – infensa ao antigo participacionismo bolchevique – comandada centralizadamente por Stalin: a OGPU (de 1922 a 1934), depois substituída pela (ou rebatizada como) NKVD (de 1934 até praticamente a morte do ditador), que atuavam como uma espécie de burocracia-sacerdotal da morte, extraindo suas energias do sacrifício de milhões de seres humanos e impondo-se pelo reinado do terror.
e) O ambiente conformado pelo bolchevismo e, depois, pelo stalinismo – o Estado totalitário do partido que configurou todos os espaços sociais, privatizando a sociedade – gerava continuamente hierarquia e autocracia e reproduzia “stalins” em cada funcionário estatal (como reconheceu Nikita Kruschev) e, no limite, em cada pessoa.
f) Nenhuma das alternativas anteriores.

MÓDULO 3 – ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Livro | Admirável mundo novo   

Aldous Huxley (1932)

QUESTÃO 01
01 – Por que o Selvagem não cabe no mundo de Admirável Mundo Novo? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Exatamente porque ele (como o nome está dizendo) é um selvagem, alguém que não foi civilizado porque não foi adequadamente educado para viver em uma sociedade organizada.
b) Porque ele não foi programado (condicionado) para se adequar ao modo de vida aceito socialmente e permitido pelo Estado.
c) Porque ele não podia ser feliz, já que – não tendo sido educado (condicionado) – não poderia amar o destino social reservado a todas as pessoas (que eram felizes porque amavam o que eram obrigadas a fazer).
d) Porque ele é um conversador e no mundo distópico de Huxley é a programação e não a conversação que reproduz o modo de vida socialmente existente.
e) Porque ele valoriza atitudes e comportamentos incompatíveis com os que são socialmente aceitos.
f) Porque ele é um desobediente.
g) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 02
02 – Qual é o valor supremo no Admirável Mundo Novo de Huxley? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A igualdade.
b) A organização social perfeita: cada qual tendo e sabendo qual é exatamente o seu lugar e o seu papel.
c) O bem-estar das diversas camadas (ou “classes”) da população.
d) A felicidade, que consiste, segundo as palavras de um dos administradores (o diretor Foster), em “amar o que somos obrigados a fazer”.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 03
03 – Lendo as alternativas abaixo você diria que o mundo proposto por Huxley em Admirável Mundo Novo é melhor do que aquele em que vivemos hoje? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Sim, o mundo proposto por Huxley conseguiu adequar as diferenças existentes entre os seres humanos a um sistema harmônico e planejado, onde todos têm uma função, podem desfrutar de atividades de lazer coletivas e conviver em uma sociedade organizada que os protege e na qual são reconhecidos como úteis.
b) Sim, o importante em uma sociedade não é que todos sejam iguais e sim que cada membro tenha clareza de seu papel e esteja bem preparado para ele, podendo estar seguro de que seus objetivos serão alcançados graças a um planejamento rigoroso e um espírito comunitário. Como diz o lema do Estado Mundial: “Comunidade, Identidade, Estabilidade”.
c) Sim, o mundo de Admirável Mundo Novo alcançou muitos avanços em relação ao mundo de nossos dias, pois está baseado em um sistema educacional que desenvolve técnicas pedagógicas distintas para educar o corpo e para a formar o caráter. Essas técnicas não são aleatórias e são aplicadas por especialistas preparados, que seguem a risca os procedimentos adequados, sem correr os riscos que corremos hoje ao deixar nossos cidadãos serem formados por profissionais que estão muito aquém dos recursos disponíveis.
d) Sim, é um mundo maduro, com uma sociedade bem organizada, onde todos reconhecem a importância de um sistema bem planejado e, compreendendo seu sentido, obedecem a seus preceitos.
e) Sim, se analisamos pragmaticamente podemos constatar que no mundo de Admirável Mundo Novo não há violência, não há desocupação, há cura para o sofrimento, todos são educados pelo Estado e vivem em uma economia estável, tendo acesso a bens que ultrapassam em muito suas necessidades básicas.
f) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 04
04 – Existe propriamente uma sociedade no mundo de Admirável Mundo Novo de Huxley? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Claro que sim. Admirável Mundo Novo tem uma sociedade complexa e bem planejada, onde as relações de trabalho e as relações pessoais são sempre pacíficas, graças a um preparo gradual que garante uma baixa incidência de conflitos e, caso eles ocorram, prevê uma solução sempre não violenta e eficaz.
b) Sim, há uma sociedade totalmente organizada em Admirável Mundo Novo, que ultrapassa as fronteiras da produção, permitindo que as pessoas tenham consciência e orgulho de sua classe, podendo desfrutar de espaços e horários para atividades de lazer e diversão, desenvolver atividades culturais (como a dança, por exemplo) e manter relações abertas e não monogâmicas, convivendo de forma harmônica.
c) Não, não podemos falar de sociedade em um mundo onde as decisões não são tomadas em assembleias e onde as minorias decidem o destino das massas.
d) Não, todos vivem nos domínios do Estado.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 05
05 – Quem governa no mundo de Admirável Mundo Novo de Huxley? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A sociedade é uma criatura do Estado e o Estado é governado por administradores subordinados a um Administrador chefe (Mustafá Mond, que é um dos dez Administradores do Estado Mundial).
b) Na verdade o Administrador chefe é um programador master (uma espécie de CIO). O mundo de Admirável Mundo Novo é um formidável experimento social programado, cuja manutenção é feita por uma espécie de departamento de TI, onde os programadores corrigem eventuais erros do programa.
c) Não havendo conflito (ou seja, sendo o conflito evitado pelo programa estatal regulatório da sociedade) não há política propriamente dita no mundo de Admirável Mundo Novo e, assim, não há governo stricto sensu (em termos políticos) e sim somente administração (ou governo como administração, como numa corporação).
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 06
06 – O mundo que Huxley desenhou em Admirável Mundo Novo – totalmente organizado, programado, baseado num sistema hierárquico fixo de castas (chamadas incorretamente de classes) e regulado autocraticamente (ou até monocraticamente, pelos 10 Administradores do Estado Mundial, cada qual no seu “feudo”), composto por seres manipulados biologicamente (por engenharia genética) e condicionados psicologicamente (por educação subliminar baseada na repetição de “mentiras” de sorte a transformá-las em “verdades”), dedicados ao trabalho (repetitivo), compelidos ao hiperconsumismo e ao entretenimento planejados para não deixar tempo para o ócio criativo e para a livre-conversação sem objetivos (jogos, danças, atividade sexual regular e mecânica, desvinculada da emoção amorosa) – é possível? Ou seja, um mundo assim alcançaria estabilidade? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Sim, esta é a distopia para a qual está caminhando a sociedade capitalista, um perigo real para o qual Huxley quis nos alertar.
b) Sim, em parte o mundo de Huxley é uma caricatura do que existe nos dias atuais nos países centrais e na periferia do capitalismo.
c) Não, porque programar individualmente os seres humanos não configura ambientes sociais capazes de reproduzir modos de vida como os descritos no livro (o comportamento coletivo não é a soma dos comportamentos dos indivíduos e, mesmo com todo o condicionamento individual, o fluxo interativo da convivência social acabaria por instabilizar em vez de reproduzir um steady state).
d) Não, a distopia huxleiana é mais uma fantasia, provavelmente uma metáfora usada para criticar aspectos da sociedade inglesa (e europeia e americana) do seu tempo (especulando com um transbordamento do fordismo da organização da produção para a organização da vida social), do que um alerta para uma possibilidade distópica concreta (com o agravante de que ele, Huxley, não viu o perigo real representado pela ascensão dos estatismos autoritários – como o fascismo, o nazismo e o stalinismo – já presentes no início da década de 1930, época em que escreveu o livro).
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 07
07 – Quais indicadores de um modo de regulação autocrático podem ser percebidos no mundo utópico de Admirável Mundo Novo de Huxley? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) O Estado se antecipa às necessidades e aos desejos das pessoas, de certo modo determinando-os de forma a serem adequadamente satisfeitos e isso torna as pessoas obedientes, não permite que surjam impulsos criadores e, ao fim e ao cabo, ainda que possa assegurar um constante bem-estar da população, impede qualquer mudança em nome da estabilidade de uma forma de dominação (um modo de regulação autocrático).
b) A não-violência usada para prevenir e evitar o conflito em nome da estabilidade social (quer dizer, da manutenção de um modo autocrático de regulação) e não como modo democrático de regular os conflitos (que aceita a existência do conflito e não tenta suprimi-lo).
d) A tentativa de suprimir o conflito pela programação. Não havendo conflito (ou seja, tendo sido o conflito evitado pelo programa) não há política propriamente dita no mundo de Admirável Mundo Novo e, assim, não há governo stricto sensu (em termos políticos) e sim somente administração (ou governo como administração, como numa corporação).
c) A imprevisibilidade foi abolida (ou evitada ao máximo) pela programação, logo, não pode haver política propriamente dita (politics, ex parte populis, ou seja, política democrática) e sim somente política estatal (policy, planejada ex parte principis e, portanto, autocrática)
e) Não há menção no texto a qualquer mecanismo representativo, participativo ou interativo de decisão e, assim, o regime funciona sob o comando dos administradores (que apenas fazem a gestão do programa introduzido pelo Administrador master).
f) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 08
08 – Na trama, Huxley dá a entender que, caso alguns elementos específicos da experiência humana estivessem presentes, a sociedade de Admirável Mundo Novo seria mais livre (e que, portanto, era a ausência deles que permitia configurar uma sociedade altamente controlada como a descrita no livro). Dentre estes elementos, quais seriam os mais relevantes? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Um tipo de pensamento crítico e reflexivo nos indivíduos (em vez da mera repetição de fórmulas mentais condicionadas).
b) A “Grande Arte” (em vez da arte massificada e sem profundidade).
c) A Ciência (em vez da simples aplicação instrumental de tecnologias).
d) A experiência de Emoções intensas e até mesmo dolorosas (em vez de uma vida “emocionalmente fácil”, alienada, cheia de estímulos agradáveis e inebriantes).
e) Todas as alternativas anteriores.
f) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 09
09 – Você acredita que a presença dos elementos (ou de alguns deles) apresentados nas alternativas (a, b, c e d) da QUESTÃO 8 (acima) são bons indicadores de uma sociedade politicamente livre? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Sim, porque liberdade política só é possível em uma sociedade quando todas as pessoas forem capazes de exercer individualmente um pensamento crítico.
b) Sim, porque a ciência tem um método objetivo de produção de conhecimento que a torna inume às influências políticas da autocracia.
c) Sim, porque a arte é criativa e isso subverte a repetição necessária à reprodução da autocracia.
d) Sim, porque o livre emocionar, os sentimentos desordenados e as paixões desorganizam inevitavelmente uma sociedade totalmente organizada (onde todas as ações seguem um curso previsível).
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

Filme | Admirável mundo novo

Leslie Libman e Larry Williams (1998)

QUESTÃO 10
10 – O que o livro Admirável Mundo Novo de Huxley tem a ver com o filme Admirável Mundo Novo de Libman e Williams? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não tem muita coisa a ver. O filme não consegue ser fiel ao livro.
b) O filme, embora introduza cenas apelativas para atrair público (e que não são essenciais à narrativa de Huxley), consegue materializar certos aspectos da sociedade programada e das pessoas condicionadas que ajudam a entender o livro (como as cenas da festa e da palestra do Selvagem para as crianças, por exemplo).
c) O filme vale pelas conversas de Bernard Marx (Peter Gallagher) com Mustafá Mond (Leonard Nimoy, o Spock de Star Trek).
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

MÓDULO 4 – O ZERO E O INFINITO E O ASSASSINATO DE TROTSKY

Livro | O zero e o infinito   

Arthur Koestler (1940)

QUESTÃO 01
01 – Sendo você um amante da democracia, em qual mundo você preferiria viver: no mundo distópico de A Nova Utopia (de Jerome K. Jerome), no mundo idem de Nós (de Zamyatin), no mundo idem-idem de Admirável Mundo Novo (de Huxley) ou no mundo realmente existente na União Soviética stalinista, romanceado por Koestler? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Na Nova Utopia de Jerome porque lá, pelo menos, as pessoas têm como viver confortavelmente e não são perseguidas e mortas pelo governo.
b) No Nós de Zamyatin, pois lá todos podem fazer o que quiserem no seu tempo livre e ainda podem escolher seus parceiros sexuais com a maior liberdade.
c) No Admirável Mundo Novo de Huxley, porque a vida lá é o maior barato e não há violência.
d) Na União Soviética stalinista romanceada por Koestler, porque lá é o mundo real.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 02
02 – A adoção do princípio de que “os fins justificam os meios” feita por hierarcas do governo no relato do regime stalinista romanceado por Koestler em O Zero e o Infinito, leva sempre à autocracia? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não. Esse é apenas o reconhecimento de como funciona a política realmente existente em qualquer tempo e em toda parte.
b) Não. Os fins sempre justificam os meios e qualquer tentativa de desprezar essa evidência é apenas parte das narrativas utópicas.
c) Sim, do contrário as utopias que inspiram as iniciativas de transformação social não existiriam.
d) Sim, é nesse princípio que se baseia a noção de que o fim almejado justifica as ações necessárias para alcançá-lo.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 03
03 – Em que ideia(s) se baseia, fundamentalmente, o regime descrito por Koestler em O Zero e o Infinito? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Na ideia de que o Partido nunca pode errar. Como disse Rubashov no diálogo com o jovem militante Richard, “eu e o camarada podemos cometer um erro. O Partido não. O Partido, camarada, é mais do que você e eu e milhares de outros como você e eu. O Partido é a corporificação da ideia revolucionaria da História”.
b) Na ideia de que existe uma marcha da História (com um sentido imanente, que tudo conduz para um alvo determinado). Como disse Rubashov a Richard, “a História não conhece escrúpulos nem vacilações. Inerte e infalível, ela marcha para o seu alvo. Em cada curva do seu percurso deixa a lama que arrasta e os cadáveres dos afogados. A História conhece o caminho. Não erra. Quem não tem fé absoluta na História não pertence às fileiras do Partido”.
c) Na ideia de que os dirigentes do Partido conheciam as leis do movimento da História. Como disse Rubachov à Ivanov (no Primeiro Interrogatório), “nós tínhamos descido até o fundo, até as massas informes, anônimas, que em todos os tempos constituem a substância da História, e fomos os primeiros a descobrir suas leis de movimento. Tínhamos descoberto as leis de sua inércia, da lente mutação de sua estrutura molecular, e de suas súbitas erupções. Era essa a grandeza de nossa doutrina… Cavamos no lodo primitivo da História e ali achamos suas leis. Sabíamos mais, a respeito da humanidade, do que jamais os homens souberam: foi por isso que a nossa revolução vingou”.
d) Na ideia de que os fins justificam os meios. Como escreveu Rubashov em seu diário (no início do Segundo Interrogatório), “fomos os primeiros a substituir a ética liberal do “jogo limpo” do século 19 pela ética revolucionária do século 20. Nisso também estávamos certos: uma revolução dirigida segundo as regras do críquete é um absurdo. A política pode ser relativamente limpa nos espaços em que a História toma fôlego; nas curvas críticas não há outra regra possível além da velha: o fim justifica os meios”. Ou como disse o interrogador Ivanov (ainda no Segundo Interrogatório), “o princípio de que o fim justifica os meios é e continua sendo a única regra da ética política; tudo mais é apenas conversa fiada e se derrete, escorrendo por entre os dedos…”
e) Na ideia de que o papel do Partido, a ser cumprido pelos seus militantes (os agentes revolucionários) é o de guiar as massas em direção à terra prometida (a sociedade comunista). Como escreveu Rubashov em seu diário (no início do Segundo Interrogatório), “a História nos ensinou que frequentemente a mentira lhe serve (ao homem a ser conduzido) melhor do que a verdade; porque o homem é preguiçoso, tem de ser conduzido pelo deserto durante quarenta anos, antes de qualquer passo em seu desenvolvimento. E tem de ser levado pelo deserto com ameaças e promessas, com terrores imaginários e consolações imaginárias, a fim de que não se assente prematuramente para descansar e distrair-se adorando bezerros de outro”.
f) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 04
04 – Por que não havia liberdade de opinião no regime descrito por Koestler em O Zero e o Infinito (e por que era necessário reprimir tão cruelmente quem ousasse pensar diferente do Partido)? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Porque qualquer divergência, mesmo que ínfima, poderia levar no futuro a grandes afastamentos do alvo (divergir era, portanto, um pecado mortal na medida em que era uma traição à História: era errar o alvo). Como escreveu Rubashov em seu diário (no Segundo Interrogatório), “sabemos que a virtude não importa à História, e que os crimes ficam impunes; mas que todo erro tem suas consequências e vinga-se até a sétima geração. Por isso concentrávamos todos os nossos esforços na prevenção do erro e na destruição de suas próprias sementes… Toda ideia errônea que seguimos é um crime cometido contra as gerações futuras. Portanto, temos de punir as ideias erradas como os outros punem os crimes: com a morte”.
b) Porque a ideias erradas são o mal que deve ser extirpado. Como escreveu Rubashov em seu diário (no Segundo Interrogatório), “assemelhávamo-nos aos grandes inquisidores porque perseguíamos as sementes do mal não só nas ações dos homens, como também nos seus pensamentos”. Ou como o próprio Rubashov refletiu (durante o Terceiro Interrogatório), “os diletantes em tirania tinham forçado os seus súditos a agir sob comando; o No 1 ensinara-os a pensar sob comando” (a única maneira de não cair na tentação do mal).
c) Porque era necessário liquidar fisicamente os pensamentos que, uma vez levados à prática por suas consequências lógicas, desviaria o Partido e o Estado de seus objetivos, mesmo quando seus autores não tivessem cometido, na prática, nenhuma ação ilegal ou condenável. Assim, quem pensasse diferente poderia levar-se ou levar outras pessoas a cometer desvios. E como o próprio Rubashov escreveu na sua confissão final, “o mais leve desvio da linha do Partido termina inevitavelmente no banditismo contra-revolucionário”.
d) Porque a morte era a única maneira eficaz de fazer cessar a atividade política da pessoa que concebeu ou proferiu uma opinião errada. Como refletiu Rubashov, “no Partido a morte não constituía um mistério, não tinha aspecto romântico. Era uma consequência lógica, um fator com que se contava…” Ou seja, era apenas uma maneira de assegurar que o rumo da revolução fosse mantido.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 05
05 – Em “O Zero e o Infinito”, de Arthur Koestler, encontramos a descrição de um presídio bem organizado, com células individuais, onde os presidiários são devidamente alimentados e tratados. Embora fique claro que algumas arbitrariedades são cometidas em relação a certos presos políticos, e desconsiderando estes casos, você diria que o modelo de prisão apresentado é um indício de avanço social? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não. A simples existência de modelos de punição carcerários, baseados na correção disciplinar e no isolamento das pessoas e em práticas disciplinares são o sintoma de um enfraquecimento das relações sociais e da ação coletiva que, em sociedades democráticas, seriam capazes de elaborar seus conflitos dentro da própria dinâmica social.
b) Sim. É inevitável que desvios ocorram em uma sociedade e eles devem ser exemplarmente punidos, contando com um sistema que faça o criminoso pagar por seus erros e ainda ter a oportunidade de ser readaptado à sociedade. A prisão não é um lugar de recreação. No modelo apresentado a dignidade do cidadão é preservada.
c) Prisões são um mal necessário. O que não se pode é aceitar práticas como a tortura, condições degradantes e irregularidades no cumprimento das normas. O isolamento é um instrumento corretivo muito eficaz.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 06
06 – Pelas descrições de Rubashov pode-se notar que o governo instituído pela revolução opera a partir das diretivas do Partido, que é organizado de forma centralizada ou hierárquica, não permitindo ações individuais que desviem a sociedade do rumo definido pelos ideais revolucionários, baseados no conhecimento objetivo da História e da conjuntura da época. A partir desta descrição você considera que: (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Este é um modelo eficaz, mas depende de uma conduta ética por parte da cúpula do partido.
b) Fica claro que a revolução é o instrumento de libertação das massas, pois conhece bem seus objetivos e não aceita desvios baseados em opiniões ou crenças individuais.
c) O mundo real não é condescendente com tentativas incoerentes, baseadas em desejos românticos, que levam a erros que podem causar graves danos à comunidade. Um governo forte e competente é sempre melhor que uma organização fraca e inconsequente.
d) As intenções dos governantes não tem relevância, o que interessa em uma sociedade são os modos como as relações e as ações acontecem. Qualquer indivíduo, no lugar do Nº 1, se transformaria no seu “retrato”, ocupando o comando, limitando as ações pessoais e diminuindo as interações sociais, enfraquecendo assim a sociedade e os meios políticos.
e)Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 07
07 – O livro de Arthur Koestler nos descreve uma situação onde instrumentos de opressão, de controle e de censura compõem parte importante do aparelho de Estado. Prisões de cunho ideológico, pena de morte, execuções “administrativas” e torturas são apresentados como práticas coerentes e necessárias para a realização de um ideal igualitário e libertador, a ser alcançado assim que as massas estiverem preparadas para viver sem estas restrições. O uso recorrente de práticas autoritárias e a necessidade de uma justificativa “humanitária” para ações violentas do estado indicam que: (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) No mundo apresentado no livro ainda existe uma sociedade e por isso mecanismos opressores são necessários para a manutenção do poder.
b) Não existe mais sociedade, por isso qualquer argumento é aceito pelas massas. A violência é um mero indício do caráter do Nº1.
c) A política é a continuação da guerra por outros meios e a violência é sempre necessária para a manutenção da ordem e para o controle de desvios.
d) O Estado deseja que a política se desenvolva quando ela for possível e por isso apresenta as razões para suas ações arbitrárias.
e) Há ainda vida política e social no mundo descrito, o que leva a desvios e divergências. As ações do Estado têm o propósito de normalizar as opiniões e calar as divergências, diminuindo assim os espaços políticos.
f) Nenhuma das alternativas anteriores

QUESTÃO 08
08 – Quais indicadores de um modo de regulação autocrático podem ser percebidos no mundo descrito por Koestler em O Zero e o Infinito? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa) (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Os dirigentes do Partido-Estado estavam usando as pessoas para fazer um formidável experimento histórico, ao mesmo tempo corrigindo a natureza e a sociedade. Como disse Ivanov (no final do Segundo Interrogatório), “todos os anos, vários milhões de homens são mortos sem qualquer propósito por epidemias e outras catástrofes naturais. E havíamos de esquivar-nos de sacrificar algumas centenas de milhares em benefício da mais promissora experiência da História?… A natureza é pródiga em suas absurdas experiências com a humanidade. Por que não deve a humanidade ter o direito de fazer experiências com ela mesma?”. E em outro lugar afirmou: “Estamos tirando a pele velha da humanidade e dando-lhe uma nova”.
b) Um neomaquiavelismo levado às últimas consequências.
c) A adoção do princípio básico de que os indivíduos devem ser sacrificados em prol do coletivo. Como disse Ivanov (no Segundo Interrogatório), a concepção de ética do Partido, “parte do princípio básico de que um alvo coletivo justifica todos os meios, e não apenas permite, mas exige, que o indivíduo, sob quaisquer condições, se subordine e sacrifique ao bem da comunidade, que pode dispor dele como de um coelho de laboratório ou de um cordeiro imolado em holocausto”.
d) A concepção de guerra como realidade permanente e inexoravelmente presente numa sociedade de classes. Como disse Ivanov (no Segundo Interrogatório), desde que existem, “nações e classes vivem num estado permanente de autodefesa”. E a consequente impossibilidade de mudar o regime por meios legais, pacíficos e aceitos como legítimos. Como refletiu Rubashov, interrogado por Gletkin, “aquele que se opõe a uma ditadura tem de aceitar a guerra civil como meio. Aquele a quem repugna a guerra civil deve desistir da oposição e aceitar a ditadura”.
e) O governo dos sábios (deve dirigir a revolução, o Partido e o Estado, quem possui o conhecimento da História e de suas leis).
f) A ideia de que as massas não estão maduras, não estão preparadas para a democracia e, portanto, devem ser conduzidas até que consigam elevar seu nível de consciência (que se confunde, por sua vez, com o seu conhecimento das leis da História e com sua capacidade de interpretar a História).
g) A ideia de que oposição é crime. Como disse o interrogador Gletkin (no Terceiro Interrogatório), há “a imperiosa necessidade de o Partido manter-se unido. Ele deve ser como que fundido num só molde: cheio de disciplina cega e confiança absoluta… A linha política da oposição está errada… a tarefa é, portanto, tornar a oposição desprezível; levar as massas a compreenderem que a oposição é um crime e que os chefes da oposição são criminosos”.
h) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 09
09 – Como se pode caracterizar o sistema de dominação narrado por Koestler em O Zero e o Infinito? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Era apenas um Estado-nação ampliado (uma união de Repúblicas socialistas) administrado politicamente por um regime de exceção (uma ditadura projetada para, no futuro, abolir todas as ditaduras) que, em função de ter que se defender de seus vários inimigos, acabou deformando a proposta generosa original.
b) Formalmente era uma espécie de teocracia laica, onde a História cumpria o papel da divindade, o fundador era o “velho de olhos oblíquos de tártaro, o chefe de outrora, que morrera a tempo” (Lenin, venerado no lugar do Deus-Pai) e o N0 1 (Stalin) era o papa, seu legítimo representante na terra, um guia infalível. Como refletiu Rubashov (antes do Primeiro Interrogatório), “a história roda sobre trilhos de acordo com um plano infalível e um guia infalível, o N0 1”.
c) Era uma espécie de religião laica da razão, porém a razão pura baseada no império da lógica capaz de validar apenas as inferências derivadas da orto-doxa, ou seja, da opinião correta (sempre emanada do guia infalível, o N0 1). Como refletiu Rubashov antes de ser executado, “o único propósito da revolução era a abolição do sofrimento sem sentido” (o que caracteriza uma forma religiosa de pensar).
d) Era uma ordem sacerdotal (uma hierarquia com alto grau de centralização), onde o N0 1 cumpria o papel de Sumo-Sacerdote.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 10
10 – Existiam pessoas para os dirigentes do mundo descrito por Koestler em O Zero e o Infinito? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Claro, tanto assim que era preciso vigiá-las constantemente e puni-las ao menor desvio para não comprometer a marcha da revolução (quer dizer, a manutenção da pátria da revolução).
b) Não. O Partido fundido ao Estado, no sistema de dominação narrado por Koestler, não reconhecia a existência da pessoa como ser unique, mas apenas do indivíduo (uma unidade indiferenciada da massa). Como refletiu Rubashov pouco antes de ser executado, o “Eu” era qualidade politicamente suspeita, “o partido não reconhecia sua existência. A definição de indivíduo era: uma multidão de um milhão dividida por um milhão”.
c) Não, como refletiu Rubashov (antes de ser executado), o Partido negava o livre-arbítrio… negava “a capacidade [das pessoas] de escolha diante de uma alternativa… negava-lhes a capacidade para distinguir o bem do mal… O indivíduo vivia debaixo do signo da fatalidade econômica, uma roda de uma mecanismo de relógio a que haviam dado corda para toda a eternidade e não podia parar nem ser influenciada”.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

Filme | O Assassinato de Trotsky

Joseph Losey (1972)

QUESTÃO 11
11 – O que o livro O Zero e o Infinito de Koestler tem a ver com o filme O Assassinato de Trotsky de Losey? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não tem nada a ver.
b) Tem um pouco a ver pois, de certo modo, o protagonista do livro de Koestler (Rubashov) foi uma citação ou evocação de Trotsky (ou de um misto de Trotsky e Bukharin, ou de Trotsky e Bukharin e Zinoviev; em suma, uma mistura de alguns teóricos originais da revolução bolchevique que foram eliminados pelo stalinismo).
c) Tem tudo a ver, pois Rubashov continua – tal como Trotsky – querendo combater uma autocracia (stalinista) com uma visão também autocrática. Assim, Stalin (o Número 1 do livro de Koestler) seria condenável não porque transformou a revolução numa máquina mortífera e sim porque se afastou de uma ideia revolucionária original (ou porque parou a revolução em nome de manter a “pátria da revolução” ou fazer vingar a qualquer preço o socialismo num só país).
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

MÓDULO 5 – A REVOLUÇÃO DOS BICHOS

Livro | A revolução dos bichos

George Orwell (1945)

QUESTÃO 01
01 – No capítulo 1 de A Revolução dos Bichos, Orwell coloca na boca do Major o seguinte discurso: “Pouco mais tenho a dizer. Repito apenas: lembrai-vos sempre do vosso dever de inimizade para com o Homem e todos os seus desígnios. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo, qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo. Lembrai-vos também de que na luta contra o Homem não devemos assemelhar-nos a ele. Mesmo quando o tenhais derrotado, evitai seus vícios. Animal nenhum deve morar em nem dormir em camas, nem usar roupas, nem beber álcool, nem fumar, nem tocar em dinheiro, nem fazer comércio. Todos os hábitos do Homem são maus. E, principalmente, jamais um animal deverá tiranizar outros animais. Todos os animais são iguais”. Mesmo antes do processo de autocratização promovido por Napoleão e seus asseclas, podemos encontrar, na visão do Major, alguns germes da futura autocracia que se instalou na granja? Se sim, que germes são estes? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não há nenhum germe de autocracia na visão do Major. A autocracia foi uma degeneração do sonho original, introduzida por Napoleão.
b) A construção do inimigo e a sua qualificação como inimigo natural (permanente).
c) A demonização do inimigo.
d) A revolução como guerra.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 02
02 – Em A revolução dos bichos, de George Orwell, vemos a implementação progressiva de uma organização que tem sua hierarquia fundamentada em uma diferença de capacidade, decorrente de uma diferença entre as raças. Os porcos tornam-se os líderes dos animais e passam a tomar as decisões sobre o trabalho, a distribuição da produção e dos espaços, as regalias etc. Os próprios porcos argumentam em seu favor dizendo “Não penseis, camaradas, que a liderança seja um prazer. Pelo contrário, é uma enorme e pesada responsabilidade. Ninguém mais que o Camarada Napoleão crê firmemente que todos os bichos são iguais. Feliz seria ele se pudesse deixar-vos tomar decisões por vossa própria vontade; mas às vezes poderíeis tomar decisões erradas, camaradas; e então, onde iríamos parar? Valentia não basta. A lealdade e a obediência são mais importantes. Disciplina, camaradas, disciplina férrea! Esse é o lema para os dias que correm. Um passo em falso, e o inimigo estará sobre nós.” Você acredita que: (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Este é um processo autoritário, de implementação progressiva da dominação de uma cúpula que passa a operar de forma arbitrária. Suas justificativas são meros argumentos para a instituição de uma autocracia.
b) Este livro é bastante fantasioso, pois tenta reproduzir situações humanas sem levar em conta que os humanos são todos iguais e que uma tal distinção só poderia basear-se nas diferenças efetivas de capacidade e não em diferenças raciais.
c) Embora os porcos passem a adotar medidas autoritárias e nocivas à sociedade, isto decorre de um desvio em sua conduta, pois é, sim, necessário reconhecer que existem diferenças entre os homens, sobretudo em relação a seu preparo e, a partir destas diferenças, o grupo melhor preparado deve, sim, governar, mas visando o bem da comunidade e não o seu bem particular.
d) Esta situação é muito semelhante àquela em que vivemos hoje, pois é evidente que uma elite branca, garantindo seus privilégios de classe, governa e manipula a maioria para seu deleite pessoal.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 03
03 – Em que ideia(s) se baseia, fundamentalmente, o regime descrito por Orwell em A Revolução dos Bichos? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Nos princípios do Animalismo, uma doutrina – urdida pelos porcos – que organizou como um sistema de pensamento os ensinamentos do Major em sete mandamentos (após a sua morte): 1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo; 2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo; 3. Nenhum animal usará roupas; 4. Nenhum animal dormirá em cama; 5. Nenhum animal beberá álcool; 6. Nenhum animal matará outro animal; 7. Todos os animais são iguais.
b) Na verdade, o regime resultante da revolução dos bichos não se baseava nas ideias do Animalismo (mencionadas na alternativa anterior) e sim na realpolitik autocrática praticada pelos porcos sob o comando de Napoleão, que tinha como objetivo apenas manter o poder conquistado pela burocracia porcina.
c) Fundamentalmente, em uma ideia apenas: na ideia de igualdade de todos os bichos.
d) Em duas ideias principais: a) na ideia de que os bichos eram iguais (amigos); e b) na ideia de que os bichos eram diferentes dos homens (seus inimigos)
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 04
04 – Examine o seguinte trecho do capítulo 3 de A Revolução dos Bichos de Orwell: “Após o hasteamento da bandeira, iam todos ao grande celeiro, para assistir a uma assembleia geral conhecida como “a Reunião”. Lá planejavam o trabalho da semana seguinte e discutiam as resoluções. Estas eram sempre apresentadas pelos porcos. Os outros animais aprenderam a votar, mas nunca conseguiram imaginar uma resolução por conta própria. Bola-de-Neve e Napoleão eram sempre mais ativos nos debates… Os porcos reservaram o depósito de ferramentas para sede da direção. Ali, à noite, estudavam mecânica, carpintaria e outras artes necessárias, em livros trazidos da casa-grande. Bola-de-Neve ocupava-se também da organização dos outros bichos por meio dos chamados Comitês de Animais. Formou o Comitê da Produção de Ovos, para as galinhas; a Liga das Caudas Limpas, para as vacas; o Comitê de Reeducação dos Animais Selvagens (cujo objetivo era domesticar os ratos e os coelhos); o Movimento Pró Mais Branca, que congregava as ovelhas; e outros mais, além da criação de classes para ensinar a ler escrever”. O que você acha desses procedimentos políticos? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Eram procedimentos radicalmente democráticos, posto que todos podiam discutir e decidir por votação em assembleia e ainda podiam participar dos diversos conselhos (ou comitês, ou movimentos) que foram formados.
b) Eram procedimentos aparentemente democráticos, mas não realmente democráticos, pois os porcos controlavam a pauta da assembleia e também monopolizavam a palavra apresentando todas as propostas de resolução; ademais, eram os porcos que organizavam e controlavam os diversos mecanismos participativos (conselhos, comitês, movimentos).
c) Constituíram parte da implantação tática de um participacionismo assembleísta e conselhista, altamente controlado pela burocracia dirigente (pelos porcos), como caminho estratégico para, mais adiante, substituir tudo pela decisão autocrática dos porcos comandados por Napoleão.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 05
05 – Na Batalha dos Estábulo, narrada no capítulo 4 de A Revolução dos Bichos de Orwell, Bola de Neve – que depois seria expurgado por Napoleão – disse: “Nada de sentimentalismos, camarada! – gritou Bola-de-Neve, de cujos ferimentos o sangue jorrava. – Guerra é guerra. Ser humano bom é ser humano morto”. Examinando essa frase, podemos concluir: (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Que a concepção de Bola de Neve também era autocrática, pois as ideias de que na guerra vale tudo e de que o inimigo deve ser exterminado fisicamente são partes de uma visão autoritária (ou totalitária) da política.
b) Que se Bola de Neve não tivesse sido expurgado, o regime resultante da sua liderança não seria muito diferente daquele que foi erigido por Napoleão.
c) Apenas que Bola de Neve se transformou num guerreiro, reproduzindo expressões que são próprias dos combatentes em todas as épocas e lugares.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 06
06 – No capítulo 5 de A Revolução dos Bichos de Orwell, examine esse discurso (e o diálogo que se seguiu) do porco Garganta, que foi mandado percorrer a granja para explicar aos demais bichos a nova situação (de expurgo de Bola de Neve e de centralização do poder pelos outros porcos, sob o comando de Napoleão):
“Camaradas – disse -, tenho certeza de que cada animal compreende o sacrifício que o Camarada Napoleão faz ao tomar sobre seus ombros mais esse trabalho. Não penseis, camaradas, que a liderança seja um prazer. Pelo contrário, é uma enorme e pesada responsabilidade. Ninguém mais que o Camarada Napoleão crê firmemente que todos os bichos são iguais. Feliz seria ele se pudesse deixar-vos tomar decisões por vossa própria vontade; mas, às vezes, poderíeis tomar decisões erradas, camaradas; então, onde iríamos parar? Suponhamos que tivésseis decidido seguir Bola-de-Neve com suas miragens de moinho de vento – logo Bola-de-Neve que, como sabemos, não passava de um criminoso?
– Ele lutou bravamente na Batalha do Estábulo – disse alguém.
– Bravura não basta – respondeu Garganta.
– A lealdade e a obediência são mais importantes. E quanto à Batalha do Estábulo, acredito, tempo virá em que verificaremos que o papel de Bola-de-Neve foi um tanto exagerado. Disciplina, camaradas, disciplina férrea! Este é o lema para os dias que correm. Um passo em falso e o inimigo estará sobre nós. Por certo, camaradas, não quereis Jones de volta, hem?”.
Decodificando o discurso de Garganta, podemos afirmar que: (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Nota-se o reforço de um claro padrão autocrático, pelo qual se inculca a crença de que os bichos comuns são inaptos a tomar decisões sobre a vida e a gestão da granja, tornando desejável a existência de uma liderança redentora e um círculo burocrático competente que concentram todo o poder.
b) Reforça-se um sentimento, comum nas autocracias, de que qualquer mínimo desvio do “caminho correto” levará à completa destruição da ordem vigente, com consequências devastadoras para todos, instalando o medo do inimigo externo, insegurança das pessoas sobre os assuntos públicos e, portanto, reforçando a submissão, “lealdade e obediência” ao Líder ou ao Partido que tudo resolverá e a todos protegerá.
c) A democracia não é incompatível com uma liderança técnica que tome as decisões pela sociedade, desde que esta pessoa ou grupo seja competente e esteja comprometido a gerir os assuntos públicos com seriedade e compromisso com o bem comum.
d) Há uma clara mudança de foco das atitudes mais valorizadas pela sociedade, passando de um ufanismo militarista e heroico (antes personificado em Bola-de-Neve), para uma postura mais pacífica, baseada na lealdade e obediência. Isso indica não uma eliminação, mas pelo menos uma redução do grau de autocratização do regime, uma vez que a autocracia fundamenta-se na guerra.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 07
07 – No final do capítulo 7 do livro A Revolução dos Bichos de Orwell, há a seguinte passagem:
“Mal haviam terminado de cantar [o hino “Bichos da Inglaterra”] a terceira vez, apareceu Garganta, seguido de dois cachorros, com ar de quem tem coisa muito importante a dizer. Anunciou que, por decreto especial do Camarada Napoleão, a canção Bichos da Inglaterra fora abolida. Daquele momento em diante, era proibido cantá-la.
Os animais foram colhidos de surpresa.
– Por quê? – exclamou Maricota.
– Não há necessidade, camaradas – respondeu Garganta inflexivelmente. – Bichos da Inglaterra era a canção da Revolução. Mas a Revolução agora está concluída. A execução dos traidores, hoje à tarde, foi o ato final. Em Bichos da Inglaterra expressávamos nosso anseio por uma sociedade melhor, no porvir. Ora, essa sociedade já foi instituída. Evidentemente, o hino não tem mais valor algum”.
Analisando a passagem reproduzida acima o que podemos concluir? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Que de fato a revolução dos bichos estava concluída, pois os donos humanos da fazenda (ou granja) foram depostos e o governo agora era dos animais (o que era o objetivo do movimento).
b) Que não houve revolução alguma na granja dos bichos, mas apenas uma troca dos ocupantes do poder autocrático, de vez que as relações de dominação permanecem [Napoleão, o porco, apenas ocupou o lugar de Jones, o homem].
c) Que a burocracia dos porcos promoveu uma contrarrevolução, tomando o poder, exercendo-o autocraticamente e fraudando as intenções originais do Major (apoiada por todos os bichos) de promover a igualdade na granja.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 08
08 – Examine a seguinte passagem do décimo (e último) capítulo do livro A Revolução dos Bichos, de Orwell:
“… Naquele luxo de que Bola-de-Neve lhes falara certa vez, baias com luz elétrica e água quente e fria, e na semana de três dias, não se falava mais. Napoleão denunciara tais ideias como contrárias aos princípios do Animalismo. A verdadeira felicidade, dizia ele, estava em trabalhar bastante e viver frugalmente.
De certa maneira, parecia como se a granja se houvesse tornado rica sem que nenhum animal tivesse enriquecido, exceto, é claro, os porcos e os cachorros. Talvez isso acontecesse por haver tantos porcos e tantos cachorros. Não que esses animais não trabalhassem, à sua moda. Garganta nunca se cansava de explicar que havia um trabalho insano na ação de supervisionar e organizar a granja. Grande parte desse trabalho era de natureza tal que estava além da ignorância dos bichos. Tentando explicar, Garganta dizia-lhes que os porcos despendiam diariamente enormes esforços com coisas misteriosas chamadas “arquivos”, “relatórios”, “minutas” e “memorandos”. Eram grandes folhas de papel que precisavam ser miudamente cobertas com escritas e, logo depois, queimadas no forno. Era tudo da mais alta importância para o bem-estar da granja, dizia Garganta. A verdade é que nem os porcos nem os cachorros produziam um só grama de alimento com o seu trabalho; e havia um bocado deles, com o apetite sempre em forma.
Quanto aos outros, sua vida, ao que sabiam, continuava a mesma. Geralmente andavam com fome, dormiam em camas de palha, bebiam água no açude e trabalhavam no campo; no inverno, sofriam com o frio; no verão, com as moscas. De vez em quando, os mais idosos rebuscavam a apagada memória e tentavam determinar se nos primeiros dias da Revolução, logo após a expulsão de Jones, as coisas haviam sido melhores ou piores do que agora. Não conseguiam lembrar-se. Nada havia com que estabelecer comparação: não tinham em que basear-se, exceto as estatísticas de Garganta, que invariavelmente provavam estar tudo cada vez melhor. Os bichos consideravam o problema insolúvel; de qualquer maneira, dispunham de muito pouco tempo para essas especulações”.
Podemos afirmar: (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Que A Revolução dos Bichos é uma sátira da revolução bolchevique e uma crítica contundente do período stalinista na União Soviética.
b) Que a sociedade pós-revolucionária da fazenda dos bichos reproduzia a estrutura (hierárquica) e a dinâmica (autocrática) da antiga dominação humana. Em vez de uma revolução social propriamente dita, houve apenas a troca dos ocupantes humanos por ocupantes animais. As regras iniciais foram então sendo adaptadas às conveniências dos que tomaram o poder.
c) Que toda revolução dá sempre na mesma coisa: a substituição das elites no poder, ficando sempre os cidadãos convertidos em súditos de um novo poder semelhante ao antigo do ponto de vista das formas de organização e dos modos políticos de funcionamento.
d) Nenhuma das alternativas anteriores

QUESTÃO 09
09 – Quais indicadores de um modo de regulação autocrático podem ser percebidos no mundo descrito por Orwell em A Revolução dos Bichos? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) O ideal do movimento desencadeado sob a liderança do Major e operada sob o comando de Napoleão e Bola-de-Neve e, finalmente, institucionalizada pelo primeiro, de promover a igualdade na granja sacrificando a liberdade dos bichos.
b) A dinâmica de guerra do movimento revolucionário, sempre agindo em função de destruir um inimigo: inicialmente os humanos (representados por Jones), depois os inimigos externos (as granjas concorrentes, dirigidas por humanos) e, sobretudo, os inimigos internos (Bola-de-Neve e seus supostos agentes secretos).
c) A instalação de um regime altamente controlável de participacionismo assembleísta e conselhista como transição para um regime autocrático (a ditadura monocrática de Napoleão).
d) A criminalização de qualquer oposição.
e) A organização de um misto de guarda pretoriana e polícia política (composta pelos cachorros).
f) A falsificação dos ideais da revolução: “Nenhum animal dormirá em cama” virou “Nenhum animal dormirá em cama com lençóis”; “Nenhum animal beberá álcool” (o antigo dono humano, o fazendeiro Jones, era um beberrão cruel) virou “Nenhum animal beberá álcool em excesso”; “Nenhum animal matará outro animal” virou “Nenhum animal matará outro animal sem motivo”; “Todos os animais são iguais” virou “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”.
g) A conversão do ditador em pai e dos animais em rebanho conduzido (realidade representada na sátira pelo comportamento das ovelhas, sempre balindo palavras de ordem repetitivas para abafar o proferimento de qualquer opinião discordante).
h) Nenhuma das alternativas anteriores.

Filme | A revolução dos bichos

John Stephenson (1999)

QUESTÃO 10
11 – O que o livro A Revolução dos Bichos de Orwell tem a ver com o filme A Revolução dos Bichos de Stephenson? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não tem nada a ver.
b) O filme de Stephenson apenas tenta adaptar a sátira de Orwell para o cinema, alterando porém de modo inadequado o seu final.
c) O filme é uma boa adaptação do livro, embora não tão fiel quando poderia.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

MÓDULO 6 – 1984

Livro | 1984   

George Orwell (1949)

QUESTÃO 01
01 – Na distopia de Orwell em 1984, o duplipensar (duplipensamento) mantém o estado de guerra mesmo que os membros do Partido Interno (Núcleo do Partido) saibam que ela é fictícia. Isto acontece, em sua opinião, porque: (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Eles são obrigados a continuar agindo como se a guerra fosse real.
b) Eles têm consciência de que a guerra lhes assegura privilégios.
c) Eles acreditam que a qualquer momento a guerra pode se tornar real pois têm consciência da presença do inimigo.
d) Eles têm uma fé mística de que a guerra é real e de que a Oceania vencerá.
e) Nenhuma das alternativas anteriores

QUESTÃO 02
02 – Em 1984, a guerra contínua favorece a base econômica e psicológica da sociedade hierárquica porque: (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Destrói o excesso de bens materiais produzidos e gera o medo da escassez.
b) Destrói parcialmente a capacidade de produzir bens de consumo ao gerar a necessidade da produção contínua de armas de guerra, o que por sua vez reforça crença de que a guerra é real.
c) Gera não apenas o trabalho contínuo pela destruição dos bens produzidos, mas também a militância fanática dos membros do Partido.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 03
03 – Qual o principal objetivo da guerra no mundo de 1984? Leia o trecho do livro atribuído à Confraria (nome de uma suposta resistência clandestina ao regime totalitário do Big Brother, quer dizer, do Partido Interno) que está no Anexo 1 e depois escolha a(s) melhor(es) alternativa(s): (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A guerra era funcional para a manutenção do regime e seu objetivo não era destruir os inimigos, senão mantê-los como pretexto para organizar cosmos sociais segundo padrões hierárquicos regidos por modos autocráticos.
b) A guerra real (o conflito armado e violento) não era necessária para a manutenção do regime de 1984 e sim o estado de guerra (como “assunto puramente interno”) por meio do qual podia-se justificar qualquer medida de manutenção do poder nas mãos do Partido Interno.
c) A guerra em 1984 era equivalente à paz como manutenção de um sistema de equilíbrio competitivo, a paz celebrada como coroação da guerra, não para superá-la e sim para mantê-la indefinidamente (a paz como elo de ligação entre a guerra anterior e a próxima guerra).
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 04
04 – No capítulo 5 da primeira parte de 1984 há um diálogo entre Winston e Syme, filólogo especialista em Novilíngua (Novafala), sobre a Décima Primeira (e definitiva) edição do dicionário do novo idioma. Ao comentar a obra, Syme diz: “- Estamos dando à língua a sua forma final – a forma que terá quando ninguém mais falar outra coisa. Quando tivermos terminado, gente como você terá que aprendê-la de novo. Tenho a impressão de que imaginas que o nosso trabalho consiste principalmente em inventar novas palavras. Nada disso! Estamos é destruindo palavras – às dezenas, às centenas, todos os dias. Estamos reduzindo a língua à expressão mais simples. A Décima Primeira Edição não conterá uma única palavra que possa se tornar obsoleta antes de 2050.” Este projeto indica que: (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Há uma clara preocupação por parte do Partido com a simplificação da linguagem, visando uma maior dinâmica da comunicação e diminuindo as diferenças sociais manifestas no uso de estruturas inúteis da língua.
b) Como a Ocêania é um estado de grandes dimensões, faz-se necessária uma normalização da língua para que conflitos sejam evitados.
c) O Partido deseja aumentar a participação política e para isso simplifica a língua, permitindo que cidadãos menos cultos e eruditos possam participar de decisões políticas em condições de igualdade.
d) O controle da língua e das linguagens facilita o controle do pensamento. A redução das expressões e de suas possibilidades de recomposição diminuem a capacidade de reflexão e de articulação dos indivíduos, e compõem um complexo sistema de domínio das ideias.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 05
05 – No livro 1984 de Orwell não encontramos – como em obras lidas nos outros módulos – o uso sistemático de drogas, nem uma descrição precisa de procedimentos educativos condicionantes, mas notamos claramente um controle social baseado na obediência, na alienação e no medo. Quais mecanismos são utilizados pelo Partido Interno para assegurar a estabilidade deste sistema? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) O Partido não precisa mais controlar os indivíduos. A situação de violência alarmante em que vivem as pessoas faz com que elas desejem espontaneamente um sistema de controle que lhes mantenha protegidas.
b) Os indivíduos sentem-se satisfeitos com as condições em que vivem, além de poderem se reconfortar através do uso de drogas leves, como o gim e o tabaco, em situações de instabilidade emocional.
c) O partido controla a sociedade através da manipulação das informações e da manutenção de um estado permanente de guerra, impondo através das teletelas e dos rituais (como o minuto e a semana do ódio), as notícias e ideias que lhe convêm, incutindo nos indivíduos a sensação de medo, desconfiança e insegurança.
d) O exercício do duplipensar (duplipensamento), “capacidade de abrigar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias e acreditar em ambas” permite que o intelectual do Partido saiba que sua memória precisa ser alterada, que a realidade está sendo manipulada e ao mesmo tempo se convença que ela não está sendo manipulada. Através deste “logro mental” o partido consegue controlar os indivíduos mais bem informados, fazendo com que sejam também “os que estão mais longe de ver o mundo como ele é”. Já os “proletas”, não precisam ser controlados, pois são incapazes de perceber o que acontece de se mobilizar socialmente.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 06
06 – Em que medida pode-se afirmar que o principal fundamento da distopia imaginada por Orwell em 1984 era o duplipensar (duplipensamento)? Examine as duas definições orwellianas de duplipensar que estão no Anexo 2 e escolha a(s) melhor(es) alternativa(s): (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Sim, sem o duplipensar (duplipensamento) não seria possível manter a ditadura do Grande Irmão (quer dizer, do Partido Interno) pois as pessoas, mais cedo ou mais tarde, descobririam que a realidade estava sendo continuamente falsificada.
b) Sim, o regime monstruoso de 1984 não teria a menor estabilidade sem a inoculação dessa infecção da razão pela qual a violação da lógica era rigorosamente lógica, justificando qualquer ação de interesse do partido se manter no poder.
c) Não, o principal fundamento da distopia orwelliana é ter substituído os sonhos utópicos de igualdade, liberdade e abundância e as concessões para alcançá-los, pelo desiderato brutal, imposto por uma realpolitik levada às suas últimas consequências, sem qualquer justificativa futura, do poder pelo poder (ou seja do poder como fim em si mesmo). Como disse O’Brien, sacerdote-torturador do Partido Interno, explicando ao preso Winston, do Partido Externo, os reais objetivos do Partido no poder: “O Partido procura o poder por amor ao poder. Não estamos interessados no bem-estar alheio; só estamos interessados no poder. Nem na riqueza, nem no luxo, nem em longa vida de prazeres: apenas no poder, poder puro. O que significa “poder puro” compreenderá, daqui a pouco. Somos diferentes de todas as oligarquias do passado, porque sabemos o que estamos fazendo. Todas as outras, até mesmo as que se assemelhavam conosco, eram covardes e hipócritas. Os nazistas alemães e os comunistas russos muito se aproximaram de nós nos métodos, mas nunca tiveram a coragem de reconhecer os próprios motivos. Fingiam, talvez até acreditassem, ter tomado o poder sem querer, e por tempo limitado, e que bastava dobrar a esquina para entrar num paraíso onde os seres humanos seriam iguais e livres. Nós não somos assim. Sabemos que ninguém jamais toma o poder com a intenção de largá-lo. O poder não é um meio, é um fim em si. Não se estabelece uma ditadura para salvaguardar uma revolução; faz-se a revolução para estabelecer a ditadura. O objetivo da perseguição é a perseguição. O objetivo da tortura é a tortura. O objetivo do poder é o poder. Agora começou a me compreender?”
d) As alternativas a) e b) não são colidentes com a alternativa c): ter como fundamento o poder pelo poder – sem qualquer justificativa ou promessa, baseada num mundo futuro melhor – requer o duplipensar.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 07
07 – Quais indicadores de um modo de regulação autocrático podem ser percebidos no mundo descrito por Orwell em 1984? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A inexistência de leis. Nada era ilegal e, ao mesmo tempo, tudo podia ser ilegal, dependendo da vontade discricionária do Partido Interno (Núcleo do Partido).
b) A arquitetura monumental dos prédios estatais (que contrastavam com a arquitetura circundante), sobre do Ministério da Verdade, do Ministério da Paz, do Ministério do Amor e do Ministério da Fartura (ou da Pujança).
c) A existência de uma Polícia do Pensamento (ou Polícia das Ideias) e de crime de opinião (de ideia ou pensamento: crimidéia ou pensamento-crime).
d) O estado permanente de guerra (ou seja, de construção de inimigos – externos e internos – e a organização da sociedade pelo Estado-Partido para se defender e atacar tais inimigos, não importando para nada quem fossem tais inimigos e, nem mesmo, se eles fossem reais ou imaginários).
e) O fato de o Estado não existir como ente público e ter sido substituído pelo Partido (uma organização privada, rigidamente centralizada).
f) A alteração contínua do passado para construir e manter um falso presente eterno, sem futuro (a não ser como repetição de passado, por sua vez sempre alterado no presente). Como dizia o lema do Partido: “Quem controla o passado controla o futuro, quem controla o presente controla o passado”.
g) Nenhuma das alternativas anteriores.

Filme | 1984

Michael Radford (1984)

QUESTÃO 08
08 – O que o livro A Revolução dos Bichos de Orwell tem a ver com o filme A Revolução dos Bichos de Stephenson? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não tem nada a ver.
b) É uma boa produção cinematográfica que, no essencial, faz jus ao livro.
c) O filme é muito útil para a identificação de padrões autocráticos na distopia orwelliana.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

MÓDULO 7 – FAHRENHEIT 451

Livro | Fahrenheit 451  

Ray Bradbury (1953)

QUESTÃO 01
01 – Afinal, que tipo de sociedade a distopia Fahrenheit 451 de Bradbury quis retratar? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Escrito nos anos iniciais da guerra fria, o livro é uma crítica ao que Bradbury viu como uma disfuncionalidade da sociedade americana engolfada já pela indústria cultural e pela TV.
b) Nas suas próprias palavras, ele quis retratar “qualquer espécie de tirania, em qualquer parte do mundo, a qualquer hora, na direita, na esquerda ou no centro”.
c) O livro é apenas o resultado do desenvolvimento literário de um conjunto de ideias vagas sobre a força destruidora de pensamentos, sobre a censura dos anos 50, os incêndios de livros na Alemanha nazista e as horríveis consequências da guerra.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 02
02 – Que tipo de sociedade havia no mundo de Fahrenheit 451 de Bradbury? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não havia propriamente sociedade civil e sim famílias de indivíduos massificados morando em casas confortáveis de um subúrbio americano (tipo New Jersey) que se reuniam não para interagir livremente e sim para assistir à TV.
b) Uma sociedade de controle, totalmente dirigida pelo Estado, na qual os indivíduos atuam inclusive como agentes de segurança, como revela o trecho da transmissão radiofônica da polícia política do regime: “A polícia recomenda que toda a população da área de Elm Terrace faço o seguinte: cada pessoa em cada casa de cada rua deve abrir a porta da frente ou dos fundos ou olhar pelas janelas. O fugitivo [Montag] não conseguirá escapar se todos no próximo minuto olharem de suas casas. Preparem-se!”
c) Não havia sociedade porque não havia espaço público (comum) a não ser como conduto entre espaços privados (residências e locais de trabalho).
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 03
03 – Afinal, Fahrenheit 451 é um livro sobre a queima de livros (como símbolo da censura ao livre-pensamento) ou sobre a guerra (como organizadora de cosmos sociais autocráticos)? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) É um livro sobre a queima de livros como uma das medidas para evitar o livre-pensamento.
b) A queima de livro é uma representação simbólica da falta de liberdade de opinião.
c) É um livro sobre a guerra, tanto é assim que o personagem Granger, representante dos homens-livros (ou homens-livres) aos quais Montag se junta ao final do romance, diz: “Somos a minoria excêntrica que clama no deserto. Quando a guerra terminar, talvez possamos ser de alguma valia para o mundo”. E em seguida reafirma: “E quando a guerra terminar, algum dia, algum ano, os livros poderão ser escritos novamente, as pessoas serão convocadas, uma a uma, para recitarem o que sabem, e os imprimiremos novamente até a próxima Idade das Trevas, quando poderemos ter de começar tudo de novo”. E mais uma vez reitera: “E algum dia a lembrança será tão intensa que construiremos a maior escavadeira da história e cavaremos o maior túmulo de todos os tempos e nele jogaremos e enterraremos a guerra”.
d) É um livro sobre a guerra no sentido de que um regime autocrático como o descrito por Bradbury não poderia ser erigido e nem mantido sem guerra (ainda que o autor não entre em detalhes sobre o assunto).
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 04
04 – Quais indicadores de um modo de regulação autocrático podem ser percebidos no mundo descrito por Ray Bradbury em Fahrenheit 451? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A felicidade colocada como ideal supremo (em detrimento da liberdade) e como satisfação de todas as expectativas dos indivíduos. Como afirmou Beatty, o insólito chefe dos bombeiros: ” – Você precisa entender que nossa civilização é tão vasta que não podemos permitir que nossas minorias sejam transtornadas e agitadas. Pergunte a si mesmo: o que queremos neste país, acima de tudo? As pessoas querem ser felizes, não é certo?”. E, em outra passagem: ” – Aqui vamos nós para manter o mundo feliz, Montag!”.
b) A aversão (e a demonização) do caos social, avaliado como sinistro (“Fique com os bombeiros Montag. Tudo o mais não passa de um caos sinistro” – disse Beatty) e os fatores que pudessem introduzir o caos (como os livros, representando a pluralidade de pensamento e, sobretudo, a dúvida – que significam as trevas a impureza) deveriam ser incinerados (sublimados): “Queime tudo, queime tudo – diz Beatty. O fogo é luminoso e o fogo é limpo”.
c) A inexistência de uma sociedade civil (havia apenas uma população de indivíduos) ou a existência de uma sociedade do broadcasting controlado pelo Estado com baixíssimos graus de interatividade.
d) A ausência de política (politics), havendo apenas as policies estatais construídas e executadas de maneira centralizada e autocrática.
e) A existência de uma programação estatal autocrática, sobretudo repassada pelo broadcasting (as pessoas assistiam a mais de quatro horas, talvez diárias, de filmes educativos nas TVs gigantes instaladas em todos os lugares). O mundo de Fahrenheit 451 era uma espécie de Matrix, como ilustra o seguinte diálogo entre Clarice e Montag: ” – As pessoas não conversam sobre nada – disse Clarice. – Ah, elas devem falar de alguma coisa! – retrucou Montag. – Não, de nada – continuou Clarice. O que mais falam é de marcas de carros ou roupas ou piscinas e dizem: ‘Que legal!’ Mas todos dizem a mesma coisa e ninguém diz nada diferente de ninguém”.
f) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 05
05 – Existem paralelos que poderíamos traçar entre os cotidianos sociais retratados no livro de Bradbury e o nosso? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não. A distopia criada por Bradbury não se realiza em nenhum aspecto do nosso atual cotidiano.
b) Sim, como por exemplo a superficialidade dos relacionamentos entre as pessoas – até mesmo no ambiente familiar. A obra exagera esse aspecto, mostrando como o casal não interage verdadeiramente em nenhuma ocasião.
c) Sim, como por exemplo nos obstáculos à interação provocados por tecnologias de comunicação predominantemente do tipo “broadcasting”. Bradbury chega a antecipar em várias décadas a criação dos grandes aparelhos de TV planos e “interativos” e os receptores/reprodutores do tipo “walkman”, “iPod”, etc.
d) Sim, como por exemplo o desenvolvimento de uma “sociedade do espetáculo e do entretenimento”, onde assuntos absolutamente superficiais (como os tratados na “novela interativa” da qual Mildred participa) e os assuntos mais sérios (como a fuga do traidor Montag) são tratados no mesmo tom de “show televisivo”.
e) Nenhuma das alternativas acima.

QUESTÃO 06
06 – Embora Ray Bradbury seja classificado geralmente como um autor de “ficção científica”, ele se caracterizou por criar personagens extremamente humanos, que são o centro de todos os seus enredos. Sobre os principais protagonistas do Fahrenheit 451, podemos dizer que: (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) O Capitão Beatty é o agente repressor que representa a ideologia autocrática da sociedade distópica do Fahrenheit 451. Mesmo conhecendo a história do desenvolvimento daquela sociedade (diferente da quase totalidade da população), se convence de que ela era a ideal. Podemos encontrar correspondência de Beatty com outros personagens que já vimos em outras distopias, como o Mustapha Mond – no Admirável Mundo Novo – e o O’Brien – no 1984.
b) Clarisse McClellan – uma adolescente sensível curiosa e questionadora – personifica o desejo de liberdade, a possibilidade de compreensão e transformação social a partir de uma perspectiva humanizante: o relacionamento sincero e livre entre as pessoas.
c) Mildred Montag é a pessoa individualizada. Representa “o povo”, ou seja, a massa alienada do livre pensar e da convivência humana.
d) Granger representa a rede formada pelos marginais livre-pensantes daquela sociedade: ex-intelectuais que perderam sua função – como filósofos, literatos, escritores e pesquisadores – assim como outras pessoas que não desistiram ou descobriram a liberdade de pensamento, como Montag.
e) Guy Montag representa um homem comum que percebe, a partir da sua própria insatisfação e o contato com Clarisse, a opressão social da qual é agente, mas a que também está sujeito.
f) Nenhuma das alternativas acima.

Filme | Fahrenheit 451

François Truffaut (1966)

QUESTÃO 07
07 – O que o livro Fahrenheit 451 de Ray Bradbury tem a ver com o filme Fahrenheit 451 de François Truffaut? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não tem nada a ver.
b) É uma boa produção cinematográfica que, no essencial, faz jus ao livro.
c) O filme, de certo modo, reconstrói a história do livro, modifica um pouco seu final (ressuscitando Clarice), esconde a realidade da guerra (que aparece sobretudo no final do livro), mas – a despeito de tudo isso – é um bom material para a identificação de padrões autocráticos na distopia bradburyana.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

MÓDULO 8 – O SENHOR DAS MOSCAS

Livro | O senhor das moscas 

William Golding (1954)

QUESTÃO 01
01 – Afinal, que tipo de sociedade surgiu na ilha dos meninos de O Senhor das Moscas? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Uma sociedade primitiva, onde os garotos retornaram à situação de guerra generalizada, devido à falta de um poder que os controle.
b) Não podemos falar de sociedade, pois a tentativa de estabelecer uma dinâmica democrática é frustrada pela necessidade de alimento, o que leva os garotos a serem guiados por seu instinto de sobrevivência. A sociedade e a cultura são valores que só podem ser cultivados em situações estáveis.
c) Ao reproduzir exatamente as práticas vividas em sua sociedade de origem, os garotos reproduzem um sistema hierárquico e combativo, baseado no medo e na construção de inimigos, sendo levados a uma situação violenta, semelhante àquela na qual viviam antes da fuga e do acidente.
d) Não havendo instituições, não pode haver uma sociedade. Os garotos tentam estabelecer uma instituição democrática, a partir das assembleias e da nomeação de líderes, mas a falta de acúmulo histórico impede o sucesso de sua realização.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 02
02 – Quais elementos levam os garotos da ilha ao estado de violência que eles estabelecem? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A presença de alguns poucos “maus” indivíduos que, interessados em obter privilégios, manipulam os demais garotos, fazendo-os agir de forma alienada.
b) A luta pelos instrumentos (óculos, faca) necessários à sobrevivência na ilha e monopolizados por um pequeno número de pessoas.
c) A luta pelo território e a escassez de alimentos.
d) A pré-configuração das relações entre os garotos, estabelecidas de acordo com os modos sociais aos quais estavam habituados (assembleia, criação de líderes, divisão de funções, organização das ações), leva à reprodução de práticas que estabelecem entre os indivíduos relações autocráticas, baseadas na criação da escassez (necessidade de carne, onde há abundância de frutas, necessidade de proteção contra o “monstro”, divisão de território) e no medo.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 03
03 – Quais indicadores de um modo de regulação autocrático podem ser percebidos na ilha do Senhor das Moscas de William Golding? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A existência de liderança centralizada, gerando o surgimento de uma contra-liderança e, consequentemente, uma bipolarização estiolante para o capital social (destruidora da cooperação).
b) A existência de um modo de regulação participativo (assembleia) altamente vulnerável ao controle e incapaz de se proteger de dissensões.
c) A produção artificial de escassez promovida pelas facções em luta (possuídas por uma vibe guerreira).
d) O fato de os meninos reproduzirem os padrões de organização e os modos de regulação da sociedade hierárquico-autocrática onde viviam, que fica claro na pergunta-lamento do Porquinho (no filme): “Fizemos tudo como os adultos, como pode dar errado?”
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 04
04 – Na sua opinião, qual a razão para encontrarmos em “O senhor das moscas” uma situação onde um grupo formado apenas por garotos encontra-se isolado em uma ilha deserta, depois de um acidente ocorrido durante uma fuga de uma região em guerra? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Este é apenas um recurso literário, não tendo importância na narrativa. Se fossem adultos em uma cidade qualquer o livro teria o mesmo efeito sobre os leitores.
b) O autor está trabalhando com as imagens de isolamento constantes nas utopias e distopias, o fato de serem crianças é um apelo emotivo.
c) Ao tratar de um lugar “selvagem” e de crianças, o autor suspende as justificativas recorrentes de que as ações humanas estão determinadas pela história, abrindo o campo de possibilidades de organização e de interpretação dos fenômenos sociais.
d) O autor está tentando imaginar uma situação possível diante de um mundo em guerra, e constrói um quadro muito próximo da realidade, descrevendo o que seria vivido de fato caso um acidente deste tipo ocorresse.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

Filme | O senhor das moscas

Peter Brook (1963)

QUESTÃO 05
05 – O que o livro O Senhor das Moscas de William Golding tem a ver com o filme O Senhor das Moscas de Peter Brook? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não tem nada a ver.
b) É uma boa produção cinematográfica que, no essencial, faz jus ao livro.
c) Nenhuma das alternativas anteriores.

MÓDULO 9 – UM DIA NA VIDA DE IVAN DENISOVICH E O CÍRCULO DO PODER

Livro | Um dia na vida de Ivan Denisovich   

Alexander Soljenítsin (1962)

QUESTÃO 01
01 – Os campos de trabalho forçado na ex União Soviética foram restabelecidos em 1943 e substituídos em 1948 pelos campos especiais retratados no livro de Soljenítsin. Em que consistiam?
(Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Eram, simplesmente, prisões para separar da sociedade os dissidentes, os opositores, os críticos ou qualquer pessoa que, potencialmente, pudesse – aos olhos do Partido – vir a ser algum dia dissidente, opositor ou crítico.
b) Eram apenas campos de concentração, voltados ao extermínio de inimigos do regime, tais como os campos nazistas.
c) Os campos especiais eram uma máquina infernal de quebrar pessoas, não principalmente pela tortura e pela violência física (embora isso também houvesse) e sim pela manipulação programada da escassez de recursos sobrevivenciais: sobretudo a escassez de comida, a escassez de roupas e aquecimento e a escassez de tempo livre para fazer qualquer coisa.
d) Os campos especiais eram uma espécie de usina de sofrimentos para espalhar subterraneamente o terror: seu objetivo não era matar as pessoas e sim deixá-las sair após longo período de provação. A pessoa assim modificada ou quebrada pela rotina demoníaca do campo virava agente de uma rede surda de contaminação (vetor de uma espécie de epidemia do medo) dissuadindo, por dentro da sociedade (em geral por conexões íntimas, peer-to-peer) quaisquer iniciativas de contradizer as diretivas do Partido.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 02
02 – O tenebroso esquema de controle estabelecido no campo era baseado numa deformação dos fluxos interativos da convivência social (para desarticular a rede ou exterminar capital social): as aglomerações (clustering) estavam predeterminadas de sorte a transformar cada preso em um agente do campo (um repressor do próximo e, no limite, um delator), reduzindo drasticamente os níveis de confiança social. Se você concorda com a afirmação acima, escolha a passagem do livro que melhor descreve esse processo.
(Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) “A gente poderia ficar pensando: para que um zek (interno) fica dando duro dez anos seguidos? Só que não dá. E é para isso que inventaram a brigada. Ah! a brigada não é como em liberdade, onde eu recebo o meu salário do meu lado e você recebe o seu. Não mesmo: uma brigada de campo é um sistema para que não seja a administração que tenha que fazer os zek suarem, mas que cada zek obrigue o outro a trabalhar. Aí é simples: ou todo mundo ganha ração suplementar, ou todo mundo se prejudica junto. Por causa do merdinha que não quer fazer nada, eu vou ter que eu, eu, ficar sem comer? Nada disso, camarada! Vamos trabalhar!”
b) “O inimigo de verdade do preso é o seu colega preso. Se os zek não fossem uns cachorros uns com os outros… [Nesse caso, os chefes não teriam mais condições de mandar neles.]”
c) “Teve um tempo que o comandante do campo tinha ainda feito um regulamento… que dizia que nenhum preso devia circular sozinho. Onde dava, as pessoas deviam ir em coluna por brigada. E quando não dava, por exemplo, para a enfermaria ou para o banheiro, precisava formar destacamentos de quatro ou cinco e designar para cada um deles um chefe de destacamento que levava os homens em fila até o destino deles, esperava que eles acabassem e trazia de volta, sempre em fila indiana”.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 03
03 – Examine a seguinte passagem do livro de Soljenitsin: “Durante essa recontagem da volta, de noite, na porta do campo, depois de um dia inteiro de vento, no frio e de barriga vazia, o zek (interno) só pensa numa coisa: a sua concha de sopa fervendo. Ele espera por ela como a terra espera pela chuva num verão de seca. Ele tomaria aquela sopa num gole só. Essa concha, nessa hora, ela dá mais valor para ela do que para a liberdade, do que para a vida, do que para toda a sua vida de antes e de depois. Quando o zek atravessa a porta do campo, ele é o soldado que volta da batalha: grita, vira cambalhota, solta o fogo de Deus, e é melhor sair de baixo!” Qual o elemento do trecho acima lhe parece mais relevante para explicar o processo de modificação da pessoa operado pela máquina infernal que é o campo especial stalinista?
(Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A produção artificial de escassez (no caso, de comida e de proteção para o frio) como mecanismo de controle total da pessoa.
b) A redução do ser humano a um ser de carecimento a tal ponto que a liberdade passa a não ter mais relevância (por exemplo, diante da comida e do calor).
c) Uma operação sobre as emoções (uma espécie de reengenharia emocional) que visa, na verdade, produzir um outro tipo de ser humano, capaz de um emocionar vigoroso, agressivo, porém não-tipicamente humano.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO 04
04 – Quais indicadores de um modo de regulação autocrático podem ser percebidos no campo especial retratado por Soljenitsin?
(Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) O controle das pessoas pelo trabalho, inclusive pelo trabalho inútil (o trabalho pelo trabalho, o trabalho como pena, fardo para disciplinar os corpos e moldá-los segundo as pretensões do Partido).
b) O controle rígido do tempo, fracionando a vida dos internos em horas predeterminadas para determinadas atividades (mesmo que as agendas não tivessem qualquer sentido além de expropriar das pessoas parte considerável de sua própria vida).
c) O controle dos espaços, com numerosas delimitações onde seria possível uma pessoa estar ou se locomover.
d) O controle da interação, impondo clusterizações forçadas (grupos de quatro, grupos de sete ou de qualquer número predeterminado, esquadrões e divisões) para qualquer atividade, desde a ocupação dos alojamentos, passando pelas brigadas de trabalho até a alimentação no refeitório.
e) A hierarquização completa de todo pessoal administrativo do campo e de seus auxiliares, com o uso dos próprios detentos para vigiar, delatar e punir os outros internos.
f) O detalhado regulamento (havia regras para tudo, inclusive para o uso de ferramentas e o tempo em que cada trabalhador-forçado poderia ficar com cada uma, mesmo que fosse para o trabalho ao qual foi designado).
g) Nenhuma das alternativas anteriores.

Filme | O círculo do poder

Andrei Konchalovsky (1991)

QUESTÃO 05
05 – O que o livro Um dia na vida de Ivan Denisovich de Alexander Soljenitsin tem a ver com o filme O Círculo do Poder de Andrei Konchalovsky?
(Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Não tem nada a ver.
b) Tem tudo a ver, pois o filme retrata o pequeno círculo formado em torno do ditador Stalin que comandava com mão de ferro um regime que não admitia nenhuma contestação ou crítica e que segregava os opositores em campos de concentração.
c) Factualmente o filme não tem a ver com o livro, mas explica – pelo menos em parte – como foi possível manter um regime ditatorial por tanto tempo: a autonomia do inner circle (o núcleo duro do regime, formado em torno do chefe), que podia, no limite, fazer qualquer coisa.
d) Os trabalhos forçados, suprimidos em 1917, foram restabelecidos em 1943 e substituídos em 1948 pelos campos especiais do tipo do descrito pelo livro de Soljenitsin. Este é exatamente o período da maior repressão stalinista retratada no filme de Konchalovsky.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

MÓDULO 10 – DUNA

Livro | Duna  

Frank Herbert (1965)

Filme | Duna

David Lynch (1984)

As questões foram transformadas numa dissertação sobre padrões autocráticos percebidos no livro e no filme.

A construção de uma alternativa democrática no Brasil

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